Karen Cunha, a mina que manda no SP na Rua, conta como rolou a escolha das atrações deste ano
Fotos I Hate Flash
Se você, como eu, esteve no SP na Rua em 2015, já deve estar com palpitação pra que sábado (10) chegue logo e você se jogue naquela maratona linda de festas organizadas – e bafônicas – pelo centrão de São Paulo. Se você perdeu no ano passado, agora não tem desculpa, tamos te avisando. Ao contrário do que alardeiam por aí, o evento foi pacífico, delicioso, organizado e muito plural.
Realizado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, o SP na Rua reúne coletivos, núcleos e artistas em ruas e pontos históricos do centro antigo, marcando a abertura do calendário do Mês da Cultura Independente (MCI).
Este ano, a Secretaria recebeu quase 300 inscrições de entidades festeiras e peneirou 57 labels, que serão divididos entre 25 espaços e ações itinerantes, somando mais de 10 horas de música, projeções, instalações e intervenções artísticas.
Os palcos estão divididos assim:
MAMBA NEGRA + Carlos Capslock
Metanol FM + Caldo
dsviante + Dûsk
MEL + Free Beats
Calefação Tropicaos + VENGA, VENGA
Selvagem + ODD
VAMPIRE HAUS by casal belalugosi + Tela Bruta
Boteco Pratododia + Pilantragi
BAQUIRA SISTEMA DE SOM
Coletivo Sistema Negro + BATEKOO
Estúdio Lâmina + Tsunami Coletivo + Distúrbio Feminino
Reação Hip Hop + Coletivo Ocupa PL
Trance de Rua + Batata Eletrônica
Roda de Sample + Áudio Insurgência + Síntese + Komoin
High Public Sound
Dubversão Sistema de Som
QUILOMBO HI FI + Djanguru Sistema de Som
SP Dub Club: Leggo Violence Sistema de Som + JZ Sound System Roots Phavella
Intervenções
AVAV
Canvas
Labluxz_
Vídeo Guerrilha
Bólide Luminoso
SP Código aberto
Piscina Regan no Deserto
Cabaret Voltaire + Feira das Vaidades
Bicicloteca
Este ano, a Secretaria teve a ajuda de “infiltrados” do rolê, ou seja, gente atuante no mercado de festas itinerantes. Foi formada uma comissão curadora composta por Akin (Metanol), Cashu (Mamba), Joana Franco (Dsviante) e Raoni Fulone (High Public), além da diretora de eventos da Secretaria de Cultura, Karen Cunha. Foi com ela que a gente bateu um papo pra tirar todas as dúvida sobre o evento.
Music Non Stop – Como será o SP Na Rua este ano?
Karen Cunha – As duas primeiras edições do SP Na Rua tiveram curadoria da gente mesmo, pois tinham poucos coletivos atuando e a gente chamou basicamente todo mundo. Felizmente a cena cresceu, e no ano passado surgiu a necessidade de ter um canal pra receber propostas e um grupo pra ajudar a avaliar.
Este ano abrimos um chamamento para projetos e chamamos uma comissão curadora composta por Akin (Metanol), Cashu (Mamba), Joana Franco (Dsviante) e Raoni Fulone (High Public) e eu. Foram quase 290 inscritos, quase quatro vezes mais que o ano passado. Fizemos de tudo pra contemplar o máximo de gente possível, de modo que neste ano todas as pistas serão compartilhadas por pelo menos dois coletivos. Até por conta disso acho que esta será a melhor edição de todas. Mais coletivos, mais artistas, mais programação…
Music Non Stop – Quais foram os critérios de seleção para escolher os núcleos de festas participantes?
Karen Cunha – Os critérios variam de ano pra ano de acordo com o que está acontecendo na cidade. Neste ano, resolvemos priorizar os grupos que mais fizeram festa na rua de forma independente nos últimos 12 meses. Porém, não tínhamos como não levar em consideração o fato de que alguns coletivos que não foram tão atuantes no último ano tiveram uma trajetória marcada por muitas festas, muitas caixas carregadas nas costas e muito menos apoio do que os coletivos que estão começando agora.
Music Non Stop – Há incertezas sobre o futuro de projetos iniciados na gestão Haddad, SP na Rua sendo um deles. Qual legado vocês acreditam que irão deixar?
Karen Cunha – O SP na Rua é parte do MCI (Mês da Cultura Independente), projeto que completa 10 anos este ano, ou seja, se manteve por três gestões (Serra, Kassab, Haddad) e se fortaleceu muito na do prefeito Fernando Haddad. Se você olhar a programação dessas 10 edições dá pra enxergar a cena cultural independente mudando ao longo dos anos. Peguei o folder de 2006 e me lembrei de quando as galerias de arte (como a Galeria Vermelho, por exemplo) começaram a abrigar pequenos lives de música experimental, as casas noturnas estavam dando espaços para as bandas independentes (como o Juke Joint, OUTS, Milo Garage) e tinham também os espaços alternativos que eram praticamente incubadoras de projetos como o Espaço Impróprio.
Tudo isso estava lá representado na programação: os shows do Carlos Issa, Hurtmold, o debate entre o Ralf (do Chrystian & Ralf) com a Verdurada (sério, isso aconteceu e foi incrível rs) entre outras coisas. Em 2010, assim como a cidade, o festival começou a ir pra rua e de lá não saiu mais. A festa de abertura (em parceria com a Voodoohop e Goethe Institut) foi na sacada da Trackers virada pra Avenida São João e durou a madrugada toda. Naquela época era impossível conseguir autorização pra fazer uma pequena festa na rua sem que a Secretaria de Cultura tivesse que intermediar. Isso mudou completamente e espero que seja pra sempre.
Logo no começo desta gestão fizemos uma articulação com algumas Subprefeituras no sentido de sensibilizá-las em relação às festas, essa proximidade entre elas e os coletivos aumenta a cada dia e se transforma num aprimoramento dos processos. Cada uma tem as suas regras, mas os procedimentos são muito simples. Mudamos uma “chavinha” em que evento deixou de ser um inconveniente e passou a ser parte da cultura do paulistano. E não falo só do centro, isso acontece na periferia também. Aliás, pouco se fala disso, mas diminuiu drasticamente o número de reclamações em relação aos “pancadões” depois que desburocratizaram as autorizações. Sabendo onde as festas acontecem fica mais fácil negociar horários, locais e demais questões. Se dá pra fazer a festa num lugar que não atrapalhe os vizinhos e nem o trânsito, por que não fazer? Todo mundo sai ganhando.
Ficou mais fácil enxergar os problemas de forma mais ampla e enfrentá-los.
Outro legado, que vai nessa mesma linha de ir pra rua, foi o Carnaval. Ninguém botou muita fé no começo, mas não tem como negar que nosso Carnaval de rua já é um dos maiores do Brasil.
ESTAS FOTOS VÃO FAZER VOCÊ QUERER PASSAR O CARNAVAL 2017 EM SÃO PAULO
Music Non Stop – Como você vê a evolução da noite em SP nos últimos anos?
Karen Cunha – Acho que a noite cresceu tanto que invadiu inclusive o dia. Há uns 15 anos, quem quisesse ouvir música eletrônica tinha poucas opções de clubes e festas. Hoje em dia temos uma maior variedade de casas e de festas noturnas. Desde aquela num galpão abandonado até espaços mais sofisticados. Gostem ou não, São Paulo é isso, né? Em 2014, a CNN fez um ranking que nos revelou como a quarta melhor noite do mundo. Certeza que já ultrapassamos isso.
Music Non Stop – Em 2014, se não me engano, houve uma movimentação em torno de uma série de seminários sobre a noite. Essa ideia não chegou a vingar, por que você acha?
Karen Cunha – O seminário aconteceu em março de 2014 na Mário de Andrade. Foi uma discussão bem interessante. É muito difícil reunir as pessoas que trabalham com festas. Mas tô sentindo que está rolando uma articulação e uma maior interação neste momento. Acho isso vital, pois tem muita coisa a ser mudada. A começar pelas leis que regem os eventos e casas noturnas.
Music Non Stop – Comentaristas de internet criticaram o fato de a Virada Cultural deste ano não ter dado muito espaço para a música eletrônica. O que você pode dizer sobre isso?
Karen Cunha – Olha, pode até ter diminuído um pouco em relação a 2015, em que fizemos uma super ocupação de festas no Parque da Luz (até porque o perímetro da Virada no centro diminuiu), mas não em relação ao histórico da Virada desde a sua primeira edição.
Antes a música eletrônica na Virada se resumia a duas ou três pistas, onde um curador selecionava os DJs. Hoje os curadores são variados e isso impacta na diversidade dos formatos. Ano passado, por exemplo, tivemos pela primeira vez um palco dedicado aos lives de música eletrônica, onde tocou de Strobo com Marina Lima a Erica Alves e Grassmass. A música eletrônica cresceu, deixou de ser gueto, contaminou tudo. Até no palco TEST, que supostamente era um palco de metal, tinha uma tenda com música eletrônica experimental. Teve eletrônico na pista de música brasileira, no palco latino, na Voodoohop, Tela Bruta, CANVAS, na Freebeats (aliás, nem tenho palavras pra descrever o que foi o DJ Marky tocando no meio da madrugada), enfim por toda parte. Isso sim é algo irreversível e definitivamente uma grande conquista da música eletrônica.
Music Non Stop -Você esteve em Barcelona recentemente. Como compararia a noite de SP com a de lá?
Karen Cunha – A noite de Barcelona é bem tradicional e focada nos clubs mesmo. Já fui outras vezes pra lá e acho a nossa noite bem mais ampla e com muito mais variedade. Estive também recentemente em Lisboa e fiquei muito impressionada com as festas de ruas. Era festa de Santo Antônio e tinha festa por toda parte. Desde a quermesse da igreja, o sistema de som de Kuduro dos imigrantes, passando pelas festas de música eletrônica (que por sinal tinham vários convidados brasileiros). Assim como em São Paulo, Lisboa é um dos únicos lugares da Europa onde é permitido fazer festa na rua. Sem contar que em boa parte do mundo é proibido beber em locais públicos, como o caso da Espanha, Estados Unidos (quase todos os Estados), Inglaterra, México e muitos outros.
Ouça a playlist que a gente fez com os artistas que tocam no SP na Rua
Sábado (10/9) a partir das 20h
Para acesso ao evento, utilize as estações Sé (linha Vermelha), São Bento (linha Azul) e República (linha Amarela) do metrô