‘Há muita cura em transformar dor em dom’, diz Luíza Boê, talento da nova música BR
Mineira, criada em Vitória (ES) e atualmente morando no Rio de Janeiro (RJ), Luíza Boê lançou recentemente o EP Terramar, produzido pelo grão-mestre da nova música brasileira, Alexandre Kassin.
Luíza celebra as fusões. Em quatro faixas, traz parceria com Otto, nome central da renovação BR desde os anos 90, e ainda o erudito de Jaques Morelenbaum, parceiro habitual de uma das fases de Caetano Veloso; a guitarra de Fernando Catatau; a bateria de Domênico Lancellotti; a percussão mineira de Paulinho Santos (ex-Uakti); a guitarra paraense de Manoel Cordeiro.
Em entrevista ao Music Non Stop, Luíza diz que Terramar é força criativa para falar da relação com o feminino, com a mãe, com o desejo e cantar a própria cura.
Por que seu EP se chama Terramar e como chegou no conceito?
Luíza Boê – É um disco que aborda a relação com o feminino, com a mãe, com o desejo – é sobre cantar a própria cura, e “Terramar” é uma palavra que contempla tudo isso: terra é firmeza, contorno, corpo, terreno, raiz; mar é feminino, é sentir, é imensidão, cura, o que lava e leva. E também diz muito sobre mim, nasci nas montanhas de Minas, cresci na ilha de Vitória/ES; sou capricorniana, que na astrologia é representada por uma cabra com rabo de peixe. A capa, feita pela Flora Negri, também representa isso – é o corpo como terra, como tronco, em um mar de emoções.
Uma curiosidade é que esse nome me veio por causa da minha paixão pela poesia de Hilda Hilst e de Sophia de Mello – uma que escreve muito sobre ser terra e a outra que escreve muito sobre o mar. Eu pensava em um dia fazer um projeto unindo a obra das duas com esse nome “Terramar”, e me dei conta de que elas já me atravessam, na vida, no compor, na inspiração, então que esse disco já era “Terramar”.
O que está rolando de mais interessante na música na sua opinião?
Luíza – Algo de que gosto bastante na cena atual são as novas produções de artistas consagrados por uma galera relativamente jovem, mas que tem uma sonoridade muito própria, como o disco novo do Jorge Mautner, “Não há abismo em que o Brasil caiba”, que foi produzido pela banda Tono, que eu adoro; o “Besta Fera”, do Jards Macalé, produzido pelo Kiko Dinucci da Metá Metá, que considero uma das maiores bandas da música brasileira; a Gal que gravou o último disco, “A pele do futuro”, com Pupillo, que é da Nação Zumbi, eu adoro esses encontros na música, essa reinvenção constante que faz com que a música brasileira seja a melhor do mundo. Além dos nomes novos como Luiza Lian, Luedji Luna, Illy, Luciane Dom, Julia Mestre, que estou sempre ouvindo.
Quais são suas maiores influências?
Luíza – Artisticamente, Maria Bethânia, Otto, Céu, Arnaldo Antunes, Rodrigo Amarante, Mãeana. E como meu compor vem muito da poesia, tenho muita influência de Hilda Hilst, Sophia de Mello, Alice Ruiz e Eucanaã Ferraz também.
Qual a principal mensagem que tenta passar com suas músicas?
Luíza – Acredito que a mensagem essencial é de que há muita cura em transformar dor em dom, em beleza; transformar amor em arte.
O que tem te deixando animada?
Luíza – Ter lançado esse álbum já é algo super grandioso para mim – trabalhei com alguns dos meus ídolos, chegamos a uma sonoridade linda. E agora estou ensaiando com minha banda, animada para fazer os shows de lançamento, levar meu álbum para cada vez mais lugares.