Garage rock, indie, psicodelia, pitadas de anos 70 e clipes à la auge da MTV. A sonoridade das canções de Magon passeia por todos esses elementos e consolida sua autenticidade em Hour After Hour, seu segundo álbum solo, lançado hoje.
Um homem-lagarto caminha sob o céu azul de uma árida paisagem. “Sua cabeça é especial”, diz a mensagem escrita no bumbo da bateria. Essa cena poderia ter saído de um filme do Jodorowsky, mas é ela quem inaugura o clipe de Aerodynamic, a sexta faixa de Hour After Hour. Enquanto a poesia (verbal e visual) de Magon nos instiga a decifrá-la, a simplicidade melódica equilibra muito bem o clima que conduz todo o álbum; uma atmosfera deliciosa de se ouvir e ver.
O artista, que atualmente mora em Paris, contou com exclusividade ao Music Non Stop a sua jornada até o lançamento desse trabalho. “Sempre amei música e sempre soube que iria trilhar esse caminho. Mas tive que servir o Exército [em Israel] e deixei isso um pouco de lado”, revela. “Um tempo depois, eu fingi estar com problemas psicológicos e assim pude voltar para casa. Pensei: o que vou fazer da vida agora? Tentei algumas coisas, mas a única coisa que consegui fazer foi música”. Seus primeiros trabalhos lançados foram como duo Charlotte & Magon, que faziam experimentos sonoros e visuais ao melhor estilo dream pop. Em 2018, ele partiu para a carreira solo com o single The Streets. Dessa vez, o dream pop se unia a um pós-punk repaginado e conceitual, deixando muita gente na expectativa do seu primeiro álbum, Out In The Dark (2019).
Um elemento fundamental para a criatividade de Magon foi, de fato, a experimentação. “Eu nunca tive uma educação musical formal, então tudo o que sei foi experimentando, tentando coisas novas”, ele conta. E deu certo. Magon lapida seu trabalho com as próprias mãos, nos convidando a um universo muito particular de timbres de guitarra carregados de reverb, vozes que mesclam melodias e declamações e videoclipes com uma estética nostálgica muito elaborada.
E com Hour After Hour não foi diferente. É ele quem assina a cuidadosa gravação, produção, mixagem e masterização do álbum de dez faixas, além da edição e direção da maioria dos clipes. “Enquanto eu componho as músicas, naturalmente vão surgindo ideias para os vídeos. Como o orçamento é sempre pequeno, eu gosto de criar dentro das minhas possibilidades”, explica Magon. Apesar das dificuldades da vida de artista independente, ele acredita que o fato de ser responsável por praticamente todos os processos criativos lhe permite ter mais liberdade.
Com o lockdown na França, enquanto produzia Hour After Hour, Magon viu seu processo criativo se modificar. “Eu costumo ter uma pequena ideia e já ir correndo para o estúdio. Lá, muitas ideias que inicialmente eram uma coisa acabam tomando outra forma. Com as restrições da quarentena, eu tive que mudar isso. Acabei desenvolvendo e amadurecendo muitas ideias – que se tornaram canções – e, quando fui para o estúdio, já sabia que era a hora de gravar e produzir”, diz.
Magon também lançou, no dia 12, uma live session gravada em um estúdio-porão em Paris. A canção New Rock!, que encerra o álbum, é a primeira de várias músicas de Hour After Hour que o cantor disponibilizará online enquanto os palcos não retornam. A banda que o acompanha é composta por Ingrid Samitier (vocais e guitarra), Guillaume Bugnot (baixo) e Ferdinand de Fournoux (bateria). Como de costume, Magon ficou responsável pela edição do vídeo e áudio. “Apesar de gravar todos os instrumentos do disco, eu gosto de dar liberdade para eles criarem nas performances ao vivo.”, explica ele.
Hour After Hour é um álbum difícil de se ouvir uma vez só. São muitas camadas de sons e significados para se absorver tudo à primeira ouvida. A singularidade do trabalho de Magon exige uma dedicação e atenção especiais do público; algo muito raro em tempos de rapidez e intoxicação de informações – e que precisa ser aproveitado e degustado. Hour After Hour é uma ótima pedida para isso.