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Improviso, literatura e lançamentos: uma conversa com Rakta, que participa do Festival Não Existe

Rakta no Festival Não Existe

Rakta - foto: Felipe Gabriel

Carla Boregas, baixista de uma das mais icônicas bandas do cenário musical brasileiro, falou com o Music Non Stop sobre o show que a Rakta fará no Festival Não Existe, que será transmitido nos dias 27 e 28 de maio diretamente da Oca, no Ibirapuera.

 

Fazer arte é, no fundo, um trabalho de convencimento. Artistas são (ou, em tese, deveriam ser) dominadores da retórica. Afinal, como se convence alguém a mergulhar em um universo que só existe na sua cabeça? Como sustentar esse universo imaginário quando o caos é a regra e nada mais parece ser possível?

O Gop Tun, selo paulistano de DJs, saiu em busca dessas respostas e voltou com 2 dias de evento, 15 atrações e a seguinte afirmação: festival não existe, mas a arte sim. Durante os dias 27 e 28 de maio, uma fissura na existência tomará conta da Oca, no Ibirapuera, em transmissão ao vivo pelo YouTube. O Festival Não Existe terá 12 horas de shows raros, parcerias inéditas e pulsações sônicas. E se há banda mais adequada para encerrar essa celebração do que a Rakta, ela provavelmente ainda não deve existir.

O Music Non Stop conversou com a baixista da banda, Carla Boregas, que falou sobre os preparativos para essa apresentação, fluxos criativos durante a quarentena, literatura, filmes e o álbum ao vivo no Sesc Pompeia com o DEAFKIDS, lançado na última sexta-feira (21).

 

Rakta (da esq. para a dir.): Paula Rebellato (vocais e sintetizador), Carla Boregas (baixo e sintetizador) e Maurício Takara (bateria e eletrônicos). / Divulgação

MNS: Gostaria de começar perguntando sobre a participação de vocês no Festival Não Existe. Como está sendo a preparação e adaptação para essa apresentação online, visto que seus shows sempre foram tão viscerais e calorosos?

Carla: Para a apresentação do festival tentamos desmanchar um pouco o set que tocamos normalmente, incluindo músicas do nosso último disco, Falha Comum. Também pegamos uma estrutura de uma música que compusemos para uma trilha esse ano, e a abrimos para improvisar em cima.

MNS: Vocês já rodaram o mundo inteiro em diversos palcos importantes, mas imagino que estar na oca do Ibirapuera traz um frio na barriga extra. O que vocês esperam desse show e o que nós, espectadores, podemos esperar dele?

Carla: Quando fomos gravar a apresentação a nossa maior expectativa era em relação a acústica do espaço, por isso resolvemos ir com um set um pouco mais aberto pra entender como funcionaria com o espaço. Enquanto espectador a expectativa deve ser sempre diferente em relação a um show ao vivo, é um outro tipo de aproximação ao nosso trabalho. Uma aproximação mediada por telas e pela captação do som, algo muito diferente do nosso trabalho ao vivo onde tentamos nos conectar de forma mais pura e sincera aos ouvintes. Eu considero que num show ao vivo do Rakta os ouvintes são parte ativa do que está acontecendo ali no ambiente.

MNS: Como tem sido a produção da banda durante esse período? Seus fluxos e processos criativos foram afetados?

Carla: Nossos processos e fluxos foram bastante afetados porque tocamos muito ao vivo e viajávamos muito. Nesse último ano de quarentena produzimos algumas músicas, uma trilha para um filme de arte e também aproveitamos para rever nosso arquivo e lançar algumas gravações de shows ao vivo como o do Nova Frequência, que sairá em breve por um selo italiano, além do nosso show colaborativo com os fofuxos do Deafkids que acabou de sair em vinil!

MNS: Agora, pessoalmente, gostaria de saber o que você anda consumindo (em termos de arte, literatura, música) para atravessar esses tempos? Tem alguma indicação para nós?

Carla: Eu tenho lido os lindos poemas da Sophia de Mello Breyner Andresen, ela escreve muito sobre o mar, algo que sou completamente apaixonada. E também o livro novo do Lauro Mesquita, História de vocês, um verdadeiro reflexo dos tempos neuróticos que vivemos. Nesses tempos ouvi bastante a trilha sonora do Atlantics, da Fatima Al Qadiri, tanto o filme quanto a música me transportaram para um lugar muito específico, um lugar do sonho, do amor e do mar. E também tenho assistido filmes relacionados às temáticas indígenas, recomendaria: Piripkua, Chuva é cantoria na aldeia dos mortos, As Hiper Mulheres, Yãmiyhex – As Mulheres-Espírito.

MNS: Enquanto escrevo essas perguntas, vocês estão lançando o álbum com o DEAFKIDS. Fale um pouco mais sobre ele e sobre os próximos passos da banda – lançamentos, lives, planos de dominação mundial!

Carla: O álbum é a materialização de uma carinhosa lembrança de bons momentos, desde a turnê que dividimos, a composição do disco Forma/Sigilo (2018), que culminou nesse show no Sesc Pompéia, e também de muitas risadas. Enquanto banda, nosso plano nesse momento é olhar pro presente para poder construir um melhor futuro!

Festival Não Existe

Serviço:
A programação completa está disponível no site

Transmissão nos dias 27 e 28 de maio pelo canal da Gop Tun 
Classificação indicativa: 16 anos
Grátis

 

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