Pedro Sampaio Foto: Divulgação

Pedro Sampaio: “Não me comporto como um cantor pop, mas como um DJ”

Vitória Zane
Por Vitória Zane

Uma das atrações mais esperadas desta sexta-feira no The Town, astro brasileiro conversa com Vitória Zane

Ensaios, entrevistas, participações… Tudo faz parte da atmosfera que Pedro Sampaio vem criando para sua apresentação no The Town. Ele sobe ao palco The One nesta sexta-feira (12) às 19h20 para uma performance focada na arte do DJ.

Chamado Made in Caos, o show conta com seu time de 22 bailarinos e uma cenografia tecnológica e inovadora, além de cinco plataformas de mais de dois metros de altura e largura, controladas por motores digitais, que serão colocadas no palco, o DJ, produtor e cantor estará em uma plataforma central fixa, com as demais se movimentando ao redor. A iluminação também estará integrada nesta movimentação.

Apesar de manter sua assinatura na dança e no canto, a apresentação quer focar no seu lado DJ. Para isso, remixes inéditos foram criados, reforçando ainda mais a energia caótica que seus shows sempre carregam. Como um dos grandes destaques do funk brasileiro, Sampaio é um verdadeiro hitmaker. Dono de dois álbuns de estúdio — CHAMA MEU NOME (2022) e ASTRO (2024) —, o artista passou a ser reconhecido pelas misturas de elementos que unem as batidas com sonoridades mais pop, eletrônicas e latinas.

Depois de lançar as músicas SEQUÊNCIA FEITICEIRA, PERVERSA (feat com J Balvin) e BOTA UM FUNK (collab com Anitta e MC GW), Pedro Sampaio busca levar o funk a terras internacionais. Leia o papo que tivermos com o artista:

Vitória Zane: O conceito Made in Caos tem sido bastante destacado nesse processo criativo… Em que momento da carreira você sentiu que essa energia caótica poderia ser o seu diferencial?

Pedro Sampaio: O Made in Caos traz a ideia da nossa energia caótica brasileira, sabe? Isso é uma coisa que sempre existiu dentro de mim e que sempre gostei. As minhas músicas sempre passam um pouco por essa energia, e o meu show tem muito dessa sensação… Só que agora a gente quis trazer ainda mais isso pontuado como conceito do show do The Town.

Você é um dos grandes representantes do funk, mas se destacou por acrescentar outras sonoridades nos seus sets, principalmente a música eletrônica. Já percebi mashups com hits de David Guetta e até elementos de psytrance. Como surgiu sua relação com a música eletrônica? Isso ainda te influencia?

O primeiro ritmo que eu comecei tocando foi música eletrônica. Eu comecei no meu quarto, tocando só pra mim e pra minha mãe. Era na época daquele álbum do David Guetta, One More Live, que tinha Memories, When Love Takes Over

Aí eu fui crescendo e fui desenvolvendo essa minha característica de ir misturando os ritmos, e acabou que essa mistura de elementos me levou mais pro funk, porque era uma coisa que eu tinha muito mais contato por ser brasileiro. Mas eu nunca abandonei essas características. Por isso que o meu show tem muito essa coisa do drop… O drop é funk, mas a construção tem muito do eletrônico.

Muito do meu set do The Town também vai ter muita coisa gringa, eletrônica, só que em funk. E eu acho que a música eletrônica sabe mexer com a energia como nenhum outro ritmo.

Você chegou a participar do set do Steve Aoki no Tomorrowland Brasil do ano passado. Tem algum outro DJ de música eletrônica que você tem vontade de tocar junto ou produzir alguma collab?

Caraca, essa participação com o Aoki foi incrível! Mas posso citar dois nomes aqui… Um que a gente já se conheceu e que namora muito com o funk, que é o Diplo, uma música eletrônica que é também urbana e pop. É um cara que eu me identifico muito por essa mistura de culturas. Mundialmente falando, ele gosta de misturar culturas, e eu, nacionalmente falando, gosto de ir para Belém pegar um rock doido e para Salvador pegar um pagodão, misturar com o funk e fazer uma coisa totalmente Brasil, sabe?

E outro cara que eu estou consumindo muito é o Fred again.. É um nome muito potente novo e que tem muito muito a crescer, e também tem essa essa estética urbana que eu acho interessante.

O universo da música eletrônica e o do funk estão muito próximos, mas ao mesmo tempo distantes. Cada um deles tem seus eventos nichados, mas as barreiras estão cada vez menores, porque muitos DJs de techno e house estão adicionando funk no meio do set, por exemplo. Como você enxerga essa relação?

Tudo se conversa. Meu show começa de um jeito, termina de outro, no meio vai para um outro lugar que você nunca espera. E eu levanto essa bandeira. Música é música, e eu nunca vou fechar a porta ou recusar um convite só porque o artista é de um outro gênero, ou não vou aceitar tocar com alguém porque é de um gênero que talvez eu não conheça ou que eu não tenha tanta proximidade. Eu gosto de conhecer coisas novas.

Acho incrível os DJs de música eletrônica brasileiros mesclando com DJs de funk brasileiros, assim como GBR, que faz muito isso com os DJs de música eletrônica. Isso pode ser um motor para um novo nicho musical surgir e ganhar mais força ainda. Acho que todo mundo só ganha com essas misturas.

Você surgiu no funk, mas, assim como o Alok, agora você basicamente é um artista pop. Vocês ocupam palcos em festivais que não são destinados a DJs. No The Town, você toca no The One, em vez do The Tower. Como é a sensação de não estar encaixado num molde?

Eu nunca fui um artista de pensar em me encaixar em nada. Eu sempre fiz o que eu queria muito fazer. Então, desde colaborações com Wesley Safadão até Luísa Sonza, até participar do palco do Tomorrowland com o Steve Aoki, isso foi construindo essa identidade pop de uma forma meio despretensiosa, e a gente foi ocupando lugares.

Obviamente, um fator muito potente para isso tudo acontecer foi o fato de eu cantar também, então as minhas músicas têm a minha produção, porém tem a minha voz… Isso me coloca num lugar pop diferente como cantor também, mas o interessante é que no show eu nunca me comporto como um cantor pop, eu me comporto como um DJ, e é por isso que o público tem um fascínio pelo meu show, que hoje é uma grande potência. Eu até brinco se algum gringo vier: “Mostre o show do Pedro Sampaio para ele sentir a energia brasileira”, porque ele vai ouvir desde É o Tchan! até música eletrônica.

Fico muito feliz de ocupar esses espaços e faço votos e força para que outros DJs também ocupem, porque eu acho que a gente tem uma cena de DJs no geral, seja de eletrônica, seja de brega funk, seja de funk, muito potente, com artistas muito, muito, muito criativos, que na verdade ditam a tendência. Principalmente falando sobre o funk, os DJs ditam a tendência do que vai vir na próxima onda: os novos beats, pra que depois os MCs se encaixem. Então, acho que os DJs são esses visionários.

Você lançou seu álbum em 2022, CHAMA MEU NOME, e em 2024 veio o segundo, ASTRO. Está sendo de dois em dois anos? Teremos algo para 2026?

Eu sempre brinco que a Luísa [Sonza] lança um álbum num ano, eu lanço outro no outro ano, aí ela lança no outro ano e por aí vai. Mas falando sério, são dois álbuns de muito sucesso e é engraçado, porque no início eu falava que nunca iria fazer um. Eu tinha muito essa mentalidade de singles, mas depois eu me encontrei muito criando o álbum e tendo esse todo esse processo. É gostoso, criativamente falando, levar um conceito para o público, uma era. Acho que isso também contribuiu para que eu seja visto como um artista pop, e me posicionou diferente no mercado.

Só que agora o meu objetivo profissional não é construir um outro álbum. Posso falar isso para você agora e amanhã acordar com uma ideia [de um disco], mas o meu objetivo agora é aproveitar as oportunidades internacionais. Quero estar livre no sentido criativo para poder dançar de acordo com a música, porque vêm aparecendo cada vez mais oportunidades internacionais, de projetos diferentes, de músicas, de artistas, de colaborações…

O Brasil vive um momento de internacionalização — principalmente do funk — muito forte, muito vivo. Sei que eu tô nessa prateleira para ser um dos caras que vai poder está à frente disso, assim como a Anitta, Pabllo, a Luísa… Quero estar preparado para isso. Se eu fizer um álbum agora, parar tudo e me mobilizar, mobilizar minha equipe, talvez eu fique muito focado nisso e não olhe para fora.

Vitória Zane

Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música.