Produtor mineiro junta organic house e ritmos brasileiros em novo disco
O DJ e produtor mineiro Geraldo Gonçalves acaba de deixar bem claro o seu domínio criativo em novo álbum, “Todos os Lados”, pela Gatopardo, sob o seu expressivo pseudônimo Gerra G. Não é à toa que vertentes como o Organic House e o Downtempo tenham servido tão bem para alocar suas fantasias musicais, já que são movimentos de dance music baseados no diálogo sonoro entre diversas culturas, algo que é imperativo para o trabalho deste artista. “Eu sou um cara que veio da roça e faz arte. Gosto de misturar o ‘raiz’ com o contemporâneo”, comenta ele.
Seu carinho pela musicalidade brasileira regional explica-se por seus primeiros passos, como um dos 20 mil habitantes da cidade de Abaeté, Minas Gerais. “Meus pais sempre ouviam de Zé Ramalho a Pink Floyd em casa. Já nos rolês da cidade, havia muita música sertaneja raiz e hits da rádio, além de sons de manifestações religiosas, como Folia de Reis, Congado e festas juninas, todas carregadas de um teor lúdico nas suas apresentações. Certamente, isso alimentou minha admiração pelas artes”, revela Geraldo.
Depois de Abaeté, Gerra G morou em Divinópolis, pólo mineiro da Moda, e Nova Serrana. A vida interiorana, no geral e entretanto, já o via flertar com o eletrônico. “O primeiro CD marcante que tive foi ‘Clint Eastwood’, do Gorillaz. Ali despertou-se meu interesse por música e segui procurando até encontrar a música eletrônica, que mexeu muito comigo e me fez criar identificação imediata com a figura do DJ; eu me via ali, me sentia capaz e magnetizado pela ideia de espalhar as músicas que me tocam”, conta.
O ano de 2015 o viu encarar a rotina da capital dançante de Curitiba, onde ampliou seu espaço e fundou o Núcleo Gatopardo – neste ponto, ele já tinha largado uma breve carreira no Electro House para aprofundar-se na produção audiovisual. Com tudo em dia também nos conhecimentos de produção musical, foi na pluralidade etno-dançante do Downtempo que encontrou um terreno criativo que rende frutos até hoje, 14 anos após seu início na cena.
O nome “Todos os Lados” para seu novo álbum é autoexplicativo, portanto, agora que entendemos o background de Gerra G, é super um convite ao seu mundo particular e à sua incansável busca por tornar acessível e, ainda assim, empolgante a sua mesclagem eclética de referências – estas que vão de Nicolas Jaar e Bonobo a Secos e Molhados e música pop no geral. Ele explica: “Tenho cada vez mais visitado novos lugares dentro da música, mas participar de movimentos que têm a aceitação [por esses sons] me motiva bastante”.
Apesar da força de sua subjetividade, Gerra G elevou seu projeto a um parâmetro bastante colaborativo, engrandecendo o seu propósito artístico e resgatando ainda sons que esteve lançando aos poucos em tempos recentes, a exemplo de “Padê Onã”, “Floresta de Abaeté” e “Cena de TV”. Entre os feats vocais e colaborações na produção estão nomes como Luana Godin, Thais Badu, Klaf, Arteria Fm e Flavia Sebas.
“Todos os Lados” denota um pouco da aura hedonista da dance music, a personalidade romântica de Geraldo e a multidisciplinaridade da cultura brasileira. “O que me mantém neste universo é a liberdade criativa que engloba a música eletrônica, o prazer de produzir uma música no estúdio, o frio na barriga quando se sobe no palco e o feedback das pessoas que gostam das músicas produzidas”, completa.
Texto: Rodrigo Airaf