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Thundercat: “No Brasil, entendem perfeitamente o que eu faço”

Thundercat

Foto: Parker Day/Divulgação

Vindo mais uma vez ao país para tocar em quatro cidades, Stephen Lee Brunner faz música sofisticada e pop

A entrevista com Stephen Lee Bruner, o Thundercat (o nome inventado diretamente pela amiga Erykah Badu quando viu o moleque no estúdio com uma camiseta do desenho animado), começa entre gargalhadas. O músico, que chega ao Brasil para shows em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba, pelo Queremos!, volta um ano após ter tocado apenas na festa da GP Week e cancelado todos os outros shows por aqui devido a conflitos de agenda. Agora, com tempo para curtir o país que já conheceu tocando com artistas que vão desde Herbie Hancock até Flying Lotus e Suicidal Tendencies, começa contando um pouco sobre a salada musical que serve muito bem.

O pai do pequeno Stephen foi baterista dos Temptations e das Supremes. A mãe era flautista, e o irmão, um bamba do jazz estadunidense. Como é que ele foi tocar thrash metal e hardcore no Suicidal Tendencies? Entre risos, Stephen responde: “Aquele era um moleque muito revoltado, cara”.

Penso sobre como foi a recepção dentro de casa, com tamanha ruptura musical…

“Olha eles não ficaram bravos. Acho que é por causa do tipo de casa em que eu cresci. O sentimento foi mais de compreensão. Meus pais entenderam o nível da música e o que significa precisar trabalhar como um músico. Mas eles também entenderam a importância da banda e me apoiaram. Isso me ensinou a importância que há em trabalhar com a música e vários princípios quando eu era jovem. Mas eu estava no colégio ainda, e eles ficaram também bastante apreensivos porque, além de estudar, eu precisei sair em turnê. Mas eu consegui terminar os estudos sem nunca deixar de viajar com a banda. E aquela porra era divertida demais, cara! Eles ainda seguem como os principais amigos que tive em minha vida. Ainda saio com Dean e Mike Muir o tempo todo!”

Embora tenha crescido na problemática Compton, quebrada ao sul de Los Angeles, nos anos 90, Bruner já frequentava a cena jazzista da cidade ao lado de outro colega da infância que se deu muito bem na vida musical, o saxofonista Kamasi Washington. Ambos, ainda menores de idade, se enfiavam pelas portas dos fundos dos bares de jazz de Los Angeles, escondendo-se da segurança. Claro que ser filho do batera dos Temptations ajudava um pouco. E foi nesses encontros aleatórios da vida que conheceu Erykah Badu. Além de “batizá-lo” como Thundercat, ainda virou uma amiga para toda a vida.

“A Erykah é uma das mais importantes e influentes mulheres em minha vida, e eu nem acredito que já faz mais de 20 anos que a conheço. São essas pessoas, seus pensamentos e ensinamentos que me fizeram ser o que sou hoje. São irmãs e irmãos. E se eu ligar para a Erykah agora, eu te garanto que ela vai estar vestida do mesmo jeito de quando a encontrei, com o mesmo olhar e o mesmo sorriso no rosto. Nós sempre nos entendemos.”

Trabalhar com tanta gente fez com que o garoto de Compton se tornasse um habitué dos palcos brasileiros. Além de já ter vindo “se divertir” com o Suicidal Tendencies, também visitou o país acompanhando a própria Badu, Herbie Hancock e Flying Lotus.

“O Brasil é um lugar que eu guardo muito bem dentro do meu coração. Há uma luz que me mantém feliz quando estou aí, e deve ser por causa do jeito que os brasileiros processam a música. É como se todo mundo entendesse perfeitamente o que eu estou fazendo. É mais do que uma simples conexão. Fico muito para cima e sempre volto renovado. É uma honra ir até aí para tocar.”

No palco e nos quatro discos que já lançou (o último foi em 2020, It Is What It Is), Thundercat faz música cabeçuda, sofisticada, e ainda assim atinge em cheio o mercado pop, misturando soul, R&B, eletrônica e muito, muito jazz. Quem é, então, que subestima a capacidade do grande público em apreciar formas menos óbvias de se criar?

“Cara, eu não acho que a indústria musical subestima a inteligência musical das pessoas, principalmente se você compará-la com a Internet e a funcionalidade dos streamings. O que eu acho é que a internet acelera muito e torna mais difícil digerir as coisas. Ao mesmo tempo, agora você tem acesso a muito mais coisas do que antes, e isso é uma espada de dois gumes, para ser honesto. Nós, músicos, sempre estamos conversando sobre isso. Há uma relatividade na música pop o tempo todo. Lady Gaga, na real, é uma musicista incrível e uma grande performer. Bruno Mars também. Kendrick Lamar não faz pop, mas ele é rotulado assim porque seus álbuns sempre se destacam. É muito doido”, finaliza.

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