Budah Foto: Reprodução

Budah: “As mulheres estão ocupando espaços no rap, mas ainda há muito a conquistar”

Vitória Zane
Por Vitória Zane

Com 2,4 milhões de ouvintes no Spotify, rapper fala com Vitória Zane sobre The Town e a cena feminina no hip-hop brasileiro

Em oito anos de carreira, Brendah Rangel, a Budah, precisou absorver a paz do mestre espiritual budista intrínseca ao seu nome artístico para seguir seu caminho na música. Mas usou ainda mais da força e da energia como combustível para fazer acontecer.

O resultado foi uma indicação ao prêmio de “Melhor Flow” no BET Hip Hop Awards, cerimônia que elege os maiores nomes do hip-hop da temporada. Meses depois, lançou seu álbum de estreia, Púrpura, com 15 faixas. Tudo isso ocorrendo no mesmo ano: 2024.

Hoje, a grande promessa do R&B e rap nacional acaba de lançar Púrpura Session, versão ao vivo do seu disco, e tem show confirmado em 06 de setembro, primeiro dia do The Town. O festival ocorre na Cidade da Música a.k.a Autódromo de Interlagos.

Conversamos com a rapper e cantora de mais de 2,4 milhões de ouvintes no Spotify sobre carreira e perseverança das mulheres na cena.

Vitória Zane: Nos falamos poucas horas depois do lançamento do Púrpura Session. Como tem sido até o momento a repercussão desse projeto diferente do que você tá habituada, sendo ao vivo e com novos arranjos?

Budah: Tá sendo muito lindo. Toda vez que eu vejo meu nome, a galera só tá elogiando, então tô muito feliz. Querendo ou não, eu criei um público muito fiel no rap, e às vezes tenho medo de me arriscar em outras coisas que gosto de fazer, mas acho que independentemente do que eu fizer, meus fãs vão amar, porque tô tendo um retorno muito positivo.

E como surgiu a ideia de apostar em fazer essas versões diferentes do álbum, com banda?

Eu acho que era uma coisa que eu queria como pessoa mesmo, como Brendah, sabe? Eu queria muito ter uma versão de banda das minhas músicas. Toda vez que eu tocava em festival com banda, me dava um negócio a mais. É porque é diferente, né? Você sente… O público responde mais também. E eu acho que a minha música tem esse poder de ser universal, de chegar em outros lugares. Eu queria que mesmo no rap a gente fizesse outras pessoas escutarem. Por exemplo, eu consigo colocar o Púrpura Session num churrasquinho com a minha família. Mesmo que seja rap, ele consegue ir pra qualquer lugar, sabe? Pra todo mundo escutar… Velho, novo, enfim…

 

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E no dia 06 de setembro você toca no palco Factory do The Town. O que que você tá preparando pra esse show? Vai ter banda?

Vai! Eu acho que o Púrpura Session tá bem próximo do The Town. A gente quer trazer essas vozes, porque os backings vocals agregaram muito! Eu já tive backings, mas não com tanta presença que nem a gente teve na session. Depois dessa gravação eu fiquei: “Gente, eu acho que eu não quero nunca mais tocar sem essa galera aqui atrás”, porque enriqueceu muito.

Isso vai ser bem parecido no The Town. Vamos com banda, com toda uma estrutura bem maneira, mas sem deixar de lado a turnê Púrpura. Vamos levar as músicas mais antigas também para agradar quem me acompanha desde o começo, mas vai ter sim essa formação nova, esses arranjos novos e tudo mais.

Você se apresenta no primeiro dia do festival, que tem nomes de peso do rap e do trap. Como foi receber esse convite?

Nossa, minha manager me ligou e eu tava fazendo a unha e comendo ao mesmo tempo. Aí me lembro que ela falou: “Bu, o que você vai fazer dia 06 de setembro?”. Fui correndo ver a agenda e respondi: “Nada, eu tô livre”. Ela: “Palco Factory do The Town? Tá na hora! E no mesmo dia que o Travis Scott“. Nossa, a gente tem um vídeo gravado disso, foi muito engraçado. Pulei da cadeira, eu nem acreditei.

Eu amo Travis Scott de paixão, mas vou tocar no mesmo dia que a Lauryn Hill, tô só pensando nisso. Cara, ela é uma referência muito foda pra mim de canto e de rima… É uma responsa, mas a gente vai entregar tudo, estamos nos preparando pra isso, ensaiando bastante, montando cenários… Muita gente vai estar no palco, vai ser um show especial pro festival.

As mulheres na cena hip-hop estão cada vez mais ganhando protagonismo. E vocês têm uma parceria bem legal, sempre levantando umas às outras e abastecendo esse assunto em todos os lugares. Como é dividir essa cena com artistas poderosas, como Duquesa, Ajuliacosta, Stefanie…?

Eu sou muito amiga de todas. A gente sempre se encontra nos lugares e sai junto. É muito bom pra mim estar rodeada dessas meninas. Eu tenho tido mais proximidade com a Duquesa agora, porque é uma menina que também veio de fora de São Paulo, né? E a Ebony, que veio do Rio. Eu tenho trocado muito sobre as dificuldades que a gente passou e de ter que vir morar em São Paulo e de como isso mudou as nossas vidas. Eu fico muito feliz de a gente estar ocupando esses lugares. Mudou muita coisa. E tem muita coisa pra mudar ainda.

Interessante que o seu nome artístico é meio unissex. Como surgiu o “Budah”? Tem a ver com sua personalidade ser meio zen e bem na paz?

Zero paz, amor. Eu sou uma pessoa pacífica até onde eu posso ser, mas eu tenho uma personalidade bem forte. E como eu grafitava, precisava de um apelido. E eu tinha o cabelo alisado, usava coque, usava largador, e sempre usei muita roupa larga. Um dia, uma amiga pegou e falou que eu parecia um Buda, sabe? E aí, como eu tava precisando de um apelido, aí eu falei: “Mano, não tem ninguém que se chama Budah no Espírito Santo. Vou pegar pra mim”. É simples, é impactante. Aí adicionei o “h”, porque meu nome, Brendah, tem “h” também. Antes de fazer música, já era Budah.

Budah

Foto: Reprodução

E em que parte da sua carreira você teve que ser meio Buda pra conseguir seguir em frente?

Em vários momentos já tive que passar por cima das minhas vontades para chegar em lugares e em pessoas. Várias situações que rolam dentro da indústria, mas eu sei lidar bem com essas coisas, já estou bem calejada de tudo. Hoje em dia eu falo “não” pra várias paradas. Penso: “Também não preciso disso”. Tô meio durona, mas antes eu deixava passar muita coisa porque era necessário.

De qualquer forma, o nome já te inspira a incorporar a “skin Budah” na hora que precisa. Porque lá no tempo da batalha de rimas, depois em 2017, com seu primeiro lançamento, e depois seu primeiro álbum em 2024… Você sente que em um ano percorreu um caminho mais rápido do que nos oitos anos anteriores?

Ter vindo pra São Paulo abriu muitas portas. Desde que eu fechei com a Universal, eu tava em Vitória, onde pouco acontece no rap. A galera é meio cabeça fechada. Eu tocava em momentos muito específicos, e senti que ali eu já tinha feito o que eu deveria ter feito, sabe? E pensava: “Tô com sede de mais alguma coisa, pra onde eu posso ir?”.

Aí eu pensei em ir pro Rio, que é parecido com Vitória, é mais perto, ficaria próxima dos meus pais… Mas resolvi testar São Paulo, porque eu já viajava muito pra cá. Pensei: “Vou tentar ficar uns seis meses, vou ver se eu me adapto ao clima e tudo mais”. E aí eu gostei. Eu vim totalmente sozinha, em busca de um sonho, mas consegui me adaptar bem à cidade. Fiz amigos incríveis. A música tá muito presente aqui. Era uma parada que eu tinha muita sede de viver, ir pro estúdio todos os dias e tal. Essa frequência de trabalho que me fez chegar nesse lugar onde tô hoje, de ter todas essas coisas maravilhosas acontecendo.

Vitória Zane

Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música.