Filho de Eike Batista, Olin largou trabalho com o pai pra reinar no mundo da EDM

Claudia Assef
Por Claudia Assef
Ser DJ e filho de um dos homens mais ricos (ou ex-mais ricos) do mundo. Eis um estigma gigante para Olin Batista superar. Quando recebemos o email com a sugestão de matéria com o herdeiro de Eike Batista e da eterna musa do Carnaval Luma de Oliveira, a curiosidade bateu forte.

Mas, afinal, o que pensa, o que ouve, quais as barras (se é que existem) enfrentadas por um menino que cresceu com a cama feita pra ser um herdeiro, mas que quis ser alguém na extensa fila da música eletrônica?

Aos 20 anos, Olin lança sua primeira produção, “Luma”, uma homenagem à mãe. A faixa de house progressivo com tempero de Carnaval teve 11 mil downloads nas primeiras 48 horas de Soundcloud.

“DJ é um trabalho realmente difícil, isso é algo que o meu pai entende e essa é uma das razões pelas quais ele me apoia tanto. Ele é um homem trabalhador, ele não iria me deixar viver uma ‘vida preguiçosa’, ele sempre me ensinou a correr atrás”, disse Olin ao Music Non Stop. Ele, que chegou a trampar com no escritório do pai, um dia explicou que não queria seguir carreira nos negócios. E a reação de Eike? O próprio responde:

“Eu sempre acreditei que todos nós, incluindo Thor, Olin e futuramente o Balder, nasceram com algum tipo de talento ou vocação! O meu querido Olin tem o dom divino da música, então acho o máximo ele estar dando seguimento naquilo que ele adora, porém, adoraria que ele tomasse gosto pelos negócios também!”, disse o sincerão Eike. 

Olin, de onde veio o seu interesse pela discotecagem? 

Eu tinha 12 anos quando conheci a música eletrônica, foi um ritmo chamado “trance”. O quarto do meu irmão, Thor, fica ao lado do meu e eu ouvia essas músicas que vinham do quarto dele. Foi amor à primeira vista. A partir daí fui descobrindo artistas como Armin Van Buuren, Arty, Daniel Kandi e eles se tornaram meus modelos. Comecei a aprender e me interessar ainda mais sobre como é ser DJ quando eu tinha 13 anos e meu conhecimento começou a crescer gradativamente. Mas foi aos 15 anos que senti que tinha conhecimento suficiente para ficar na frente do público.

Toquei nos melhores clubes e festivais no Brasil e realmente curti cada momento, mas com o passar dos anos a música eletrônica tornou-se algo tão grandioso, que senti que precisava me desenvolver para alcançar outro nível, dar algo a mais para as pessoas. Em 2013 comecei a aprender a produzir música, mas ainda não estava no nível de qualidade para o mercado internacional.

Fui incentivado a ir para o estúdio diariamente e melhorar minhas habilidades de produção. Trabalhei duro, passei milhões de horas em estúdio e foi muito difícil, porque eu queria compartilhar um monte de coisa com as pessoas (através das redes sociais), mas não era o momento. Eu não falei sobre o que estava acontecendo comigo e no estúdio nem mesmo com os meus amigos. Então, basicamente, tudo o que estava ‘sob segredo’. Esse período da minha vida não foi fácil por causa dos problemas na família. Então eu fiquei focado também nesses momentos complicados, e então comecei a produzir melhor e melhor  e aqui estamos. 

No estúdio, Olin esquece os problemas pelos quais a família tem passado

No estúdio, Olin esquece os problemas pelos quais a família tem passado

Qual foi a reação dos seus pais quando você quis ser DJ?

Quando estava me desenvolvendo, meu pai me chamou para trabalhar com ele no escritório (e eu fui). Mas então tive uma grande conversa, expliquei tudo, desde de Adão e Eva, mostrei os vídeos e eles – meu pai minha mãe – tiveram uma ideia. A partir desse ponto eles me apoiaram totalmente. Não foi tão fácil como as pessoas podem pensar, eu tive minhas próprias lutas, mas eles viram nos meus olhos que este é o meu caminho, que é isso o que eu quero e que tenho que fazer. 

Quem são seus ídolos (não apenas DJs, mas na música, literatura, etc.)?

Olha, meu maior ídolo é meu pai. Ele é minha melhor faculdade.

Quais foram as maiores dificuldades na hora do aprendizado?

Ser apenas DJ não é o suficiente, o bastante. Você tem que produzir sua própria música, o que é realmente uma coisa difícil. Você também tem que manter contato com as pessoas através das redes sociais e tem que ser interessante para eles no dia a dia.

Ser DJ é um trabalho realmente difícil, isso é algo que o meu pai entende e essa é uma das razões pelas quais ele me apoia tanto. Ele é um homem trabalhador, ele não iria me deixar viver uma “vida preguiçosa”, ele sempre me ensinou a correr atrás.

O que sua mãe achou da track que você fez em homenagem a ela?

Ah, foi um momento lindo. E foi engraçado, porque tive que manter em segredo durante quase seis meses. Dá para imaginar quão difícil é, né?! Mas eu queria esperar até a data certa, que foi no meu aniversário de 20 anos, em 16 de dezembro. Fizemos um jantar na casa da minha mãe com a família e as pessoas que são importantes para mim, e, depois que eu apaguei minhas as velas no bolo, dei para ela uma foto emoldurada, que é a arte especial do lançamento da música. Nós dois choramos como bebês, foi um momento muito bonito, todo mundo ficou com os olhos marejados. E ela ficou chocada (de uma boa maneira é claro) 🙂

Como é a sua rotina de trabalho? Vc pratica viradas e fica enfurnado no estúdio diariamente?

Pela minha experiência, posso dizer: ninguém pode aprender a produzir só com tutoriais no YouTube. É claro que pode ser útil, mas eu acho que o melhor é você se exercitar todos os dias e experimentar sons, VSTS, conhecer o que Massive, Sylenth, Nexus, Serum, Spire fazem. É um processo difícil, complicado de aprender. Eu quis desistir várias vezes, senti que estava perdido no caminho, mas nesses momentos você tem que se esforçar ainda mais.

Como meu pai sempre diz: “Olin, sem esforço e trabalho o sucesso não vem por si só”, e ele está certo. Eu não estou dizendo que nunca assisti a nenhum vídeo, porque eu vi quase todos os “Future Music Magazine” e ”Sonic Academy”, vídeos com grandes produtores com que aprendi dicas e truques. Por exemplo: “white noise before the kick”, do Tom Staar, é uma técnica incrível! Também li todas entrevistas do Axwell, assisti a todos os vídeos. Ele é meu principal herói, o “big boss” para mim, seria um GRANDE prazer fazer uma música com ele no futuro. Vou trabalhar duro para que isso aconteça.

Qual é seu objetivo como produtor e DJ?

Vamos começar com o curto: produzir mais e mais boa música, soltá-las em boas gravadoras, iniciar o meu Podcast mensal chamado “Spirit Of Sound”, voltar a me apresentar no Brasil e pelo mundo. Com todos esses elementos (que estão nos planos de curto prazo) eu quero construir um perfil internacional forte. Quero ser profissional em todos os níveis para dar uma experiência de vida para as pessoas.

Meu sonho não é ser melhor do que ninguém, e sim me superar a cada dia, ser respeitado por minhas produções e reconhecido no mercado internacional. Ainda tenho muito o que aprender. Música não se trata de uma competição, um dos motivos pelo qual sou contra listas de top DJs. Para mim isso não existe. Meu objetivo é continuar fazendo o que eu amo, e se Deus quiser poder representar o Brasil mundo afora ao lado dos grandes Djs/Produtores nacionais que temos hoje em dia!

olin3Quem são seus artistas preferidos no cenário atual?

Existem muitos DJ’s e produtores que eu admiro. Diplo, Skrillex, Shapov, Chocolate Puma, Above & Beyond, Eric Prydz, Kryder, mas eu tenho que dizer que o “big boss” e o favorito de todos os tempos para mim é o Axwell. Ele é extremamente talentoso em todos os sentidos, é um verdadeiro modelo para mim e espero que um dia eu possa criar uma música com ele.

Seus pais já foram a uma boate te ver tocar? Como foi?

Sim, foram. É sempre maravilhoso ter eles por perto.

O ideário de DJs que vivem em festas e rodeados de mulheres existe, e para alguém como você deve ser algo um pouco mais acentuado. Como você reage a esse estereótipo?

Atualmente uma carreira de DJ se tornou uma coisa muito complexa e difícil. Não é apenas a ‘vida glamorosa‘, abrir champanhes, é realmente um trabalho duro. É claro que eu tenho sorte por ter uma grande equipe por trás de mim, mas mesmo com assim há um monte de trabalho.

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Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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