Luíza Boê em foto de Flora Negri

‘Há muita cura em transformar dor em dom’, diz Luíza Boê, talento da nova música BR

Fabiano Alcântara
Por Fabiano Alcântara

Mineira, criada em Vitória (ES) e atualmente morando no Rio de Janeiro (RJ), Luíza Boê lançou recentemente o EP Terramar, produzido pelo grão-mestre da nova música brasileira, Alexandre Kassin.

Luíza celebra as fusões. Em quatro faixas, traz parceria com Otto, nome central da renovação BR desde os anos 90, e ainda o erudito de Jaques Morelenbaum, parceiro habitual de uma das fases de Caetano Veloso; a guitarra de Fernando Catatau; a bateria de Domênico Lancellotti; a percussão mineira de Paulinho Santos (ex-Uakti); a guitarra paraense de Manoel Cordeiro.

Em entrevista ao Music Non Stop, Luíza diz que Terramar é força criativa para falar da relação com o feminino, com a mãe, com o desejo e cantar a própria cura.

Por que seu EP se chama Terramar e como chegou no conceito?
Luíza Boê – É um disco que aborda a relação com o feminino, com a mãe, com o desejo – é sobre cantar a própria cura, e “Terramar” é uma palavra que contempla tudo isso: terra é firmeza, contorno, corpo, terreno, raiz; mar é feminino, é sentir, é imensidão, cura, o que lava e leva. E também diz muito sobre mim, nasci nas montanhas de Minas, cresci na ilha de Vitória/ES; sou capricorniana, que na astrologia é representada por uma cabra com rabo de peixe. A capa, feita pela Flora Negri, também representa isso – é o corpo como terra, como tronco, em um mar de emoções.

Uma curiosidade é que esse nome me veio por causa da minha paixão pela poesia de Hilda Hilst e de Sophia de Mello – uma que escreve muito sobre ser terra e a outra que escreve muito sobre o mar. Eu pensava em um dia fazer um projeto unindo a obra das duas com esse nome “Terramar”, e me dei conta de que elas já me atravessam, na vida, no compor, na inspiração, então que esse disco já era “Terramar”.

O que está rolando de mais interessante na música na sua opinião?
Luíza – Algo de que gosto bastante na cena atual são as novas produções de artistas consagrados por uma galera relativamente jovem, mas que tem uma sonoridade muito própria, como o disco novo do Jorge Mautner, “Não há abismo em que o Brasil caiba”, que foi produzido pela banda Tono, que eu adoro; o “Besta Fera”, do Jards Macalé, produzido pelo Kiko Dinucci da Metá Metá, que considero uma das maiores bandas da música brasileira; a Gal que gravou o último disco, “A pele do futuro”, com Pupillo, que é da Nação Zumbi, eu adoro esses encontros na música, essa reinvenção constante que faz com que a música brasileira seja a melhor do mundo. Além dos nomes novos como Luiza Lian, Luedji Luna, Illy, Luciane Dom, Julia Mestre, que estou sempre ouvindo.

Quais são suas maiores influências?
Luíza – Artisticamente, Maria Bethânia, Otto, Céu, Arnaldo Antunes, Rodrigo Amarante, Mãeana. E como meu compor vem muito da poesia, tenho muita influência de Hilda Hilst, Sophia de Mello, Alice Ruiz e Eucanaã Ferraz também.

Luíza Boê em foto de Flora Negri

Qual a principal mensagem que tenta passar com suas músicas?
Luíza – Acredito que a mensagem essencial é de que há muita cura em transformar dor em dom, em beleza; transformar amor em arte.

O que tem te deixando animada?
Luíza – Ter lançado esse álbum já é algo super grandioso para mim – trabalhei com alguns dos meus ídolos, chegamos a uma sonoridade linda. E agora estou ensaiando com minha banda, animada para fazer os shows de lançamento, levar meu álbum para cada vez mais lugares.