Festival Primaveras Periféricas reúne arte quilombola, caiçara e indígena no Sesc Itaquera
De 10 a 18 de setembro, Sesc Itaquera será ocupado por artistas e expositores que preservam práticas, costumes e saberes próprios aos seus modos de vida ancestrais
Desabrochar, renovar, transformar e florescer. Estas motilidades marcam a chegada da estação das flores, em setembro. Derivada do latim “primo vere”, que significa primeiro verão, a “Primavera” também é associada a momentos de transformação histórica, como os movimentos em favor de pessoas, da liberdade e do bem-estar social que ficaram conhecidos ao redor do mundo: a Primavera Árabe, Primavera dos Povos e Primavera Feminista.
Nesse sentido, e considerando o trabalho do Sesc Itaquera para a execução de atividades educativas relacionadas à sustentabilidade, surge o evento “Primaveras Periféricas”, que este ano chega à sua quarta edição. No centro da discussão está a periferia como contexto social — não só geográfico — e as inúmeras possibilidades de criação de significados e sobreposições que determinam a periferia e o sujeito periférico na sua relação com a paisagem em transformação.
Nos dias 10, 11, 16, 17 e 18 de setembro, a unidade vai expor projetos, iniciativas, ativismos e insurgências que versam sobre o florescer na sociedade e na natureza. Sob a temática (Re)viver tradições, a programação principal vai reunir 15 iniciativas em uma mostra de produtos e boas práticas socioambientais associadas aos conhecimentos culturais dessas comunidades. A exposição estará montada na sede social da unidade e visa a valorização dos modos de vida das comunidades tradicionais e povos originários.
Destaque para a presença de representantes do Quilombo Cafundó-Turi da região de Sorocaba, que preserva a memória de seus ancestrais como o dialeto “Cupópia” e movimenta o turismo rural; do Quilombo de Ivaporunduva, localizado às margens do Rio Ribeira de Iguape no município paulista de Eldorado; as Mulheres Quilombolas da Barra do Turvo, também do estado de São Paulo; e da aldeia indígena Pataxó de Paraty, no Rio de Janeiro, que trará os produtos confeccionados pela comunidade. A mostra de artesanato e sabores também recebe o coletivo de mulheres negras da periferia de São Paulo Meninas Mahin, o Ateliê Nicinho Caiçara de São Sebastião, entre outros expositores.
Primaveras Periféricas
O Primaveras Periféricas deste ano coloca em debate não só as questões ligadas ao meio ambiente, mas também como as populações interagem com o ecossistema. E no Brasil dos últimos anos, onde muito se discute os limites dos direitos dos povos originários e a demarcação e proteção das terras indígenas e quilombolas, o assunto sempre deve ser tratado.
Completando a programação tem os shows, espetáculos de teatro e dança, oficinas de alimentação, música, meio ambiente e tecnologias e artes, bate-papos, vivências nas áreas verdes da unidade, trilhas e passeios turísticos. E ainda sessões de contação de histórias, encontros de capoeira e práticas corporais e esportivas.
Esse conjunto de ações visa a valorização das práticas, saberes e modos de vida de grupos identitários, transmitidos de geração para geração, como de indígenas, caiçaras e quilombolas, ampliando a visibilidade das agendas políticas e lutas por direitos das comunidades tradicionais e populações originárias no Brasil.
Criado em 2017 e realizado sempre no mês de setembro, o evento também proporciona uma rara oportunidade de o público aproveitar a unidade no período noturno. Localizada em uma área de 350 mil metros quadrados de proteção ambiental, no extremo leste de São Paulo, excepcionalmente nos sábados 10 e 17/9, por conta da realização do Primaveras Periféricas, o Sesc Itaquera estende o horário de funcionamento até 21h.
Destaques
Intervenção de abertura da programação
No dia 10 (sábado), às 14h, tem a lavagem das escadarias da Praça de Eventos do Sesc Itaquera em uma intervenção artística conduzia pelo Samba de Roda da Nega Duda, que tem raízes na região do Recôncavo da Bahia. A celebração traz elementos que remetem à cultura afro-brasileira, ao culto aos orixás e caboclos, à capoeira e ao azeite de dendê. O Samba de Roda do Recôncavo Baiano é uma expressão musical, coreográfica, poética e festiva reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade que exerceu influência no samba carioca e é tido como uma das referências do samba nacional. Gratuito. Classificação livre.
Show
A Ciranda Sem Fim, da artista pernambucana Lia de Itamaracá, embala o público no dia 11 (domingo), às 15h, em show gratuito. Com repertório de seu último álbum lançado em 2019, que mescla a história e tradição de Lia com novas sonoridades, a apresentação no Palco da Orquestra é uma oportunidade do público poder admirar a voz marcante da cirandeira mais famosa do Brasil, reconhecida como Patrimônio Vivo de Pernambuco. Gratuito. Classificação livre.
Teatro
Florilégio é um espetáculo que parte do território do real, ancestral e dos sonhos, em um espaço/tempo que nos aproxima de pessoas e histórias. Entre poesias, músicas, danças, lutas, mas também entre encontros e desencontros próprios de nosso tempo, transita por narrativas que envolvem a construção de uma comunidade, em torno dos sentidos do esperançar, inspiração vinda do educador Paulo Freire. Com o Grupo Pombas Urbanas. Dia 17/9, sábado, das 19h às 20h. Gratuito. Classificação livre.
Dança
O espetáculo O Desabrochar em solo não fértil é uma história contada, narrada e dirigida por Puma Camillê junto ao coletivo Capoeira para Todes. A ação envolve dança, música, instrumentação, poesia e teatralidade, passando por expressões de arte manifestadas originalmente pelos povos indígenas e quilombolas no Brasil, capoeira e performance de vogue. Dia 10/9, sábado, das 17h às 18h. Gratuito. Não recomendado para menores de 12 anos.
Literatura
A contadora de histórias caiçaras Neide Palumbo celebra essa cultura tradicional do povo originário do litoral paulista, por meio de causos, vivências e sotaques inspirados no cotidiano dessa gente. Dia 11/9, domingo, das 14h às 15h. Gratuito. Classificação livre.
Bate-papo
Uma roda de conversa com música e reflexões sobre a formação do território nacional brasileiro vai reunir Antônio Bispo dos Santos, o Nêgo Bispo, quilombola piauiense integrante da rede de mestres e docentes da Universidade de Brasília (UnB) e militante político nas lutas sociais e pelo direito a terra, e a pedagoga Jerá Guarani, agricultora e liderança Guarani Mbya da Terra Indígena Tenondé Porã e que foi professora e diretora da Escola Estadual Indígena. Um debate guiado por representantes de povos originários e povos tradicionais que sofreram com as primeiras ações colonizadoras. Vozes da Terra: Contracolonialidades e horizontes possíveis terá mediação cantada de Maíra da Rosa, do Samba de Dandara. Dia 17/9, sábado, 16h30. Gratuito. Classificação livre.
Alimentação
Das oficinas de alimentação, destaque para a aula A Cultura do Cultivo da Mandioca com a chef Carla Francine, que além do preparo, vai dialogar com o público sobre a cultura indígena e sua importância, já que esses povos foram os descobridores da mandioca, de seu cultivo e da extração dos produtos vindos dela. Dia 11/9, domingo, das 14h às 16h. Oficina para 25 pessoas. Gratuito. Distribuição de ingressos 30 minutos antes, na Central de Atendimento. Não recomendado para menores de 14 anos.
Culinária Afrodiaspórica com a chef Aline Chermoula, que vai ensinar a receita de Moamba de galinha utilizando técnicas e ingredientes, como galinha d’angola, dendê, coentro e muitos outros. O público vai poder degustar a Moamba de galinha. Dia 18/9, das 14h às 16h. Classificação livre. Gratuito. Distribuição de ingressos 30 minutos antes, na Central de Atendimento. Não recomendado para menores de 12 anos.
A líder indígena Jera Tenondé Porã, da Terra Indígena Tenondé Porã, no extremo sul de São Paulo, apresenta as variedades de milhos produzidas pela sua comunidade e comenta sobre as práticas alimentares e culturais de seu povo na aula Culinária Guarani. Dia 16/9, sexta, das 10h às 12h. Gratuito. Distribuição de ingressos 30 minutos antes, na Central de Atendimento. Classificação livre.
Vivência
Reencontrando as águas convida o público a refletir sobre o uso da água enquanto recurso natural e elemento fundamental para a vida. Caminhando pelas alamedas do Sesc Itaquera, a atividade busca sensibilizar sobre uso e conservação da água, a partir das relações culturais, simbólicas e espirituais desse elemento com os povos tradicionais brasileiros. Com Poliniza Ações para Sustentabilidade. Dias 10 e 17/9, sábados, das 16h às 17h30; 16/9, sexta, das 10h às 11h30. Não recomendado para menores de 10 anos. Grátis.
A Trilha Ecológica da Samambaiaçu será uma vivência ambiental que vai abordar como os povos tradicionais interagem com a floresta e a fauna que nela vivem. Os interessados irão percorrer uma trilha natural da Mata Atlântica em regeneração, na unidade, incluindo uma opção de horário noturno. Dias 16/9, sexta, das 13h às 15h; 17/9, sábado, das 10h às 11h30 e das 17h30 às 19h. Saída do Sesc Itaquera. Gratuito. Inscrições: 30 minutos antes do início da atividade, na sede social.
Turismo
Tem o passeio de um dia na comunidade indígena Guarani do Rio Silveiras, em Bertioga, no litoral paulista. A imersão pela rica cultura, tradições e costumes que se destaca no vocabulário, na língua, na culinária e até mesmo em certos hábitos comuns, visa desconstruir o olhar por vezes distorcido que chega até o público. Dia 17/9, sábado, das 7h às 19h. Saída do Sesc Itaquera. Classificação livre. Ingressos de R$ 60,00 a R$ 90,00. 30 vagas — ingressos esgotados.
Esporte e atividade física
Para quem gosta de exercitar o corpo, tem o Passeio Ciclístico Histórico pelo bairro de São Miguel Paulista. O objetivo é incentivar o cicloturismo de base comunitária e o resgate da história e da memória coletiva sobre os bairros da zona leste da capital, sob o ponto de vista das comunidades tradicionais e povos originários. Dia 18/9, domingo, às 9h. 240 minutos. Gratuito. Não recomendado para menores de 18 anos.
O festival
É um projeto vinculado ao Programa de Educação para Sustentabilidade do Sesc Itaquera que visa identificar atores, organizações e instituições, bem como experiências transformadoras da realidade, considerando princípios éticos, solidários e sustentáveis que possam intervir no território no sentido de valorizar e potencializar a ação de tais iniciativas em conjunto com a comunidade local. Ao possibilitar espaços de troca de experiências por meio do evento, espera-se que novos grupos de interesse em torno de questões socioambientais se ampliem ou se formem.
Criado em 2017, o evento anual tem por objetivo proporcionar, além da visitação de tais iniciativas, um espaço para o exercício de ações coletivas sustentáveis, que ocorrem por meio da cooperação entre os diferentes grupos, atores sociais e indivíduos no território. Desse processo, outras iniciativas igualmente importantes do ponto de vista socioambiental, como a criação de organizações, redes, movimentos e instituições também podem surgir a partir das relações de cooperação que os grupos são capazes de induzir em outros indivíduos.
A primeira edição (2017) tratou de tudo aquilo que está à beira, à borda, que está no limite da cidade, tal como as periferias; àquilo que está à margem, marginalizados, tal como os movimentos que florescem nas periferias em busca de novas formas de transformar a realidade. Em 2018 o tema do evento tratou sobre uso da água como recurso e a terceira e última edição, em 2019, refletiu sobre questões urbanas e as dinâmicas da cidade e como os grupos, sobretudo das periferias, resistem nesses espaços.
Serviço
4ª Primaveras Periféricas – (Re)viver tradições
Quando: 10, 11, 16, 17 e 18 de setembro
Onde: Sesc Itaquera
Endereço: Av. Fernando do Espírito Santo Alves de Mattos, 1000 – Itaquera, São Paulo – SP.
Horário de funcionamento da unidade: quarta a domingo e feriados, das 9h às 17h –excepcionalmente nos dias 10 e 17 de setembro, com funcionamento estendido até as 21h por conta do Primaveras Periféricas.
Programação completa: clique aqui