“Elephant” na sala: os 20 anos do clássico do White Stripes, que não sai de moda

Claudio Dirani
Por Claudio Dirani

Edição de luxo de Elephant relembra a relevância do álbum mais importante do The White Stripes

 

Em abril de 2003, 50 Cent, R. Kelly e Jennifer Lopez eram alguns dos nomes que dominavam as paradas norte-americanas.
Nada parecido com o som que estava por vir naquele mês: Elephant, o quarto e mais poderoso armamento sônico da dupla The White Stripes, municiado com um dos principais hits do início do século: “Seven Nation Army”.

Sem suspeitar, a música não só dominaria as rádios (ainda muito ativas) de rock do Planeta, como seria adotada como “hino” extraoficial dos clubes de futebol. Incluindo a hilária versão da Seleção do México, que usava a melodia de “Seven Nation Army” para idolatrar o atacante Oribe Peralta.

Duas décadas se passaram desde o nascimento de Elephant, que retorna agora aos canais de streaming como Spotify, Deezer e Apple Music, com uma edição comemorativa de 20 anos de seu lançamento – infelizmente, somente na versão digital.

Sem extras de estúdio, o disco mais importante da carreira de Jack White e sua ex-mulher, Meg, presenteia os fãs com o registro da apresentação da dupla no Aragon Ballroom, em Chicago, 2 de julho de 2003.

Porém, mais importante do que o bônus, esta celebração de Elephant e sua segunda década é como relembrar de sua perene relevância na cultura pop. Apesar da decadência do rock, o disco ainda soa como se tivesse chegado hoje aos ouvidos dos terráqueos.

 

 

Um “Elephant” nos Simpsons

A relevância de Elephant não se resume ao poder hipnótico de “Seven Nation Army” como trilha sonora rock and roll “antêmica” da primeira década do século. O álbum tem mais cartas na manga que um single de sucesso.
Dizem que ser escolhido como convidado para contracenar no icônico seriado The Simpsons (no ar ininterruptamente desde 1991) é uma espécie de passaporte para eternização no universo pop.

E esse momento aconteceu para os White Stripes no episódio Jazzy and The Pussycats, exibido em 17 de setembro de 2006 – pouco mais de três anos após a chegada de Elephant.

Nem é preciso dizer que a paródia de “The Hardest Button To Button” rouba a cena da atração, comprovando a popularidade dos Stripes – e do disco Elephant – àquela altura do campeonato.

Era mais uma prova de que o LP não seria apenas um estranho ninho do mundo alternativo. Era mais um carimbo no passaporte dos heróis de Detroit para o estrelato. Era visível que Jack e Meg White colocaram um toque de midas em sua criação.

Se “Seven Nation Army” e “Hardest Button to Button” garantiam os royalties para o The White Stripes, os deep cuts de Elephant completavam a missão de solidificar a escalada do inimitável blues produzido pela dupla.

“Little Acorns”, “Ball and Biscuit” e o cover do eterno Burt Bacharach “I Just Don’t Know What to Do with Myself” provariam ser coadjuvantes de luxo de um álbum estelar e atemporal.

Em entrevista ao New York Times em março de 2003, Jack e Meg White abriram o jogo sobre a gênese do que viria a ser o mais importante trabalho da dupla, e de quebra, profetizaram sobre o futuro de uma geração “rockless” – desapegada das guitarras.

Q: Você chegou a dizer que o seu novo álbum Elephant seria sobre “a morte da namoradinha”. Mas o que isso quer dizer?

Jack White: A garota queridinha em questão, o homem galanteador…é mais ou menos a mesma coisa. Essas ideias parecem estar em declínio. E eu odeio isso. Você olha e percebe que a maioria da garotada usa piercings e tatoos, e os caras imitando sotaque dos guetos, porque fazem eles parecerem durões. Bem, a gente é totalmente contra isso.

Q: Então, você deseja que as pessoas agora adotem esse passado?
Jack White: Não, nem estou dizendo que sou conservador ou algo aparecido. Mas é triste ver a molecada ouvindo hip-hop ou nu metal com um Playstation queimando um cigarro de maconha. Essa é a vida deles agora. Virou uma cultura. E os pais parecem não ligar para isso.

Os elefantes nunca esquecem – algumas histórias por trás das canções

Ball and Biscuit – Tributo de White ao bluesman Willie Dixon – e ao microfone STC 4021 usado para gravar a música no Toe-Rag Studios, em Londres. A música mais longa da discografia da dupla.

Hypnotize – Como conquistar uma garota sendo um cara tímido? Simples: hipnose.

In the Cold, Cold Night – Vocal solitário de Meg White no álbum.

Seven Nation Army – O título, na verdade, é um jogo de palavras com Salvation Army (Exército da Salvação). Jack White costumava confundir a palavra quando criança, e a resgatou para dar nome à música. O riff inimitável de Seven Nation Army foi pensado como um tema do agente 007.

The Hardest Button to Button – Jack White revela a ideia por trás da música: “Há um botão no topo do meu casaco azul marinho, e é o botão mais difícil de abotoar. Achei que era uma ótima metáfora para um homem sem sua família. Também é algo que nasceu dos ditados de meu pai, como ‘Meu tio Harold tinha um colete de 10 botões, mas só conseguia fechar 8.'”

Girl, You Have No Faith In Medicine – “Acho que é apenas sobre essa ironia nas relações masculinas e femininas, Algo como quando as coisas não dão certo e elas tomam remédios para dor de cabeça . Aspirina, Tylenol e coisas assim. É como se os homens pudessem tomar qualquer coisa como uma pílula de açúcar e isso faria sua dor de cabeça ir embora. Mas sempre há algum tipo de cuidado especial com as mulheres. É uma espécie de metáfora que você usa para encontrar mais tempo para cuidar de uma pessoa.”

Claudio Dirani

Claudio D.Dirani é jornalista com mais de 25 anos de palcos e autor de MASTERS: Paul McCartney em discos e canções e Na Rota da BR-U2.

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