Entenda como James Thomas Smith se tornou um dos músicos mais cultuados de sua geração
Se alguém cruzasse com Jamie xx caminhando pelas ruas de São Paulo, ia achar que se tratava de um cara que acabou de deixar o apartamento dos pais em Higienópolis para ir até uma loja de quadrinhos comprar algumas cartas de Magic para sua coleção. Um garoto com cara de 20 e poucos anos (embora tenha 35), cabelo desgrenhado e jeito de moço bem criado. Jamais imaginaria que o carinha com que cruzou há poucos metros arrebentou na edição de 2024 do festival Glastonbury discotecando, abriu um clube em Londres, chamado The Floor, onde é DJ residente e também o programador, e lançou um álbum fenomenal, In Waves, que o consolidou no seleto time de artistas que se equilibram em cima do muro que divide o pop e o underground (leia mais sobre o LP aqui).
Jamie fez tudo isso recentemente. Antes, já havia remixado um monte de gente bacana, como Gil Scott-Heron, Radiohead e Four Tet, montou uma banda de sucesso, o The xx, e apareceu para o mundo com um prodígio da produção musical. Foi também um artista que conseguiu extrair algo de positivo da terrível pandemia de covid-19.
“Quando fiquei em casa, pude parar e pensar no que era importante em minha vida. De estabelecer limites para me dedicar ao que mais me faz bem, que é fazer música e discotecar”, disse, em entrevista ao ao podcast da Apple Music. Definitivamente (e principalmente a partir de 2022, com o final do lockdown), James Thomas Smith, seu nome de batismo, é um maluco centrado, que cuida da sua vida artística e pessoal como quem organiza seus cards para o próximo jogo. “Eu mudei o jeito de ver as coisas. Nem tenho mais celular”, continuou.
O nome artístico, Jamie xx, foi adotado depois que The xx, formado ao lado de Romy Croft (que se apresentou no último C6 Fest) e Oliver Sim, fez barulho na cena inglesa. O cara é um estereótipo (ou um modelo?) da nova geração, diferente dos artistas que vieram antes em sua cena. Comedido, de ego desinflado, nem um pouco dado a excessos. Uma turma que não vê tanta graça nem na pirotecnia rock’n’roll, e nem na melancolia da arte tristonha. Para essa galera, isso é coisa de tiozão. Tanto que a banda que levou ele e seus amigos para o estrelato está em stand-by muito mais pela vontade de criar coisas diferentes do que qualquer problema de relacionamento. São amigos. Simples assim.
Paulistanos e curitibanos terão o prazer de vê-lo discotecar neste final de semana, nas novas edições da Gop Tun (na Opera de Arame, em Curitiba, nesta sexta-feira, 25, e na Praça Das Artes, no centrão de São Paulo, no sábado, 26). Os ingressos esgotaram tão logo foram colocados à venda. Prova de que seu talento é íntimo dos brasileiros já há um bom tempo.
Jamie lançou, com o The xx, seu primeiro álbum em 2009. Junto, uma mixtape sua onde enfiava no meio da seleção alguns de seus remixes e produções próprias, para a revista FACT. Caiu nas graças da cena inglesa e recebeu, moleque, convites para remixar Florence and the Machine, Adele, Jack Peñate e Glasser. Em 2011, veio com We’re New Here, álbum de remixes feito com Gil Scott-Heron que fez um tremendo sucesso nas rádios europeias.
Logo depois, chegou a hora de aproveitar o hype para mostrar suas produções próprias: um double single com as músicas Far Nearer e Beat For. Aí vieram convites para produzir com Drake e Rihanna, remix para o Radiohead, produção para Alicia Keys… Ninguém mais parava aquela novidade inglesa com cara de bom garoto.
Foi o álbum In Colour, no entanto, de 2015, que concretou James na calçada dos grandes produtores. Chegou ao terceiro lugar nas paradas inglesas e rendeu indicações para os prêmios Mercury e Grammy. Entrou em um movimento frenético de trabalho com seus rolês solo, shows com The xx e produções para terceiros. Aí veio a pandemia. Smith parou, teve tempo, organizou a cabeça e voltou mais maduro do que nunca.
Este é o cara que alguns sortudos verão tocar no sábado em São Paulo. Trazer Jamie xx foi um gol de placa da Gop Tun.