Em um bimestre com lançamentos poderosos, de gente do calibre de Beyoncé, James Blake, Radiohead e ANOHNI (Antony Hegarty com Hudson Mohawke) e Jean-Michel Jarré, ficamos tocados é com a doçura de “Junk”, o disco todo oitentista fofo e infantilóide que é o sétimo álbum de estúdio da banda francesa M83, comandada pelo músico francês Anthony Gonzalez.
Nos chamou a atenção a versatilidade desse novo M83 ao ouvir “Do It, Try It” no set de Chris Lake numa tenda do Tomorrowland Brasil 2016. É saboroso aos ouvidos notar como o synth-pop atual pode caber bem num set de EDM e house big room, prova de como as nítidas e grandiosas notas de teclado ainda têm apelo eterno na dance music – e fica um salve pro dinamismo das seleções de Chris Lake.
“Junk” é o trabalho de um músico que foi comissionado para a TV e por Hollywood por seu talento synth, e a inspiração televisiva é tão forte que ele até arranjou o mesmo KORG 1 utilizado para criar as vinhetas de “Seinfeld”.
E mais ajeitado com a estética visual colorida e acriançada do álbum, ele diz que seriados como “Punky, a Levada da Breca” o inspiraram pela força de suas trilhas sonoras e sonoplastias, algo que ele diz não serem destaque na TV de hoje.
Para quem gosta de: Empire of the Sun, Chromeo, Röyksopp, PNAU, 80s, “Discovery” do Daft Punk e Muppet Babies.
No angu de referências vintage 80s (e 70s também), há solos épicos de saxofone, como em “Road Blaster”, backing vocais infantis na bem confeitada “Laser Gun” e riffs e reminiscências de disco, soul e black music bem inseridas.
Contraponto à esse clima de Xou da Xuxa Disco Club (repare no logo da banda todo Hans Donner…), há delicadas e um pouco nomocórdicas baladas, com a voz angelical de Gonzalez e muitas convidadas de tom delicado também. “Bibi the Dog”, toda cantadinha em francês, é um bom meio termo dessas características e traz ainda as onomatopéias de bichos e criaturas fabulosos que adornam “Junk”.
De fato não há em “Junk” um hit maior que o mundo como “Midnight City”, o grande single do LP anterior “Hurry Up, We’re Dreaming” (2011), trabalho que já brincava com com os mundos sonháticos da infância, como nessa música em que uma criança descreve um sapo psicodélico. Mas é um disco simpático, de momentos marcantes e viciantes, que atiça sua verve synth-disco de uma maneira pueril e colorida.