Festival Milkshake: idealizadora diz que criou o evento como um lugar para as pessoas se sentirem livres

Claudia Assef
Por Claudia Assef

FOR BOYS WHO LOVE GIRLS WHO LOVE GIRLS WHO LOVE BOYS WHO LOVE BOYS…

Esta frase fofa, inspirada no hit Girls & Boys, dos ingleses do Blur, traduz bem o espírito do Festival Milkshake, que rola nesta sexta (16), em São Paulo, no Milkshake Square, na Barra Funda. Já deu pra entender que se trata de um evento de espírito livre, com um line-up mara que tem desde nomões gringos como o Hercules & The Love Affair e Larry Tee, brasileiros que são puro babado e confusão, como Jaloo, Linn da Quebrada, Boss in Drama, Karol Conká, Pabblo Vittar, Banda Uó e Bloco da Preta, além de DJs de música eletrônica que tocam nas festas que todo mundo adora, só que todos juntos num evento só: Amanda Mussi, Paulo Tessuto, Davis, Selvagem, Roque Castro, Mau Mau, Marina Dias, Johnny Luxo & Leiloca Pantoja, isso sem falar em loucurinhas tipo um concurso de bate-cabelo e a apresentadora Fernanda Lima acompanhada por um balé.

Criado na Holanda pela produtora Air Events com o intuito de celebrar a diversidade, promovendo valores de amor, respeito, tolerância e liberdade, o festival acontece pela primeira vez fora de Amsterdam. A versão brasileira do festival tem direção artística assinada pelo estilista brasileiro Dudu Bertholini e por Marieke Samallo, que foi a mente brilhante responsável pela criação do Milkshake em 2012.

Clubber fervorosa, Marieke teve a ideia de criar o festival pois estava frustrada com a noite local. Apesar de curtir sair com os amigos gays para dançar, achava que faltava no cenário um evento que não cobrasse de seus frequentadores uma postura assim ou assado. “Havia as festas de pegação para homens gays, os eventos só para mulheres, as festas para a geração clubkid fashionista, os clubes gays tradicionais com as mesmas músicas de sempre etc. Quando eu falei que queria reunir todo mundo num festival só, as pessoas diziam que não ia funcionar, que todas as diferentes ‘bitches’ num só evento não ia rolar. Mas, pelo fato de ser uma celebração de amor e tolerância, todo mundo se reuniu e colaborou. E deu certo”, disse a diretora artística ao Music Non Stop. Pra você, que está contando as horas pra começar o fervo no Milkshake, fizemos a seguinte entrevista com a Marieke sobre a concepção do festival. Leia a seguir.

Music Non Stop – Conte um pouco sobre o seu background na noite, como eram os clubes e festas quando você começou a sair?

Marieke Samello – Quando eu era novinha e estudava dança e teatro, costumava dar minhas escapadas nos fins de semana pra ir a clubes em Amsterdam como o It e o Roxy. Esses clubes eram famosos por sua criatividade, performers gays extravagantes, house music de qualidade etc. Todo mundo era meio star e se sentia livre para ser o que queria. Identidade sexual não era uma questão. Quando eu comecei a trabalhar como uma produtora criativa para o clubão NOW&WOW, em Roterdã, com capacidade para 6.000 pessoas, pude finalmente usar minha experiência clubber no trabalho. Tínhamos três áreas que eram completamente diferentes em música e estilo. Cada área tinha palcos enormes, com decoração maravilhosa e pelo menos 30 performers se apresentando das 23h até as 7h da manhã. Clubbing era uma estilo de vida. Você queria fazer parte daquilo de qualquer jeito e ser livre num lugar seguro, coisa que no dia a dia não era possível.

Music Non Stop – Desde quando a noite se tornou um business pra você, como aconteceu de se tornar a sua profissão?

Marieke Samello –  Depois dos meus estudos eu basicamente conheci as pessoas certas no momento certo. Apostamos nos talentos uns dos outros e nos mesmos valores de vida. Foi como peças de um quebra-cabeça se encaixando mentalmente.

Marieke estou dança e teatro, mas foi na noite que ela encontrou vazão para criar um evento com a sua cara

Music Non Stop –  Como você chegou ao conceito do Milkshake, que é tão divertido, mas ao mesmo tempo super ativista no que tange aos direitos LGBT.

Marieke Samello – Eu estava frustrada. Somente no verão, em Amsterdam, você tem uns 350 festivais. Eu ia com minhas amigas ao festival de comida, com meu namorado a um festival de música ao vivo, com meus amigos gays a eventos gays… por que não faziam um evento onde todo pudesse ir e se sentir livre? Um festival onde meninos pudessem se beijar sem que fosse julgados, um lugar seguro onde a gente pudesse dançar e curtir música sem se importar com a orientação sexual ou gênero das pessoas, um lugar onde todo mundo pudesse expressar sua verdadeira identidade. No começo, eu não queria fazer um festival que brigasse por igualdade de direitos ou fosse um grande evento político – e ainda não é. Pessoas no mundo todo têm que poder ser quem elas são. O Milkshake nasceu para ser uma celebração da diversidade, para que todos pudessem se expressar sem carregar um peso nos ombros, apenas deixar rolar e ser livres. Lembro quando eu era novinha e ia a clubes em Amsterdam, as pessoas iam a esses clubes para serem livres e se expressar. Tantas pessoas da comunidade LGBTQIA simplesmente não podem ser quem são no dia a dia. No Milkshake todos são livres, sem julgamentos. Depois da primeira edição, percebemos que um festival com um conceito desses estava mesmo faltando na cidade e na vida das pessoas. Ame a todos, aceite-se e aos outros.

VEJA o TEASER DO FESTIVAL MILKSHAKE

Music Non Stop –  A música feita por artistas gays sempre foi muito vanguarda no passado e mais recentemente se tornou mais pop de uma forma geral. O que vocês levam em conta quando sentam pra fazer o line-up do Milkshake?

Marieke Samello – Temos vários palcos diferentes, com artistas muito diversos. Não buscamos necessariamente nomes famosos ou grandes estrelas, buscamos uma vibe ou atmosfera que se encaixe em cada palco. Há vários artistas locais, jovens e talentosos, que queremos dar espaço para brilhar.

Music Non Stop – Por que vocês pensaram no Brasil para fazer o primeiro Milkshake fora de Amsterdam?

Marieke Samello – Conheci o pessoal da Plusnetwork há vários anos e a gente vem falando sobre essa possibilidade já há algum tempo. E agora surgiu a oportunidade pra gente concretizar… e nos jogamos!

O Milkshake nasceu para ser uma celebração da diversidade, para que todos pudessem se expressar sem carregar um peso nos ombros

Music Non Stop – Qual é a maior característica do festival, algo que vocês construíram nesses cinco anos de evento e que só o Milkshake tem?

Marieke Samello – Eu diria que é o sentimento de liberdade e aceitação. Não há nenhuma hostilidade, agressões, vibes negativas. Me lembro que, no primeiro ano, meus amigos héteros vieram falar comigo passados com a energia do festival e como eles foram bem recebidos. Disseram que nunca tinham sentido algo assim em nenhum outro festival.

Music Non Stop – Para a edição do festival no Brasil como foi feito o line-up?

Marieke Samello – Foi uma colaboração. Supertoy é o palco principal itinerante do Milkshake, e o line-up dele é feito por nós para assegurar a vibe de Amsterdam. A Plusnetwork nos apresentou artistas incríveis, ficamos totalmente de cara com o talento dos artistas locais. Em conjunto, fomos construindo o line-up que melhor se ajustava para cada palco.

Marieke Samello: “Eu diria que é o sentimento de liberdade e aceitação”

Music Non Stop – Li que você pensou em criar o Milkshake porque não se sentia confortável com a energia das festas gays que costumava frequentar. Você acha que o Mlikshake ajudou a mudar um pouco a cena gay?

Marieke Samello – Existe uma grande divisão na cena gay. Tem as festas de pegação para homens gays, os eventos só para mulheres, as festas para a geração clubkid fashionista, os clubes gays tradicionais com as mesmas músicas de sempre etc. No primeiro Milkshake, quando eu falei que queria reunir todo mundo, as pessoas diziam que não ia funcionar, que todas as diferentes ‘bitches’ num só festival, não ia rolar. Mas, pelo fato de ser uma celebração de amor e tolerância, todo mundo se reuniu e colaborou. E se tornou muito maior do que uma festa gay. É como uma utopia, um mundo perfeito. Você sabia que 30% dos frequentadores do Milkshake são héteros?

Esta entrevista é um oferecimento do Festival Milkshake

FESTIVAL MILKSHAKE
Data: 16 de junho de 2017
Horário: 16h às 6h
Local: Av. Francisco Matarazzo, 678, Barra Funda, São Paulo/SP
Ingressos: Os ingressos estão à venda pelo site do festival. Os valores dos ingressos são R$ 150 (inteira) e R$ 75 (meia-entrada). Para aqueles que optarem pelo serviço premium, há um acréscimo fixo de R$ 199.
Classificação etária: 18 anos

Line-up

Super Toys by Milkshake

Cookachoo
Disco Smack
DJ Mau Mau
Doppelgang
Joost van Bellen
Larry Tee
NoPorn
Remon Lacroix
Samhara
Selvagem
Tenda

Live Stage by Shout

Banda Uó
Batekoo
Bloco da Preta
Boss in Drama
Dream Team do Passinho
Fernando Moreno
Hercules & Love Affair
Jaloo
Lia Clark
Lily Scott
Linn da Quebrada
Roque Castro

Special Guest – Fernanda Lima & Ballet

Afrika by Hell & Heaven
Allison Nunes
Andre Queiroz
Erik Vilar
Felipe Lira
Guga Rahner
Robix

Trio Elétrico Stage
Agrada Gregos
Domingo ela não vai
Meu Santo é Pop
Minhoqueens
Johnny Luxo + Leiloca Pantoja

Eletronic Stage by Jerome (After Party Oficial)

Amanda Mussi
Davis
IAO
Marina Dias
Tessuto

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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