Elisa Audi lança pelo selo Diversall Music, de Ella de Vuono. Conversamos com as duas sobre o lançamento e as influências do single, recheado de sonoridades vindas do techno de Detroit.
De uma relação de amizade que começou entre professora e aluna de discotecagem, as artistas vêm cada vez mais afinando a sintonia no estúdio
*por Lau Ferreira
“Scratched“, o mais recente lançamento da Diversall Music de Ella De Vuono, é mais uma parceria entre a labelhead e sua pupila Elisa Audi, que vem despontando no cenário underground com grande ajuda da professora que virou amiga. O EP consiste na faixa-título, uma produção solo de Audi, e o remix feito por Ella.
Ao Music Non Stop, ambas entregaram detalhes sobre as referências que nortearam o trabalho. E se tivéssemos que resumir tudo em uma palavra, ela seria Detroit. Não só pelos celebrados pioneiros do techno, mas também pelo estilo de house music que ficou associado à cidade. E o lendário expoente do minimal techno, Robert Hood, é aqui a chave que sintetiza os dois mundos, graças a seu projeto paralelo de house, o Floorplan, que em 2016 passou a ser uma dupla entre ele e sua filha Lyric Hood.
“Trabalhei junto com a Ella De Vuono em seu estúdio durante meses em 2019, quando ela me apresentou artistas do house de Detroit, como Floorplan, que começou sendo mais um pseudônimo do artista Robert Hood, além de Monobox e The Vision. É um grande artista, que desde o início de sua história musical leva em seus projetos raízes de techno e house no soul, disco e funk, com timbres clássicos de bateria old school e da TR-808. Reparei que essas características influenciavam os projetos desenvolvidos pela Ella, e acabou se tornando grande inspiração para mim também”, explica Elisa.
A DJ, produtora, pianista e parte do duo Mandala Vermelha cita o excêntrico duo berlinense de techno FJAAK, formado por Felix Wagner e Aaron Röbig — conhecidos pelos seus irreverentes sets híbridos (que, inclusive, passaram pelo Brasil em 2019) e pela paixão pela maconha —, como outra grande influência para seu novo som:
“É um trabalho que me encanta não apenas musicalmente, mas por serem jovens como eu, que tiveram seu talento reconhecido no mundo todo, que cativam o público através de uma identidade peculiar e se apresentam pelo formato de live com vários equipamentos. Tudo isso é muito inspirador para mim, que também estou buscando essa prosperidade através dos meus projetos”.
Ella De Vuono, que fez um remix carregado nos breakbeats para o release, naturalmente, também foi inspirada na cidade que deu luz ao techno, fazendo uso de uma bateria eletrônica da Roland não tão comum a ela.
“Na minha vida artística, eu bebo de várias fontes de inspiração, e Detroit, seja no house ou no techno, será sempre uma das principais. Normalmente, uso a bateria TR-909 para minhas músicas, mas no remix de ‘Scratched’, usei a TR-808, exatamente por querer fazer um breakbeat”, conta.
De Vuono acrescentou outro nome ao hall de referências que formaram o EP: a DJ e produtora transgênero Maya Bouldry-Morrison, melhor conhecida como Octo Octa, que vem há uma década destacando-se com house music de vanguarda. Curiosamente, a artista nasceu em Chicago — a irmã mais velha de Detroit, quando o assunto é música eletrônica de pista —, mas atualmente mora em Nova Iorque.
“Todas as referências da Elisa já estavam mais que evidentes na música original, e o projeto Floorplan é um dos meus favoritos há anos, sempre será uma fonte de inspiração. Então acabei explorando outra referência: uma produtora norte-americana que admiro muito, a Octo Octa. Ela também mata sua sede na mesma fonte que eu: Detroit. Não só em minha carreira, mas na Diversall Music, tento sempre manter a sonoridade clássica em evidência, simplesmente pelo fato de soar sempre atual, por mais old school que seja”, conclui.
Idealizada e fundada por Ella a partir da premissa de abraçar a diversidade, a Diversall Music chegou ao mercado em março, com o EP “The Dive”, e de lá pra cá, trouxe quatro lançamentos, todos envolvendo a dona da gravadora e/ou sua aluna de ouro. “Scratched” saiu no dia 25 de junho.
Depois de algumas experiências erráticas na música, Elisa Audi começou a se encontrar no techno nos últimos anos, e desde então, vem surpreendendo. Seu projeto solo atual estreou em 2019, pela Hotstage Records de Murphy e Spuri — um ano depois de ter estudado discotecagem com Ella De Vuono na AIMEC Campinas, e ter conhecido através dela a prolífica cena underground de São Paulo. A partir dali, surgiu uma relação de amizade e admiração artística mútua, em que De Vuono vem apostando cada vez mais no talento de Audi.