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Em grito pela liberdade dos corpos femininos, Mulamba lança videoclipe de “Carne de Rã”

Devido ao Dia da Luta pela Descriminalização do Aborto, que aconteceu nesta segunda feira (28), Mulamba lança o clipe no mesmo dia onde falam sobre o ventre livre e liberdade feminina.

Falar sobre aborto no Brasil é arriscado. Para políticos em campanha, o posicionamento sobre o tema pode custar a eleição. Há 30 anos, feministas latino-americanas instituíram o 28 de setembro como o Dia de Luta pela Descriminalização do Aborto na América Latina e no Caribe que foi instituído no 5º Encontro Feminista da região em 1999, a data marca a luta de todas as mulheres, que apesar de serem responsáveis reprodutivos, ainda não têm o direito de decidir sobre o seu corpo. E quem acha que a música não contribui para esta luta está enganado. 

Mulamba é uma banda curitibana formada só por mulheres que traz diversas músicas, focada em temáticas como violência contra a mulher, empoderamento feminino, combate ao machismo e igualdade de gênero. E é através dessas letras intensas com elementos normalmente associados ao rock. Somadas a vozes dissonantes e contrapondo-as à sonoridade poética da MPB, suas músicas nos chegam como um grito de força e nos tocam as entranhas.

“Enxergamos a música como um mecanismo universal que tem o poder de difundir uma bagagem informativa relacionada a qualquer tema que necessita de voz, espaço e respeito”, comenta Fer Koppe, uma das integrantes para o site Huffpost.

Há um ano “Ventre Laico Mente Livre” foi lançado. O projeto musical em formato de EP mergulhou no debate os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres em cinco faixas interpretadas por artistas diferentes. Foi assim que surgiu “Carne de Rã” da Mulamba que ganha clipe hoje, dia 28 de setembro, Dia de Luta Pela Descriminalização do Aborto. 

 

O sexteto – composto por  Amanda Pacífico (voz), Cacau de Sá (voz), Caro Pisco (bateria), Érica Silva (baixo, guitarra e violão), Fer Koppe (violoncelo) e Naíra Debértolis (guitarra, baixo e violão) –  afinca potência sonora e ecoa os gritos silenciados sob o olhar feminino nos seus trabalhos. “Carne de Rã”, música com participação de Ekena, ganha um registro audiovisual a altura da intensidade e força da banda em um apelo pelo ventre livre. 

“Eu nunca abortei, mas já ajudei em vários processos de aborto, isso dentro da minha arrogância, me trouxe a permissão de cantar sobre o aborto”, conta Cacau. “Eu sabia o quanto o meu apoio era importante pra elas e sem questionar ajudava. Ajudarei sempre a acabar com algo que não queiram. Nunca, em nenhum momento, me senti culpada de alguma forma. O abraço do depois cheio de novas possibilidades me blindava de qualquer peso social”, completa. 

No videoclipe dirigido por Helena Freitas, a dor e o peso que a sociedade exerce sobre os corpos femininos ganha uma narrativa poética através das interpretações de Lourdes Miranda, Lia Petrelli e Terená Kanouté. “A arte é uma forma de sensibilizar as pessoas pra temas que estão presentes no nosso cotidiano, mas que a hipocrisia coletiva faz a gente fingir não ver”, conta Terená. 

Para Helena, é revoltante o país tratar como crime um caso de saúde pública: “A narrativa semiótica do clipe Carne de Rã é sobre isso: a culpa e a invisibilidade sofrida pela mulher, controlada pelas mãos sufocantes do patriarcado”. 

Dedicadas a não aceitar o silenciamento, Mulamba segue cantando as dores.

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