Como ex-presidente dos EUA perseguiu John Lennon
Uma trama tão doida que chegou a envolver até mesmo Elvis Presley
Há exatos 50 anos, em 18 de julho de 1974, John Lennon recebia a notícia de que não poderia mais viver nos Estados Unidos. A história de que o departamento de imigração dos Estados Unidos havia negado a renovação de seu visto, impedindo assim que o músico seguisse vivendo em Nova Iorque, chocou o mundo da música e deu um luz a uma das maiores perseguições da história da cultura pop.
A desculpa para a negativa dos Estados Unidos foi um problema que Lennon teve na Inglaterra, seis anos antes, quando foi condenado a pagar uma multa por posse de maconha. Todos sabiam, e este foi o grande motivo da repercussão mundial que o caso teve, que se tratava de mais um capítulo da guerra travada pelo então presidente Richard Nixon contra o ex-Beatle. Uma história tão maluca que chegou a envolver até mesmo Elvis Presley!
Elvis, na década de 70, já estava sequelado pelo abuso de drogas e remédios. O astro estadunidense tinha viagens paranóicas de que seria assassinado a qualquer momento. Para se sentir mais seguro, encasquetou que deveria ter uma carteirinha de agente da CIA. Com isso, teria alguns privilégios em aeroportos e facilitação na compra de armas. Presley chegou a ficar plantando por diversas vezes no portão da Casa Branca, exigindo ser recebido por Nixon.
Na mesma época, Lennon era a persona mais non grata dentro dos Estados Unidos. Um “inglesinho enxerido” que protestava publicamente contra a guerra do Vietnã, com ações que resultavam em repercussão mundial, como passar dias deitado em sua cama ao lado de Yoko Ono, rodeado por jornalistas e fotógrafos dos principais veículos de comunicação. Mais do que isso, o músico era anti-Nixon até a última unha do dedão do pé. Participou ativamente contra sua reeleição em 1972, sem sucesso, e ganhou com isso a sua antipatia.
Usando o desespero psiquiátrico de Elvis, que exigia um cargo fictício na CIA, Nixon pediu ao cantor que “espionasse” John Lennon, grande fã do cantor americano. Testemunhas da reunião entre o presidente e Presley alegam que ambos nutriam ódio pelos Beatles, grupo que, segundo eles, incitava pensamentos “antiamericanos”. Não há evidências, porém, de que Elvis teria efetivamente tentado algum tipo de espionagem contra John Lennon.
Mas o ex-Beatle estava ciente da ojeriza que o presidente do país em que vivia sentia por ele e sua antiga banda. Vivia declarando que seu telefone estava grampeado e que era perseguido na rua por agentes à paisana. Segundo o jornalista Bob Harris, era tudo verdade: “Nixon queria pegá-lo, e é por isso que John estava ‘preso’ em Nova Iorque ou nos Estados Unidos: ele sabia que, se voltasse para o Reino Unido, nunca mais voltaria para a América. Não enquanto Nixon estivesse na Casa Branca”. Harris, que entrevistou pessoalmente John em 1975, contou a história em entrevista que deu ao podcast Rockonteurs.
John Lennon não precisou deixar o país. Lutou contra sua deportação até outubro de 1975, quando finalmente pôde permanecer nos Estados Unidos para cumprir seu fatídico destino. Cinco anos depois, seria assassinado na porta do apartamento em que morava. Richard Nixon renunciou ao cargo de presidente 20 dias após negar a renovação de visto a John Lennon, em 8 de agosto de 1974, envolvido em um processo de impeachment graças ao famoso caso de espionagem ilegal Watergate.