Especialista em segurança bancária avisa: seus dados já são públicos, e sua certeza de que não será feito de trouxa vai te derrubar
“O Brasil foi vítima de um vazamento de dados de mais de 200 milhões de CPFs, número maior do que a atual população brasileira.”
Com esta afirmação alarmante, Juliana Silveira D’Addio, especialista em segurança e autoridade brasileira quando o assunto é cybersecurity e prevenção a fraudes, conversou com o Music Non Stop sobre as táticas usadas pelas quadrilhas para roubar seu dinheiro. Algumas delas, voltadas para o público que frequenta bares e festas.
O Brasil está vivendo uma explosão de crimes nesta categoria. A conveniência do “dinheiro digital” é uma das razões, mas não a única. Voluntariamente, disponibilizamos nossos dados pessoais o tempo todo, através das redes sociais. As quadrilhas, agora financiadas pelas grandes facções criminosas, estão cada vez mais especializadas e rápidas na hora de desaparecer com o dinheiro, transferindo-o para outras contas e dificultando as investigações.
Soma-se a isso o fato de o judiciário brasileiro ser lento e ineficiente ao punir. As cadeias, atualmente, são uma escola intensiva, prontas para ajudar os encarcerados a se aprimorarem nos golpes virtuais.
Como se proteger
D’Addio contou ao Music Non Stop qual o caminho usado pelos fraudadores para enganar uma pessoa. E alerta: “seus dados pessoais já estão públicos. Agora é entender como as quadrilhas trabalham, e se preparar para quando a tentativa chegar”.
Os quatro passos do golpe
Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Instituições Bancárias), em 70% dos casos, as quadrilhas seguem quatro passos, que os especialistas chamam de engenharia social.
“É fundamental que as pessoas conheçam este processo, e estejam preparadas para quando o contato acontecer”, continua a especialista.
E se você pensa que os golpes são direcionados apenas a pessoas mais velhas, com pouca familiaridade com celulares, saiba que não pode estar mais errado.
Passo 1: O levantamento de dados pessoais
Antes de entrar em contato com a vítima, as quadrilhas podem fazem um levantamento prévio dos dados disponíveis. Familiares, endereço, telefone e contas bancárias, data de nascimento, tudo! Isso vai dar aos golpistas segurança e arsenal para partirem para o segundo passo.
Passo 2: A credibilidade
Seja por SMS, whatsapp ou telefone, não pense que, ao receber o contato, lidará com alguém usando “gírias de cadeia”. Quem faz a ligação ou envia mensagens sabe como se comunicar usando a linguagem do convencimento, que pode seguir por várias armadilhas psicológicas. As mais comuns são:
O medo: golpistas entram em contato “tentando ajudar”, se passando por um funcionário do banco ou da administradora de cartão de crédito, por exemplo. Como sabem tudo sobre você, te alertam que há uma tentativa de golpe em sua conta ou cartão, e que eles podem ajudá-lo a conter o prejuízo.
A ambição: promoções absurdas de itens desejados pela maioria, como TVs e smartphones, são oferecidos com descontos “imperdíveis”. Promessas de dinheiro a receber por bancos, heranças, e até “presentes” no dia do seu aniversário (que também sabem quando é) são usados para pedir dinheiro ou clonar seu cartão de crédito, mediante uma transação de um valor, que pode ser irrisório, a princípio.
Passo 3: A pressão do tempo
Em todos os casos, os golpistas não querem que você tenha tempo para pensar. As promoções são “relâmpago”, as falsas movimentações na conta precisam “ser interrompidas agora!”, “hoje!”, “urgente!”. Tudo é calculado para colocar a vítima no desespero ou no impulso.
Passo 4: O pedido
“É somente neste momento do golpe que a pessoa tem a chance de escapar”, explica D’Addio.
“Sempre, o passo final é o pedido do golpista por uma transação, dados, senha, ou mesmo a entrega do cartão do banco, se o golpe for presencial.”
Tendo conhecimento de que está sendo enganada, a vítima vai negar a solicitação. Neste momento, a pessoa tem o total controle da situação, desde que saiba o que está realmente acontecendo, ou pelo menos desconfie.
Golpes específicos para quem está em bares e festas
“Cada quadrilha é especializada em um tipo específico de público. E existem as que agem diretamente com as pessoas que estão vulneráveis, em bares e festas”, alerta Juliana.
Isso significa que eles são especializados em identificar, em uma festa, quem está mais vulnerável, desprotegido, sozinho ou desatento. E então, partem para o ataque.
Os crimes mais comuns, neste caso, envolvem o uso do “Boa Noite Cinderela”, com substâncias que dopam a vítima, deixando-a passiva.
“Com o ‘Boa Noite Cinderela’, o golpista tem acesso à digital do cliente dopado. Existem casos em que o telefone foi colocado em frente a uma vítima desmaiada, para autorizar a transação por reconhecimento facial”, segue.
Outro golpe comum em festas é a troca do cartão, ou transações com valores diferentes do devido.
As regras de ouro para evitar o pior
Antes de entrar em pânico, saiba que há formas de se proteger, evitar ou, pelo menos, minimizar a perda em caso de um golpe concluído. O mais impressionante é que várias destas dicas são óbvias, mas passam despercebidas porque “confiamos demais”. Nos outros e em nós mesmos.
Deixe o cartão em casa, ou mantenha-o bloqueado
Apesar de conhecermos todos os riscos de perda ou roubo, é comum sairmos de casa com todos os cartões na carteira.
“Os cartões de crédito devem ficar em casa, ou pelo menos bloqueados para compras físicas e virtuais”, elucida a especialista.
Hoje em dia, com os aplicativos no celular, você pode liberar o uso, em qualquer horário, em questão de segundos.
Seja desconfiado. Preste atenção
“O brasileiro tem um comportamento diferente dos americanos e alemães, por exemplo. Eles são muito mais desconfiados ao passar qualquer tipo pessoal para outras pessoas, mesmo que conhecidas”, continua.
“Quando estiver em um local público, recebendo uma entrega em casa ou em uma balada, preste atenção no que está fazendo. Olhe para o cartão devolvido, para ver se é seu mesmo. Confira o valor digitado na máquina.”
Outro comportamento imprescindível é o de conferir sua conta bancária regularmente. Acompanhe o extrato, questione qualquer movimentação que você não lembre de ter feito. O mesmo vale para os cartões de crédito. Lembre-se que seu pai tinha de receber um extrato bancário pelo correio, e você tem a chance de acompanhá-lo em tempo real, pelo aplicativo do banco.
Conheça as ferramentas de segurança do seu banco
Os golpes e fraudes são preocupações generalizadas no sistema bancário, nas associações e no governo. Por isso, cada banco tem diversos mecanismos de segurança nos aplicativos, e você deve conhecê-los.
Mais humildade e menos arrogância
“A enorme maioria das vítimas, até perderem seu dinheiro, tinham certeza absoluta de que jamais cairiam num golpe”, relata D’Addio, que frequentemente é convidada para palestras sobre o assunto.
Então, pare de pensar que somente pessoas com pouca instrução ou mais velhas são alvos das quadrilhas. As estatísticas comprovam que a realidade é completamente diferente.
Comunique seu banco o mais rápido possível
Os bancos se intercomunicam e têm condições de bloquear a conta de destino, para a qual o dinheiro de um golpe foi enviado. Ou seja, o criminoso pode receber a grana, mas não terá como sacá-la ou enviar para outra conta.
O problema é que os golpistas também sabem disso, e tentam desaparecer com o produto do roubo o mais rápido possível. Por isso, rapidez é fundamental.