Ivan Conti Mamão: um dos maiores bateristas brasileiros vai deixar saudades (1946-2023)

Claudia Assef
Por Claudia Assef

TEXTO MARI ROSSI

COLABORARAM TATA OGAN E MARKY

Nesta terça (18/4), acordamos com a triste notícia da passagem do grande baterista Ivan Conti Mamão aos 76 anos. Por mais que a gente saiba que ninguém é eterno, no mundo material, está sendo uma morte muito sentida por todos que admiravam a sua genialidade em diversos sentidos.

Mamão, além de ser um dos ícones da nossa música, a revolucionou em muitos momentos de sua carreira. Seja lá no início do movimento fusion jazz, passando por composições para figurões como Milton Nascimento, Gal Costa, Elis Regina, Maria Bethânia, entre tantos outros, em seu projeto solo ultravanguardista e, claro, com sua banda, Azymuth, que está completando 50 anos de carreira. Inclusive a banda estava sendo anunciada em diversos festivais europeus neste verão. A turnê Azima50 prometia ser inesquecível.

Ivan Conti Mamão e Mari Rossi no backstage de um show do Azymuth em São Paulo. Acervo pessoal

Ironicamente conheci o Azymuth comprando discos na Europa, onde sempre foram muito difundidos (graças à Far Out Records) e respeitados. De lá pra cá, me tornei uma fã incondicional desse estilo tão único da banda que soava brasileiro e universal ao mesmo tempo. Os shows por aqui eram raros, mas sempre que aconteciam, eu estava lá.

E o grande barato era o pós show, ir falar com o Mamão, era fechar o rolê com chave de ouro. Sempre muito solícito e interessado no trabalho dos DJs, nós sempre ganhávamos atenção especial, não só com direito a autógrafo em nossos discos e fotos, com direito a perguntas feitas por ele sobre onde tocávamos e o que tocávamos.

“Mais de 80% por cento dos meus discos de música brasileira foi ele que tocou bateria e percussão.
É impressionante ver em quantos discos ele colaborou. De Erasmo a Rita Lee, Odair José, Sandra Sá,
Tim Maia. E a coisa que me deixa muito triste é que nunca consegui conhecê-lo, por por incompatibilidade de agenda mesmo. Mas todo mundo sempre falou muito bem dele, que ele era um doce, uma pessoa de alma pura, de uma alegria contagiante”, disse Marky, outro grande DJ fã do Mamão.

DJ Marky Sorrindo

DJ Marky: “80% dos meus discos de música brasileira têm bateria do Mamão”. Foto: divulgação

A carioca Tata Ogan, também DJ, tornou-se amiga do baterista. “Mamão era gentileza e carinho, um dos caras mais coração que conheci na minha vida, além de ter rompido décadas na ativa com Azymuth. Lembro quando o Azymuth voltou e eles foram pra várias turnês em festivais na Europa tocar nas festas de música eletrônica. Um dos maiores bateristas que tivemos, sentar e ouvir as histórias dele foi um privilégio pra mim, muitas coisas ele nem lembrava e nós DJs sempre mostrávamos pra ele: ‘aqui, Mamão, você gravou essa’. Uma parte da música brasileira se vai, mas a sua obra é eterna e ainda vai ultrapassar décadas”, disse Tata, emocionada.

Tata Ogan, de Niterói como Mamão, foi privilegiada com as histórias do mestre. Foto: Donatinho

Acredito que essa curiosidade em conhecer os fãs e o que faziam refletiu bastante nessa constante evolução desse exímio baterista. Tanto que até hoje era atração principal em diversos festivais de música eletrônica e jazz.

Gilles Peterson bem lembrou do show que fizeram no ano passado, no festival We Out There, um dos grandes expoentes dessa mistura de DJs e bandas consagradas, onde tocaram logo após Pharoah Sanders. Ou seja, ainda tinha muita água pra rolar. Agora resta seu grande legado, com discos totalmente atemporais e únicos, que possuiem lugar pra lá de especial na minha coleção e na de muitos.

Obrigada Mamão <3

Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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