Entrou em vigor no último dia 23 as alterações de uma rigorosa lei de 1947 do Japão, a fuzoku ou fuueiho. Datada de 1947, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, a lei definia clubes noturnos como “locais de entretenimento adulto”, exigindo a necessidade de licenças especiais e horário de funcionamento máximo até 01h da manhã.
Com a revisão de agora, clubes e casas noturnas poderão funcionar até tarde da madrugada (05h da manhã, vale frisar) se atenderem diversos requerimentos especiais.
A campanha para mudanças na lei teve apoio de músicos de diversas cenas e figurões como Ryuichi Sakamoto. Agora, donos de estabelecimentos poderão operar como Yukyo Inshokuten Eigyo (Operação Noturna de Entretenimento e Restaurantes) se estiverem localizados longe de áreas altamente residenciais, não servirem álcool (!), tiverem iluminação interna de 10 lux (mais ou menos o tipo de iluminação de uma sala de cinema com a telona desligada), espaço útil mínimo de 33 m² e portas de entrada não poderão ter cadeados, entre outros vários requerimentos.
Se para cenas menos reguladas como a de São Paulo as demandas parecem rigorosas demais, para o conservadorismo japonês não deixa de ser um alívio.
CRÍTICAS
Terre Thaemlitz aka DJ Sprinkles é famosa DJ trans de deep house, norte-americana que há anos vive no Japão e é uma forte voz sobre o estado das coisas da cena do país do sol nascente. Desde 2015 ela já vem adereçando críticas à revisão da lei fuueiho, apontando como ela serve de pretexto para aliviar a caretice japonesa só para as Olimpíadas de 2020 em Tóquio, mas mesmo assim ela segue tendo um forte aspecto moral, de controle.
Por exemplo, a revisão da lei proíbe os estabelecimentos que funcionarão até 05h da manhã de terem “fotos, anúncios e decorações que interfiram com o saudável crescimento dos jovens” (ou seja, nudez).
Essa ambiguidade dos valores morais é a base da crítica de Sprinkles. “Um dos aspectos obscuros dessa revisão é que a polícia agora terá um papel claro em definir o que constitui ‘entretenimento'”, criticou ela em ensaio na Crack Magazine. “Isso é devastador, já que as revisões não são apenas sobre o ‘direito de dançar’, mas sobre o policiamento físico e social dos corpos e seus movimentos”.
Ela frisa ainda como só os clubes grandes e endinheirados poderão se ajustar aos novos ajustes da liberação, e que os pequenos clubes, onde as cenas musicais de fato brotam em sua criatividade, continuarão ilegais e, desse modo, foram ignorados pela revisão.
(via @Fact e @Japan Times)