Kraftwerk perde processo contra sample de “Metal on Metal” e justiça alemã reconhece importância do sampling

Jade Gola
Por Jade Gola

O Kraftwerk perdeu na semana passada um processo que se arrasta há quase 20 anos nos tribunais alemães. A icônica banda alemã processava o produtor Moses Pelham por um sample de 2 segundos de “Metal on Metal”, utilizado na faixa “Nur Mir”, da rapper alemã Sabrina Setlur, lançada em 1997.

A decisão se deu na suprema corte da Alemanha, após uma vitória inicial do Kraftwerk em tribunais menores. O sample percussivo, quase imperceptível, é parte da composição de “Nur Mir”. A defesa alegou que o sample era muito pequeno e levou a uma criação independente de uma nova música, onde o valor econômico da faixa original do Kraftwerk não foi prejudicado nem diminuído. Mais importante, a alta corte alemã reconheceu que o sample é uma técnica essencial ao hip hop, e que o gênero não sobreviveria se essa prática fosse banida.


É uma notável derrota para a banda hoje comandada apenas por Ralf Hütter, famosa por seu controle rigoroso de copyright e de propriedade intelectual. “Planet Rock”, faixa de 1982 do Afrika Bambaataa & the Soulsonic Force que é considerada pioneira do hip hip, recriou em sintetizadores melodias e efeitos das faixas “Trans-Europe Express” e “Numbers”, do Kraftwerk. A banda alemã nunca foi creditada, e a faixa só foi liberada após um acordo judicial que envolveu “muito dinheiro”, como lembrou o produtor Arthur Baker.

Em 2008 o Kraftwerk pediu judicialmente para que a banda inglesa Kling Klang mudasse de nome, pois este era o título de seu famoso estúdio. E mais recentemente, em 2015, Ralf Hütter e seus advogados foram para cima de uma empresa alemã que queria chamar um novo carregador de celular de “kraftwerk” (o termo significa, em alemão literal, “estação de energia”).

A derrota do Kraftwerk neste processo não deve abrir precedentes legais para a total abolição de um uso desenfreado dos samples, já atestam alguns especialistas. O sample em “Nur Mir” era sutil ao não reproduzir a identidade do som kraftwerkiano. Mas vale lembrar que ano passado Robin Thick & Pharrell Williams foram condenados a pagar US$ 7.2 milhões por copiar literalmente Marvin Gaye em “Blurred Lines”, hit de 2013 .

A vitória neste último caso do Kraftwerk fica no reconhecimento da justiça de que o sampling é parte essencial do hip hop.