Joyce Muniz comenta detalhes sobre o novíssimo e criativo álbum Zeitkapsel
Joyce Muniz segue dando orgulho ao Brasil lá fora com um projeto cheio de dinâmica, pessoalidade e participações especiais de nomes como Roland Clark e Fritz Helder
Cápsulas do tempo são memórias de um grupo, uma sociedade, um fator humano que pretende guardar objetos que representam um determinado período do tempo para serem revistos anos mais tarde. Neste sentido, Joyce Muniz fez uma cápsula do tempo do jeito dela, e esta cápsula inclui uma carreira de décadas na música eletrônica, que tornou-se atemporal por sua consistência e ascendência. Melhor ainda: tudo em forma de música.
O álbum “Zeitkapsel” é esse mencionado conjunto de vivências traduzidas em beats de Joyce Muniz. Desta forma, a DJ, produtora, MC e cantora brasileira radicada na Áustria e baseada em Berlim pode seguir construindo o seu legado com toda a inventividade que a fez ser reconhecida desde o começo do milênio. São 11 faixas percorrendo vários vértices da música eletrônica, do trip hop e deep house até o house e indie dance.
“O álbum tem um significado muito especial para mim, porque sempre tive a ideia de produzir um álbum contando de alguma forma toda a minha carreira musical, mas como produtora e amante da música. E, por causa da covid, finalmente tive tempo para navegar e ouvir um pouco minha coleção de discos e, acima de tudo, muito importante, finalmente tive tempo para experimentar um pouco na área técnica. É uma maneira completamente diferente de produzir uma faixa de house do que de produzir uma faixa de hip hop, e finalmente tive tempo para experimentar as coisas e, sim, foi uma ótima experiência, especialmente porque cada faixa do álbum é como um primeiro esboço, então não tive que fazer vários esboços e acabar decidindo por um”
Além de todo o ecletismo que pauta o trabalho de uma forma bastante explícita, Joyce Muniz conseguiu uma lista imponente de participações para “Zeitkapsel”. Algumas delas são surpreendentes, como a collab com Roland Clark na faixa “Imagine”. Este DJ e produtor americano, dono dos hits “I Get Deep” e “What da Fuck”, é considerado um ícone da dance music, a ponto de ter sido convidado para trabalhar com Fatboy Slim, Mark Knight, Todd Terry e Bob Sinclar.
O restante do riquíssimo rol de participações do álbum só faz denotar a amplitude criativa e a alçada de Joyce Muniz na música, a exemplo de “Grey Skies”, com a rapper LeCiel, “The Rhtyhm is Love”, produzida junto ao canadense Fritz Helder, e “How I Feel”, com Play Paul – cantor e produtor francês, irmão mais novo de Guy-Manuel de Homem-Christo, metade do Daft Punk. Também fazem parte desse time o rapper Le3 bLACK e o cantor Karl Michael.
“Como sou vocalista, não foi difícil para mim encontrar os recursos certos. Eu já tinha os vocais em mente quando estava criando a faixa, então é claro que esses ótimos recursos surgiram com Play Paul, Roland Clark, Le Ciel, Le Black. Embora eu tenha cantado em minha própria produção pela primeira vez, sempre quis fazer uma faixa de eletro e samba, e foi assim que surgiu Arrivederci Bella. Para mim, também foi muito importante que cada cantor e compositor se sentisse livre! Deixei que cada um trouxesse sua própria mensagem, e o mais importante era manter o clima positivo e vibrante. Também tive sorte de estar produzindo o álbum durante a covid, porque a maioria dos artistas estavam disponíveis para colaborar”
Segundo ela, chafurdar partes importantes da sua coleção de discos, que guarda os sons de artistas de referência para ela, em especial o “Goodbye Country (Hello Nightclub)”, do Groove Armada, foi o modo de operar neste processo criativo. Não demorou muito para que ela se reconectasse com o electro de DJ Hell, o drum n’ bass de Calibre, o experimentalismo do conterrâneo Amon Tobin e o espírito inovador do Massive Attack. Apesar disto, a ideia foi se inspirar em tais referências, apenas para criar uma sonoridade essencialmente compatível com ela.
“Zeitkapsel” já vinha em bom ritmo de divulgação há certo tempo – foram quatro singles divulgados antes do lançamento completo do LP. Na ordem, o primeiro single foi “In Der Nacht”, um indie dance vibrante e dinâmico, com a atitude noturna que se percebe em cenas como a de Berlim e um clipe oficial traduzindo essa pegada. Em seguida, “Arriverdeci Bella” flerta sutilmente com a percussividade do samba e com synths hipnóticos bem clubber.
Para o terceiro single do projeto, “Bangalore Girl”, Joyce imprimiu uma aura oriental ao drum n’ bass. Após isso, no quarto e último single, “How I Feel”, pelo qual ela e Play Paul trafegam em um house otimista, remetendo aos sons que impulsionaram Joyce em seus primeiros anos de carreira, nos anos 2000. Tudo com uma capa lindíssima e pirada, com direito a escadas de Penrose, espelhos e uma versão digital de Joyce.
“Estou muito feliz com o resultado do álbum, meu objetivo é, obviamente, que todos que o ouvirem tenham pelo menos uma favorita. Eu adoro todas elas. ‘Never Brushing the Sound’ é, sem dúvida, uma das minhas favoritas, a mistura de trip hop, low tempo, hip hop, a guitarra e os vocais incríveis de Le3 bLACK… é uma das faixas mais políticas do álbum, por isso foi muito importante trazê-la à tona. Outra faixa especial é ‘JoyToy’, pois como sou nerd da música e amante de sintetizadores analógicos, eu precisava criar uma faixa que contivesse principalmente sons analógicos. ‘Arrivederci Bella’ tem um significado especial, pois nessa faixa eu trago de volta minhas raízes brasileiras (com a ajuda do meu amigo e escritor Wanderson Wanderley) de uma época em que eu estava passando por um término de relacionamento muito doloroso.
Ouça o álbum Zeitkapsel, de Joyce Muniz