Gop Tun retorna de tour na Europa com a mala cheia de munição, ouça o set e leia a entrevista

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Nos anos 80, Tom Cruise proporcionou na telona momentos de extrema emoção, histeria e aventura vivendo um piloto gato no filme cult/brega Top Gun. Não tinha quem não curtisse seu Ray-Ban Aviator e aquele pega maravilhoso que ele dá na loiraça Kelly McGillis ao som do hino Take My Breath Away na melhor cena do filme.

Desde 2012, os DJs Bruno Protti (aka TYV), Fernando Nascii (aka Nascii), Caio Taborda (Caio T), Gui Scott e Vitor Kurc têm uma missão parecida: causar emoção, aventura e, por que não, histeria com seu label Gop Tun. “Quando a música transcende o ambiente das pistas e passa a ditar o ritmo da vida das pessoas, podemos dizer que se trata mais do que paixão, mas sim de um estilo de vida”, descreve o crew, uma das principais referências brasileiras em festa de música eletrônica.

Depois de quatro anos explorando espaços diferentes de São Paulo fazendo festas misturando seus residentes a nomes do quilate de Mano Le Tough, The Revenge, Tim Sweeney, Tiger & Woods, Kornél Kovács, Fatima Yamaha, Crazy P, Joakim, Floating Points, Four Tet e muitos outros, o crew foi viver uma experiência na Europa na tour Gop Tun Does Europe.

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Foram quase dois meses de viagem percorrendo sete cidades e mais de 5.600 KM. A primeira e última parada foi a cidade mais quente da Europa agora, Amsterdam, onde estiveram no festival Dekmantel e tocaram na Red Light Radio. Nesse meio tempo, eles se apresentaram no Jazz Festival, em Copenhagen, ao lado do Bixiga 70 e Ed Motta, garimparam na lendária loja de discos Hard Wax, em Berlim, passaram por Munique, Colônia e, em Londres, tocaram na Merchant Tavern, um paraíso para audiófilos de vinil com o melhor soundsystem da cidade.

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Para inveja geral, eles foram a um dos festivais mais comentados deste verão, o incrível Into The Valley, em Estocolmo, sobre o qual a Lalai Persson já escreveu aqui no Music Non Stop.

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A viagem foi toda documentada através da parceria com a cervejaria Goose Island, e em setembro será lançada uma websérie. Veja aqui o teaser mais recente que eles soltaram. Depois, leia a entrevista e ouça o set incrível que eles gravaram em Amsterdam.

Teaser da tour Gop Tun Does Europe

Music Non Stop – Vocês passaram um mês e tanto na Europa indo a festivais e tocando em festões. Como comparam o que viram lá, em termos de música, com a cena que temos no Brasil?

Bruno Protti – Temos muitos DJs e artistas bons que poderiam nos deixar pau a pau com o que rola por lá, essa trip me deu mais certeza de que a cena nacional está autêntica e incrível.

Caio Taborda – Sim, foi uma experiência única! Foi bacana ter tido uma tour tão eclética como a nossa, por lá vimos a força do jazz e o esforço de toda uma cidade em prol desta cena, como em Copenhagen, onde nos apresentamos na principal casa de shows da cidade para concertos de jazz, passamos pela fúria de Berlim que concentra em nossa opinião a maior cena clubber do mundo, em locais mais calmos como Munique, onde existe uma cena de pessoas esforçadas para levantar a bandeira da boa música eletrônica, por Londres, que, assim como Berlim, tem uma cena super evoluída, Estocolmo, Amsterdam… O mais legal é o interesse das pessoas e o cuidado dos promoters.

Final de festa em Londres apos nossa gig na Cut the Rug

Final de festa em Londres apos gig do Gop Tun na Cut the Rug

As pessoas pesquisam e consomem a música, que é um resultado desse processo. Muitas vezes, aqui, as pessoas consomem o que está em evidência, o que toca na TV, no rádio… Essa facilidade em encontrar algo de fácil acesso resume muitas vezes uma pesquisa mais rasa. Procurar entender mais a história do que você escuta, de onde isso veio e com isso descobrir novas vertentes, sons e sonoridades com certeza, traria evolução pra nossa cena.

Fernando Nascii – Deu pra ver que não estamos tão distantes musicalmente, temos muitos artistas à mesma altura dos gringos.

Gui Scott – Foi uma experiência incrível ter vivido quase dois meses na Europa e presenciado a cena atual deles. Acho que temos muita coisa em comum, principalmente com a cena de Berlim e Londres. Nossa cena em São Paulo tem crescido bastante nos últimos anos com festas de todas as vertentes, o que não era nada comum uns cinco anos atrás.

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Visu do Into The Valley, na Suécia, apenas deslumbrante. Line-up? Melhor ainda!

Music Non Stop – Vi que vocês foram ao Into The Valley. O que viram de mais incrível por lá?

Bruno Protti – Não consegui ir infelizmente :/

Caio Taborda – O festival fica em uma cratera em meio a uma floresta a três horas de Estocolmo, o lugar é um show à parte. Mas o melhor set que ouvimos por lá foi o do americano Omar S.

Fernando NasciiFour Tet, Hunee, Gerd Janson, Axel Boman, Kornél Kovács, Prins Thomas… foram bem incríveis!

Gui Scott – No primeiro dia do festival teve um palco intimista do label Rollerboys com Prins Thomas, Tornado Wallace e Daniele Baldelli e parecia uma festa à parte dentro do festival. Além disso, o que mais me marcou foram o Omar S, Four Tet, Kornel Kovacs e o back-to-back do Ben Ufo com Joy Orbison.

Merchants Tavern Londres

Na Merchants Tavern, em Londres: gastar dinheiro em comida é para fracos rs

Music Non Stop – Compraram muitos discos? Quais foram os grandes achados?

Bruno Protti – Acertou, fomos a todas as lojas que conseguimos, gastar com comida é para os fracos, e valeu a pena economizar por essas belezinhas de 30cm, MC1Basic (Beppe Loda Remix) e SupermaxAfrican Blood estão entre os preferidos.

MC1 – Basic (Beppe Loda Remix)

Caio Taborda – Muitos! Cada um escolheu o seu predileto! O meu é Joe GibbsMagestic Dub.

Fernando Nascii – Meu maior achado foi um clássico do Mr Fingers que encontrei na Hardwax em Berlin.

Gui Scott – Compramos bastante disco por lá. O meu maior achado foi Benjamin BallFlash A Flashlight.

Music Non Stop – Qual a temperatura dessa cena de vinis na Europa agora?

Bruno Protti – Esta borbulhando, dá uma olhadinha no Na Manteiga que rolou na Rush Hour assim que sair o vídeo e fica olhando para o caixa.

Caio Taborda – A cena de vinil na Europa sempre esteve muito aquecida em cidades como Berlim e Londres no que tange a música eletrônica, mas é fato que o hype hoje é ainda maior. Estivemos em lojas de todos os tipos em todas as cidades pelas quais passamos. E todas bombando.

Red Light Records Amsterdam

Red Light Records, em Amsterdam: lojas de vinil estão bombando como nunca na Europa

Fernando Nascii – Está beeem quente. Deu pra notar que as lojas que visitamos estavam bem movimentadas, sempre haviam filas para ouvir discos e nos caixas. Este mercado não para de crescer por lá.

Gui Scott – A cena de vinil não para de crescer, principalmente em Berlim e Amsterdam.

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Show do Bixiga 70 no Jazz Festival em Copenhagen foi um dos momentos altos da tour

Music Non Stop – O que vocês viram lá que poderão aplicar nas festas aqui? Alguma novidade?

Bruno Protti – Com certeza voltamos mais maduros, a música deve estar sempre como protagonista, redescobri que festejar com hora para acabar e ficar com aquele gostinho de quero mais é muito bom. A festa tem que ter um objetivo e uma história, às vezes quando você estende muito, o motivo de todos estarem ali se perde.

Gop Tun em Christiania, Copenhagen

Gop Tun em Christiania, Copenhagen

Caio Taborda – Em nossas festas sempre aplicamos referências que vêm de fora, a hospitalidade, organização dos promoters com artistas e o cuidado com todos os detalhes para que o DJ tenha a melhor experiência dentro da cabine com certeza são aprendizados que trazemos para cá.

Fernando Nascii – Um soundsystem não precisa estar agressivamente alto para fazer as pessoas dançarem. Isso não é nenhuma novidade, mas é algo que nos faz refletir sempre que visitamos clubs na Europa.

Gui Scott – Sempre ficamos atentos em relação a produção, cenografia, organização. Temos algumas novidades que vocês verão nas próximas festas.

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Todos concordam; a cena de Amsterdam é a mais quente, e o festival Dekmantel, o mais foda

Music Non Stop – Se pudessem voltar mês que vem pra uma cena de um dos países que visitaram, qual seria?

Bruno Protti – Com certeza o Festival de Jazz com aquela pista dançarina totalmente eclética e diversificada, tinha gente de 18 a 70 anos ali.

Caio Taborda – Amsterdam! Hoje entendemos que esta é a cena que mais nos inspira.

Fernando Nascii – Amsterdam!

Gui Scott – Voltaria pra Amsterdam. Pra mim, é cena mais quente na Europa.

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No QG do festival Dekmantel, em Amsterdam

Music Non Stop – Com quais crews gringos tiveram mais afinidade?

Bruno Protti – Dekmantel Crew!

Caio Taborda – Com certeza, com o Dekmantel, que viraram grandes amigos nossos após o evento que realizamos no Brasil. Além deles, o pessoal do Studio Barnhus de Estocolmo.

Fernando Nascii – Dekmantel, Public Possession, Cologne Sessions…

Gui Scott – Dekmantel, Studio Barnhus, Public Possession, Rush Hour, Music From Memory…

Music Non Stop – Vocês estão no comando do Na Manteiga, certo?

Bruno ProttiCaio T é quem toca o Na Manteiga, sou apenas um grande fã desse food porn todo.

Caio Taborda – O Na Manteiga é um projeto meu com outros três sócios, Marcel Buainain, Luiz Gabriel Vieira e Thiago Arantes, somos todos fãs!

VEJA COMO FOI O NA MANTEIGA COM MAU MAU E MAGAL POR EDU CORELLI

Music Non Stop – Resumindo essa viagem em duas frases, pra cada um de vocês foi…

Maior colecao de discos de cph - DR Konserthuset

Caindo de boca na maior coleção de discos de Copenhagen, DR Konserthuset

Bruno Protti – Hora do clichê rs rolou uma sinergia muito boa entre nós, o que é importante para quando nos apresentamos juntos e para fazer festas ainda mais fodas por aqui. Diria então que foi um aprendizado como ele deve ser, divertido.

Caio Taborda – Música de A a Z.

Fernando Nascii – Deixo essa para os goppers mais emotivos

Gui Scott – Um sonho que se realizou.

Can Records Copenhagen

Na Can Records, em Copenhagen

Music Non Stop – Nossa cena musical é muito rica e farta. o que falta pra gente decolar de vez?

Bruno Protti – Riquíssima, gosto muito do jeito que esta agora! estamos num momento muito bom, penso que quando decolar vou sentir saudades dessa época, rs. Brincadeiras a parte, temos que manter a autenticidade para crescer nossa cena com consistência. 😉

Caio Taborda – Falta existirem mais promoters fazendo festas autênticas. É muito legal ver em São Paulo toda esta cena acontecendo agora com as festas de coletivos que rolam por aí, temos certeza de que estamos no caminho certo!

Fernando Nascii – O Brasil já fincou seu lugar no mapa da musica eletronica mundial, o momento atual é ótimo para o mercado da musica eletronica em geral. Nos ultimos anos diversos movimentos, festas e coletivos surgiram e isso vem enriquecendo muito a cena por aqui. Já decolamos de vez e isso vai ser mais nítido nos próximos anos 🙂

Gui Scott – Temos que continuar focando em cada um manter sua personalidade e acreditar na sua identidade. A cena vem crescendo cada vez mais com festas incríveis e DNA próprio. Estamos no caminho certo.

Ouça o set que os DJs Gui Scott, Caio T e Nascii gravaram na Red Light Radio, em Amsterdam.

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.