Empire Of The Sun Foto: Reprodução

Review: Empire Of The Sun mostra mais do mesmo em ‘Music On The Radio’

Jota Wagner
Por Jota Wagner

O Sol merece mais

Visualmente falando, o duo australiano Empire Of The Sun remete a uma reinvenção, para a nossa atual era de festivais, do jazzista malucão Sun Ra. Uma estética herdada dos povos astecas e egípcios, de culto ao Sol (abundante em sua terra natal) através de uma espécie de sacerdote musical personificado pelo vocalista Luke Steele, que tem mesmo feições indígenas, qualidade que lhe dá ainda mais moral para incorporar algo mágico em sua presença.

Mas a semelhança para por aí. Ao contrário de Sun Ra, musicalmente o Empire Of The Sun cultua um sol digital, plástico e sintetizado, possível somente em um cenário de videogame, tipo Fortnite ou Second Life. E assim como os cenários virtuais recriados pela tecnologia, é o mesmo Sol de sempre, ao contrário do astro rei da vida real, diferente a cada “nascimento”, dia após dia.

Music On The Radio, terceiro single promocional do futuro álbum Ask That God, com lançamento marcado para 26 de julho, oito anos após Two Vines (2016), serve para nos dar um spoiler de que o disco terá mais do que já conhecemos do duo: chapado e desprovido de combustão, celeuma do chamado pop de festival, gênero musical que tornou a dupla famosa e lugar de onde Luke Steele e Nick Littlemore não pretendem sair jamais.

Embora Changes, o single anterior, apresentado em abril, seja muito bacana, dessas que valem a pena manter naquela playlist descompromissada de fim de expediente, Music On The Radio não nos traz nada de diferente. E gente, em um oceano de músicas novas disponíveis todos os dias nas plataformas, não ouvir algo novo ou surpreendente gera uma sensação chata de perda de tempo, similar a pagar ingresso, entrar em um cinema e dar o azar de topar com um filme mais ou menos.

Music On The Radio e suas irmãzinhas de disco novo seguem na estética sonora sufocante e comprimida que tanto nos encantou na música eletrônica da virada do milênio, encabeçadas por Daft Punk e Justice. Lá atrás, era algo novo, diferente, uma new new wave que nos levava a uma outra borda, distante das batidas minimalistas que dominavam a música eletrônica da época.

Na condição de mais uma música para o universo do indie dance, pop e dançante, a nova do Empire Of The Sun ganha seu lugar, ainda que discreto, em 2024. Não incomoda e também não encanta. Apenas toca, e tocará, em muitos smartphones mundo afora.

Mas o Sol merece mais.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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