Festival Marisco mistura Marcos Valle e Azymuth com dream team de DJs: “música boa é música boa”, diz criador

Claudia Assef
Por Claudia Assef

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Já faz um bom tempo que a disco music brasileira foi redescoberta por DJs gringos e alguns nacionais, que deitam e rolam tocando balanços lindos em português, bem pouco conhecidos do grande público. Pensando em valorizar grandes nomes nacionais e colocá-los lado a lado com um dream team de DJs de disco music, o selo brasileiro Mareh Music, responsável pelas festas Mareh e Babel, se uniu ao holandês Rush Hour para criar um festival dos sonhos, o Marisco, que acontece nos dias 14 e 15 de maio numa fábrica desativada no Brás, em São Paulo.

MarcosValle

No line-up vão se encontrar medalhões brasileiros, como Marcos Valle e o trio Azymuth, com DJs que curtem um garimpo de pérolas perdidas da disco music, Brazilian beats e house atual: Joakim, Tim SweeneyEric Duncan, o crew da Rush hour (Antal e Soichi Terada), além dos brasileríssimos Selvagem, Carrot Green e Paulão. E, notícia em primeira mão, acaba de ser adicionado à programação o DJ americano Daniel Wang, um dos caras que mais entendem de disco music no mundo!

Daniel Wang – Like (Some Dream , I Can’t Stop Dreaming)

A ideia do Festival Marisco é criar um clima de festival mesmo, com várias coisas pra fazer ao longo dos dois dias de programação. Pros music freaks, haverá uma pop-up record store (patrocinada pela Miller), com mais de 1.000 discos trazidos de todas as partes do globo, além de um espaço voltado para inovações sensoriais e uma área de alimentação e descanso.

Label de música e produtora de eventos paulista, a Mareh Music surgiu na virada do ano de 2003 com o Festival Mareh, que rola em Boipeba, na Bahia, todo final de ano. Por lá já passaram nomes como Todd Terje, Greg Wilson, Prins Thomas, Tim Sweeney, Eric Duncan, Joakim, Soul Clap, Joe Godard (Hot Chip), Luke-Howard (Horse Meat Disco), Pete Herbert, Dicky Trisco, Session Victim, Eddie C entre outros.

Nos últimos anos, além dos festivais e das festas Babel, que rolam em locações diferentes em São Paulo, o label Mareh Music passou a investir em lançamentos de EPs e também de discos em 10 polegadas dedicados a edits de tropical disco, que são lançados pelo subselo alternativo Barefoot Beats.

Ouça o Barefoot Beats 01 featuring Eric ‘Dunks’ Duncan, Selvagem e Carrot Green

O engenheiro e DJ Guga Roselli, cabeça por trás do Mareh Music (além de ser o engenheiro que construiu obras como o clube D-Edge e o restaurante e estúdio Bossa), falou com o Music Non Stop sobre o festival Marisco, os lançamentos em vinil, a noite de São Paulo, além, é claro, da missão de resgatar/apresentar para um novo público artistas do quilate de Marcos Valle e Azymuth.

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Guga curtindo na pista do festival Mareh, em Boipeba

Music Non Stop – Por que você resolveu criar um festival fundindo música eletrônica e medalhões brasileiros?

Guga Roselli – Nos últimos anos, tenho notado cada vez mais a influência da disco music na música eletrônica atual. No meio disso tudo apareceu também a disco brazuca, que vem sendo editada às pencas pelos gringos mais hypados da cena. Como faço o festival tropical Mareh nos finais de ano, tenho tido o privilégio de ver de perto essa tendência tropical disco explodir. Foi daí então que resolvi dar minha parcela de contribuição para que o estilo de música se valorize ainda mais e, com ele, claro, nosso artistas!

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Os veteranos e venerados Azymuth

Music Non Stop – Como você a noite de São Paulo hoje?

Guga Roselli – Acho que é um momento bem especial. Tem muita coisa acontecendo. Dá para notar um movimento interessante de comportamento dos consumidores de música. Antigamente, não muito tempo atrás, para ouvir música eletrônica boa você tinha que frequentar os clubs. Eram eles que tinham a melhor curadoria, soundsystem etc. Hoje em dia este público tem migrado para festas itinerantes, na minha opinião, por dois principais motivos: o primeiro é a grande busca das pessoas por novas experiências, esse tipo de festa sempre ou quase sempre muda de lugar, muda suas atrações, proporcionando assim uma nova vivência. O segundo é a curadoria, os clubes têm um volume de eventos muito maior, o que os obriga a massificar a curadoria para poder receber gente suficiente. Já essas festas têm estilo bem definido, curadoria especifica, o que atrai pessoas específicas, que gostam e se identificam com aquilo. O aparecimento desses clãs tem fomentado de uma forma positiva a cena, principalmente contribuindo para a educação da pista.

Guga (esq.) na cabine: brasilidades e disco <3

Guga (esq.) na cabine: brasilidades e disco <3

Music Non Stop – A curadoria de vocês preza por um som mais maduro. O que é preciso pra aumentar o número de gente que se interessa por esse tipo de som?

Guga Roselli – Acho que esta é uma pergunta bem difícil de responder. Estou na busca dessa resposta desde que criei a Mareh. Mas o que posso dizer é que o crescimento de um conceito acontece de uma forma orgânica, demora, precisa ser bem definido, depois espalhado. É com a famosa “rádio-peão” com quem contamos na maioria das vezes. Fora isso temos usado nossas redes sociais para tentar cada vez mais mostrar o que estamos fazendo e o que vamos fazer. Assim, o público mais sensível consegue captar a informação, são eles que queremos na pista!

A pista do festival Mareh, em Boipeba (BA)

A pista do festival Mareh, em Boipeba (BA)

Music Non Stop – Que tipo de público pretende atrair com o Marisco?

Guga Roselli – A música escolhida para o Marisco visa atrair não só as pessoas que já seguem a Mareh, mas também amantes da música brasileira. Especificamente este público costuma ter um pouco de preconceito com a música eletrônica e vice-versa. A ideia é mostrar que música não tem fronteiras, música boa é música boa. Tem muita coisa brasileira produzida sob bases eletrônicas e tem muita coisa eletrônica extraída da música brasileira.

Music Non Stop – Artistas como Marcos Valle costumam ser mais valorizados no exterior. Como foi a reação dele ao convite de tocar no festival?

Guga Roselli – Sim. O Marcos é um baita músico, não sei como nenhum festival brasileiro desses mais pop nunca o chamou para se apresentar. Quando falamos com o agente e também com os filhos dele, a reação foi muito bacana. Ambos curtiram de primeira a ideia e ajudaram a acontecer. Aqui no Brasil ainda se considera muito quantos tickets o cara vende. Não é como lá fora que quando o cara é bom, é bom!

Marcos Valle – Vontade de Rever você (1981) – álbum completo

Music Non Stop – Conte um pouco sobre o selo, qual a ideia, missão, objetivo?

Guga Roselli – O selo que leva o nome de Mareh Music tem o mesmo nome da agência produtora dos eventos Mareh, Babel e Marisco e tem alguns objetivos bem definidos. O primeiro deles é mostrar em sua curadoria o estilo de música no qual acreditamos e também colocamos em nosso eventos. O segundo e não menos nobre é levar a marca da Mareh para fora do Brasil. A distribuição dos discos e feita 95% entre Europa, Estados Unidos e Japão, tornado possível que as pessoas que moram nesses países consumam e conheçam a Mareh.

Music Non Stop – Quem for ao Marisco vai encontrar o que, além da música?

Guga Roselli – Estamos montando uma pop-up store de discos de vinil. Aproveitando a parceria com a Rush Hour, uma das maiores distribuidoras de disco da Europa, vamos colocar mais de 1.000 títulos à disposição do público a preços honestos. Além disso estamos preparando uma grande área de chill, com opões gastronômicas para que as pessoas possam ir para um experiência mais completa, comer, encontrar amigos e ouvir música boa.

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FESTIVAL MARISCO

14 e 15 de maio, a partir das 15h
Ingressos: restam alguns “erarly birds” por R$ 150 (passaporte para os 2 dias)
Antecipado (passaporte para os 2 dias), R$ 200. Ingressos individuais, R$ 150
Line-up: 14/5 Rush Hour and Friends, Azymuth, Antal RH, Soichi Terada, Paulão e Daniel Wang.
15/05 – Mareh Music Family, Marcos Valle, Joakim, Tim Sweeney, Eric ‘Dunks’ Duncan DJ, Selvagem, Carrot Green + TBA
Local: TBA
Para comprar os ingressos clique aqui

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.