Japonês Kuniyuki Takahashi vem a São Paulo mostrar por que é considerado um dos produtores mais perfeccionistas da música eletrônica

Chico Cornejo
Por Chico Cornejo

Para descobrir o tipo genial que é Kuniyuki Takahashi, é inevitável recorrer ao extenso catálogo desse produtivo japonês e ver que suas criações se espalham por uma série de selos com níveis de exigência que o colocam entre uma nata de senseis que são tão raros quanto estimados. Parte central do lendário selo nipônico Mule Musiq e de muitos outros pelo mundo afora, Kuni é venerado por obras tão simples e poderosas quanto singulares. E é justamente nesse caráter único que reside o desafio de conversar com um ícone como ele, cuja arte diz tanto com tão pouco.

Por menos usual que seja vermos artistas se comunicando numa linguagem que não seja a musical, já que esse é o meio escolhido por eles para se expressarem, para estabelecer uma conexão que transmita tudo aquilo que se encontra em seu âmago para o público. Quando isso acontece, não raro há mal-entendidos, ou confusões, mesmo porque o entrevistador é sempre uma mediação, seja um intermediário entre ideias ou um intérprete de intenções, e faz o tudo a seu alcance para exprimir tudo de modo fiel ou, no mínimo, justo.

Kuniyuki Takahashi e Leonardo Ruas em loja de discos em São Paulo

Nesta conversa franca entre o japonês e o paulistano Leornardo Ruas, responsável pela vinda de Kuni a São Paulo, onde ambos se apresentam sábado (27) na festa Musica Importa Apresenta ‘tīmləs com Kuniyuki Takahashi os dois artistas que tanto possuem em comum ficaram à vontade para se abrirem e olharem um para o outro como pares.

Kuni e Leo são realmente os mais indicados para esse intercâmbio, sendo que o primeiro é um DJ dos DJs, produtor dos mais celebrados pelo mundo afora e senhor de um estilo bem particular de fazer música, o segundo é o anfitrião, tão apaixonado pela arte de seu convidado que tanto se dispôs a trazê-lo a conversar com ele como leremos a seguir.

Digging com Kuniyuki Takahashi: ele atravessou oceanos para vir tocar sábado em São Paulo, imperdível define

LEO RUAS – Quais as qualidades que você mais preza em um ser humano ou em um amigo?

KUNI – Eu acho que o mais importante é o entendimento das diferenças de caráter e de pensamento de cada pessoa. O entendimento entre as pessoas é a oportunidade de aprender o que não se sabe. E é através dessas diferenças que se podem gerar novas ideias, dá pra sentir o futuro nisso. E é por isso que acho que as diferenças e as cores (características) de cada pessoa são importantíssimas.

LEO RUAS – Quais as características dos seres humanos mais difíceis de lidar? O que você mais admira na vida cotidiana?

KUNI – Eu nunca pensei sobre isso. Acho que quando as pessoas se encontram muito ocupadas elas falham em sua comunicação. O Japão é um país muito corrido. Certamente é bom estar ocupado, mas as pessoas têm que viver como pessoas, senão elas perdem a essência e a parte importante. E acho difícil lidar com isso.

LEO RUAS – E na natureza?

KUNI – A natureza sempre muda. Nunca é igual e para uma vida na cidade, a famosa city life, isso é um grande estímulo.

LEO RUAS – Se você pudesse, que mudanças faria no mundo em que vivemos?

KUNI – Eu gostaria de construir um mundo em que o trabalho não fosse tão corrido e que as pessoas tivessem tempo de se voltar às coisas novas. No meu caso, que moro no Japão, sinto essa correria. Acho importante aprender sobre outros países, sempre me impressiono com suas maneiras diferentes de se viver e das regras. Gostaria de projetar um futuro onde todos vivessem de uma forma simples e usassem do seu tempo como desejassem.

LEO RUAS – Caso não trabalhasse com música, o que gostaria de fazer na vida?

KUNI – Que difícil! Desde criança escolhi a música, e desde então me dediquei a ela. Por isso nunca pensei muito sobre isso. Mas poderia por exemplo fazer algo que pudesse ser em prol das pessoas. No Japão temos o problema do envelhecimento da população. No futuro teremos muitos cidadãos de idade mais avançada. Seria interessante ter um projeto no qual ajudaria essas pessoas a viver confortavelmente. Um dia eu também vou envelhecer e acho isso super importante.

LEO RUAS – Qual período do dia você mais gosta: manhã, tarde ou noite?

KUNI – Eu adoro a parte da tarde pra noite. Gosto da gradatividade e fluidez da natureza. E, ao ver o pôr do sol no final do dia, não só dá para sentir uma paz nascer, mas também uma energia ressurgir.

LEO RUAS –  Qual sua comida favorita?

KUNI – Gosto muito da comida japonesa. Principalmente na minha cidade, Sapporo, que possui muitos pratos simples que levam ingredientes frescos como peixe, carne e verduras. No Japão atual tem uma sopa que é feita com a carne suína e verduras fervidas no missô que se chama Tonjiru. Eu gosto muito desse prato.

LEO RUAS – Praia, campo ou cidade?

KUNI – Todos possuem elementos maravilhosos, e a escolha é difícil. Mas na cidade de Hokkaido a natureza é rica, uma coisa corriqueira no dia a dia, então acho que gosto da cidade.

LEO RUAS – Filme, teatro ou livro?

KUNI – Os filmes são bem especiais. Assisto no meu tempo livre e gosto muito. Mas as peças, tenho que ir ao local e tem essa coisa de ser ao vivo, e por isso gosto demais.

LEO RUAS – Club (danceteria) ou festival, qual seu ambiente predileto?

KUNI – Acho que entre eles gosto do mundo da “night”, os clubes. Nos festivais há vários elementos, e não é possível realmente se concentrar na música às vezes. Mas, pra ser sincero, gosto de todos.

 
VEJA COMO FOI O SET DE KUNIYUKI TAKANASHI NO NA MANTEIGA EM SP

MÚSICA IMPORTA COM KUNIYUKI TAKANASHI
Sábado, 27, a partir das 15h
Rua Mourato Coelho, 972, São Paulo
Line-up: Rafael Moraes, KUNIYUKI TAKANASHI, Leonardo Ruas, Rafael Cancian
Preço: R$ 40 (antecipado) e R$ 60 (na porta)

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