Estreia nesta quinta (18) em circuito nacional O Mestre da Fumaça, longa que os diretores André Sigwalt e Augusto Soares classificam como “o filme mais diferente do ano”. Não tenha dúvida de que eles estão certos.
Para começo de conversa, O Mestre da Fumaça estreia um nicho no Brasil, o “stoner movie”, ou filme de maconheiro. Só isso já seria bem diferente. Somado a essa estética, o filme é falado em três línguas (português, inglês e chinês) e mistura lutas meio à la Kill Bill, muitos baseados, referências a Cheech & Chong e uma narrativa sobre vingança familiar.
O longa foi o vencedor do Prêmio do Público da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e traz no elenco principal Daniel Rocha, Tony Lee, Tristan Aronovich, Thiago Stechinni, Luana Frez e Cleber Colombo, com trilha sonora assinada por André Abujamra e Eron Guarnieri.
VINGANÇA DAS TRÊS GERAÇÕES
A sinopse é a seguinte. Em 1949, quando um famoso Mestre da Fumaça se recusa a treinar os exércitos da Tríade, a máfia chinesa lança sobre ele a temida “Vingança das Três Gerações”. Ao morrer, o mestre passa este terrível legado aos seus descendentes. Apesar de lutar com maestria, seu primogênito não resiste e a maldição passa à terceira geração, atingindo os irmãos Daniel (Thiago Stechinni) e Gabriel (Daniel Rocha), que sobreviveram e foram criados por Mestre Abel (Cleber Colombo), antigo amigo da família.
Mas essa nova geração de vilões encontra dificuldades em respeitar antigas tradições, e os planos da Tríade se frustram quando brigas entre seus brutamontes e o grupo de alunos do Mestre Abel deixam Daniel hospitalizado, um ano antes da luta final. Neste momento, Gabriel, o irmão mais novo, finalmente descobre a verdade sobre sua rixa familiar e decide procurar o atual Mestre da Fumaça (Tony Lee) por conta própria, sem nenhum treinamento prévio.
Com pouco tempo para salvar o irmão, Gabriel precisa conquistar a confiança de seu novo mestre e aprender as técnicas desse estilo de arte marcial polêmico e chapado para conseguir sobreviver a Caine (Tristan Aronovich), o líder invicto da Tríade, e acabar com a maldita “Vingança das 3 Gerações”.
O Music Non Stop conversou com os diretores e autores do roteiro, André Sigwalt e Augusto Soares, sobre os desafios, referências e, claro, sobre cultura stoner.
Music Non Stop – Como surgiu a ideia do filme?
Augusto Soares – A gente estava treinando kung fu fazia um tempo, o André chegou a passar três anos na China pra estudar a luta, daí comecei a treinar aqui em SP como aluno dele. Conversa vai, conversa vem, um dia assistimos Drunken Master e tivemos a ideia de fazer um filme com cannabis e kung fu. Drunken Master – traduzido em português como O Mestre Invencível – é um dos primeiros sucessos do astro Jackie Chan, o filme é uma comédia pastelona com lutas maravilhosamente coreografas.
Jackie Chan em Drunken Master
Music Non Stop – Quais foram os maiores desafios da produção?
André Sigwalt e Augusto Soares – Sem titubear: a limitação orçamentária. O filme nasceu e cresceu com nosso investimento próprio, a bufunfa veio mesmo do cofrinho. É um filme totalmente independente, sem nenhum incentivo.
Music Non Stop – E quais foram as principais referências?
André Sigwalt e Augusto Soares – Drunken Master e filmes da cultura canábica, como Cheech & Chong, Pineapple Express, Dazed and Confused, Bruce Lee, O Grande Lebowski e os filmes de kung fu em geral. Criamos um cineclube e passamos quase um ano toda segunda-feira assistindo a filmes de kung fu.
Music Non Stop – Contem um pouco sobre a cultura stoner?
André Sigwalt e Augusto Soares – Esses filmes existem porque a maconha é proibida, o estilo depende da ilegalidade. A cinematografia surgiu na década de 70, e a maconha é preponderante, mas não existem muitos filmes produzidos. Curiosamente a Índia começou a produzir filmes stoner e existem alguns festivais no mundo. Participamos de um na Tailândia, o The Amazing Stoner Movie Festival, e fomos vencedores do Golden Ganja Awards. Tem também um pouco no México e pouca coisa na América do Sul. É um mercado iniciante, são poucos festivais, e os que existem estão na primeira ou segunda edição.
Music Non Stop – E como se deu a escolha de elenco?
André Sigwalt e Augusto Soares – Seguindo as referências dos filmes de kung fu, onde os vilões eram geralmente japoneses ou americanos, a escolha foi ter o vilão falando em inglês, o mestre em chinês e a turma do bem em português. Era primordial que o mestre falasse chinês, então foi uma busca longa achar o Tony Lee, e também o vilão que falasse inglês, o Tristan Aronovich, ator brasileiro com carreira internacional. E para o papel principal, o Daniel Rocha, que foi um achado, o ator já tinha feito Os Irmãos Freitas, que conta a história do Popó e estava com luta na cabeça.
Entrevista com Daniel Rocha, ator principal
Music Non Stop – Qual foi o maior desafio pra fazer o personagem?
Daniel Rocha – Estar num lugar cômico e também a luta, apesar de me sentir confortável com o boxe, tive que aprender uma nova luta, uma arte marcial. Como era um filme independente tinha pouco dinheiro, então pouco tempo de preparo, pouco ensaio, foram apenas 10 dias.
Music Non Stop – E os baseados fumados eram reais?
Daniel Rocha – Não, era alfafa risos. Eu não podia ficar rouco, não fumo, sou asmático e não podia perder a voz pra gravar no outro dia, então eram cigarros fake.
Music Non Stop – Você já conhecia o elenco?
Daniel Rocha – Não conhecia. Inclusive a comunidade asiática é muito mal utilizada no Brasil. Eles não têm espaço como protagonistas em séries e filmes de destaque, então acabam não ficando conhecidos. O Tony Lee por exemplo é um baita ator. Curiosidade do set: o Tony nunca tinha fumado maconha e não conhecia sobre, em uma cena ele tinha que fumar um super cigarro fake gigante, então, antes, fumava um vap, pra soltar a fumaça, aí veio o Tony e disse: “Só vocês mesmo pra fazerem eu fumar cocaína!”. Foi muito engraçado, o Tony nem estava fumando nada, era essência, e achou que era cocaína risos.
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