Fanpages de raridades no Facebook reúnem boa MPB vintage e tudo o que você perdeu de fervo clubber nas últimas décadas

Jade Gola
Por Jade Gola

Estamos todo dia online. Se antes ficávamos sentados na frente da TV, hoje nossa maior tela de consumo cultural é a web, particularmente, o Facebook. Natural então que a rede social seja o lugar de canais onde pequenas pílulas de entretenimento e cultura façam a alegria do nosso dia.

Estamos acompanhando com prazer dois canais musicais brasileiros bem únicos e interessantes: a Fita, da jornalista Danila Moura (foto acima), que registra o passado e o presente de diversas cenas eletrônicas em clipes com estética vintage; e o Baú da Véia, a rica coleção do DJ Zé Pedro com trechos, shows e apresentações da histórica e fascinante música brasileira.

FITA

Ideia que foi ao ar em 2014, a Fita é um canal idealizado pela jornalista de música e noite Danila Moura, de SP e equipe. Danila bola as pautas, capta, entrevista, enquanto a também jornalista e DJ Mayra Maldjian faz roteiro e edita; Gabriella Garcia é outra parceira que ajuda na produção e nos contatos, e Ken Sakurai também edita. Quem as conhece já testemunhou Danila em diversas festas de SP com a câmera em riste por horas a fio, registrando os fervos, sets, lives e entrevistas com quem faz e acontece na night. “Sempre senti uma carência de registro histórico também da nossa história de clubes, festas e movimentos undergrounds da música, opina a videomaker Danila.

Ela explica como evita registrar o fervo do público explicitamente, pois ela sabe que isso corta a brisa. “O que eu mais curto é que com a Fita eu consigo acompanhar continuamente a produção de vários artistas de perto, ver a evolução em cada set e show novo”.

A inspiração de Danila é o bom momento recente de festas criativas e enxurrada de DJs e produtores talentosos, em núcleos como Metanol, Mamba Negra, ODD, Capslock, entre tantos outros. “Sempre senti que algo de muito incrível está rolando e queria ter um jeito de guardar tudo aquilo numa espécie de ‘acervo’,  tipo um ‘porta-brisa’, um baú colorido cheio de traquitanas, que e daqui muitos anos, quando questionarem sobre o que rolou de tão hoje, alguém no futuro poderia levantar a tampa desse bauzinho e entrar numa trip muito louca”.

Além de suas próprias captações, a Fita compartilha vídeos antigos incríveis que Danila faz de sua curadoria online, em narrativas espontâneas, sem muito “começo, meio e fim”, confundindo-se com seus vídeos atuais, que muitas vezes tem filtros e cara 80s, como ela explica. “O que eu mais curto é brincar com a temporalidade, da pessoa assistir e não sacar de cara em que ano aquilo foi gravado. Busco dar a minha interpretação visual para o registro, por isso fico buscando formatos e texturas, filmando projeções em TVs analógicas, digitais, computadores velhos e outras tralhas”.

LOVE PARADE 1993, by FITA:

 

BAÚ DA VÉIA

DJ e pesquisador dos mais obstinados de música brasileira, Zé Pedro é figura conhecida da cena musical brasileira. Desde suas aparições em programas de TV e no circuito house dos anos 90, até comandar hoje o atual e descolado selo Jóia Moderna, ele é uma referência em diversas cenas de nossa música, ontem e hoje.

Enciclopédia do pop, ele comanda o programa de memórias musicais Rebobina, do canal Viva, e nos últimos meses está obcecado (“tarado!”, ele enfatiza) com seu canal de Facebook Baú da Véia.

No Baú da Véia você assiste a trechos raros de João Gilberto reclamando do ar refrigerado desafinando os instrumentos, uma enxurrada de vídeos fascinantes de Elis Regina a todo vapor como só ela, Maria Bethânia em sua plenitude, Sérgio Mendes na TV estrangeira… Enfim, nossos grandes artistas em atuação e na espontaneidade, revelando seus talentos e peculiaridades.

A coleção veio do acervo de fitas que Zé Pedro, o colecionador, acumulou ao longo dos anos e agora ripou para as redes sociais. “Eu passo o dia pensando cultura, sou obsessivo. E um dia me deparei com as milhões de fitas VHS e mini DV esquecidas no meu armário e encontrei ali um enorme acervo de imagens raras que eu adoraria ver no Facebook de alguém”, conta, num chat por Facebook é claro.

“Meu vídeo predileto ate agora é Infinito Desejo que coloquei no dia dos 70 anos de Maria Bethânia com uma marca d’água que um amigo criou especialmente pra mim. Não tenho problema de direitos autorais porque os artistas sabem que sou eu, muitos me mandam parabéns e pedem mais pelo inbox. O Baú da Véia tem nome e sobrenome”, gaba-se o DJ. “O que eu não esperava era a adesão imediata e tão grandiosa, todo dia me espanto ao ver a quantidade de views, likes e seguidores apaixonados. Diante disso, a coisa virou doce obsessão rsrs”.

DJ Zé Pedro aka VÉIA

DJ Zé Pedro aka VÉIA

Obsessão é o tom de colecionadores inveterados, como Zé Pedro, que agora com o Baú da Véia tem como consolidar seu acervo e, mais importante, compartilhá-lo com o mundo. “Tô nessa história de colecionador desde os 7 anos de idade, e antes das redes sociais me sentia isolado achando que só eu gostava de certas coisas, por isso logo cedo comecei a acumular com medo de nunca mais poder ver alguns shows e videos. Fui um dos primeiros a ter TV a cabo no Brasil num tempo em que a antena era no alto do prédio kkkkkk. Gravava tudo que aparecia nas emissoras daqui e de outros países”, completa, dando mais dicas de como formou seu acervo.

 

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