Fundador da Sound Factory e da loja Mr Groove abre novo clube em novembro em SP com foco em soul, funk e boogie

Claudia Assef
Por Claudia Assef

O DJ e empresário Oswaldo Junior escreveu seu nome nos autos da música eletrônica nacional quando resolveu comprar e reformar, com o sócio Roberto Calegaria, um clube no bairro da Penha, em São Paulo, que ía mal das pernas, o Showbusiness, para abrir outro no lugar, a Sound Factory.

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Laurent Garnier curtindo com o DJ Julião (regata) e staff da Sound Factory de Pinheiros

Oswaldo começou a desenhar a história da nova casa pela escolha dos DJs. Decidiu manter o DJ que já trabalhava na Showbusiness e convidar um estreante para formar dupla com ele. O veterano era Marky, e o novato, Julião.

VÍDEO MOSTRA PISTA DA MÍTICA SOUND FACTORY COM MARKY E JULIÃO CANTANDO EM 1995

O curioso é que, quando a Sound Factory começou a funcionar, Julião tocava discos de jungle, enquanto Marky apostava em techno e house. Pouco depois, inverteram-se os papéis. Alguns códigos que já rolavam nos clubes dos Jardins também rolavam na Sound Factory. Exemplo? Julião e Marky chegaram a tocar montados (vestidos de mulher) numa festa, a Juju Telefunken por Elas, uma zoeira com o programa de Hebe Camargo na TV. Dos flyers às drags, a cultura underground de clubes como Senhora Krawitz e Nation tinha endereço certo na Penha.

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Marky neném quando virou residente da Sound Factory da Penha

“Foi lá que nasceram o DJ Marky conhecido mundialmente, DJ Julião, Grace Kelly Dum, Gu, Ilia Simione, Bunnyz, Xerxes, Yes America, Eric Caramelo entre outros. Tivemos ainda, na Rádio Metrô FM, um programa que ía ao ar todos os sábados, o Sound Factory – The Best Party in São Paulo, que chegou a pegar segundo lugar no horário”, relembra Oswaldo. Mais tarde, a casa ganhou uma filial em Pinheiros, que teve o mesmo sucesso da matriz.

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Oswaldo Junior aka Mr. Groove entendo do riscado da grooveria

Além de ter sido um dos primeiros empresários a reconhecer o talento de Marky (ele foi jurado num concurso de DJs que Marky venceu), Oswaldo circula há décadas entre lojas de discos e nightclubs espalhados por vários países, buscando música e informação. Já trabalhou em rádio e desde 1987 tem loja de discos. Primeiro foi a Discomania, loja incrível que funcionou entre 1987 e 1999 na Galeria 24 de Maio, frequentada por modernos atrás de lançamentos e também por quem buscava raridades dos anos 70 e 80. Depois, em 2002, ele abriu a Mr. Groove, que aliás é seu aka como DJ, loja que até hoje faz a alegria de quem busca pérolas da disco, soul, funk e boogie, instalada na mesma Galeria 24 de Maio. Por lá já passaram figuras como Mos Def e Axel Boman atrás de raridades brasileiras.

Mos Def fazendo compras na Mr. Groove com o dono da loja dando aquela atenção

Com o respaldo de quem já fez história na noite, Oswaldo agora volta a investir num clube, que também vai funcionar como casa de shows. O Mr. Groove Lounge estreia dia 9 de novembro no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, com a proposta de juntar o que houve de melhor de músicos e DJs das antigas com a produção contemporânea.

“O Oswaldo sempre foi um cara visionário, é disc-jóquei, empresário, mas a sua maior virtude é o amor pela música”, garante um de seus grandes amigos, DJ Marky. A intenção de sua nova casa é mostrar o que está rolando de melhor na cena musical brasileira, com forte influência de soul, funk, boogie e outros grooves. Quem curtia as batidas eletrônicas do Sound Factory também vai curtir a programação, que terá muita house, disco music, rap, techno e outras vertentes eletrônicas.

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Oswaldo com mr. Afrika Bambaataa

A casa é divida em dois espaços. Na entrada, uma pista menor, fechada, em formato lounge com bar, que dá acesso à área externa, onde está o palco, que dá vista para uma piscina. Quem se empolgar, pode se jogar na piscina para um mergulho, pois a estrutura conta com um vestiário.

Na abertura da casa acontece a primeira edição do projeto Mardi Grass, do músico Eduardo Brechó, que irá discotecar com o DJ Gringo, cara que nos anos 70 era residente da equipe de bailes Tranza Negra, uma lenda viva da black music brasileira. A noite ainda terá show da banda Aláfia, dona de uma mistura cheia de grooves influenciados por jazz, afro, funk e candomblé. Na quinta, dia 10, é a vez de misturar batidas eletrônicas com brasilidades. O destaque é o show do projeto Teto Preto, que terá abertura dos DJs Gringo, Oswaldo Jr e Peter Pc, que tocavam na Sound Factory.

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Gringo tocando numa Tranza Negra nos anos 70

A curadoria e direção artística será focada em reunir músicos de várias épocas numa mesma noite, dando espaço para mostrar repertório de pesquisa musical contemporânea e de décadas passadas. Quem ganha é o público que está a fim de sair de casa para ouvir algo que o surpreenda e agregue musicalmente.

FICHA CORRIDA MR. GROOVE

“Comecei como DJ nos anos 80, criei a Equipe Shock, bem conhecida na região onde morava, Vila Matilde. Em 1983, iniciei profissionalmente como DJ residente na Equipe Squalidus, no antigo Clube Rui Barbosa, na Penha, em seguida fui pro Love Story, Circulo Militar e Walknight, discotecando garage, house, r’n’b, disco, funk e soul”, diz Oswaldo.

Paulistano, encantou-se pelo mundo dos vinis por causa de um tio que o levava na infância às lojas de discos e foi quem deu a ele a primeira vitrolinha nos anos 1970. “Envolvido com esse universo musical, iniciei como empreendedor em 1987, no meu primeiro negócio, a loja Discomania, atendendo as casas noturnas mais badaladas da época: Toco, Victoria Pub, Contra-Mão, Massa Rara, Resumo da Ópera, Excalibur, Columbia, Chic Show, Circuit Power entre outras. Passei a viajar mensalmente aos EUA e Europa e assim comecei um trabalho como importador de discos. Em 1989 trabalhei na produção de três programas na Rádio Nova FM: Lunch Break, mixado ao vivo nos estúdios da rádio, Cesta Básica, comos lançamentos da semana, e o Rap Attack”, lista o DJ.

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Na Sound Factory com Louie Vega

Em 92, ele investiu pesado na compra da Show Business, antigo Massa Rara, na Penha. “Em 1993, reformei e transformei a casa em Sound Factory, uma das primeiras de música eletrônica do Brasil. Apostei e investi na Sound Factory Pinheiros, Espaço Nation, Sound Factory Tatuapé… em todas essas casas atuei como administrador e DJ, o que sempre foi um prazer pra mim”, diz.

“A Sound Factory Penha foi o primeiro filho, eu e Roberto Calegari compramos a Show Business falida em 1992, até que em Março de 1993 nascia o Sound Factory, um clube que conseguiu quebrar barreiras em todos os sentidos, tanto musical quanto na forma de vestir de seus frequentadores, abrindo as portas para o mundo GLS e para a cultura da música eletrônica underground na Zona Leste de São Paulo”, recapitula. “Foi a primeira casa que montei, administrei e toquei. Era um sonho que estava sendo ali concretizado”, diz.

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Josh Wink fazendo uma visitinha à loja Discomania

“Tive a oportunidade de conhecer a Sound Factory de New York, saí de lá varias noites fascinado em ver e apreciar o som de DJs como Kenny Dope, David Morales, Sneak, Tony Humphries, Frankie Knuckles, Roger Sanchez e Little Louie Vega. Queria muito fazer algo diferente por aqui. Em Nova York, o garage e a house estavam bombando; na Inglaterra, o jungle, e na Europa em geral o techno tava vindo muito forte. Eu costumava começar a noite com garage house e fazia uma disco para finalizar. Até que em 1994 montamos nossa primeira filial em Pinheiros, na Cardeal Arco Verde e chegava mais um time de peso (Yes América, Grace Kelly Dum, Ilya Simioni, Gu, Bunnyz e Erik Caramelo). Formava-se então o nosso divisor de águas”, relembra.

Mr. Groove Radio Show da Ban TV

Daqui a alguns dias abre-se um novo capítulo na história de Oswaldo, e certamente vai chacoalhar o mercado com essa proposta de tocar bons e velhos (e também atuais) grooves.

 

ABERTURA MR. GROOVE
Quarta, 9 de novembro, a partir das 22h
Rua Mamoré, 305, Bom Retiro, São Paulo
Line-up: DJ Gringo, Eduardo Brechó e show com a banda Aláfia
Preço: R$ 40 (entrada) ou R$ 60 (consumação)

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.