Ela canta, produz, mixa, faz tours bombadas e arrasa no Beatport. Conheça a poderosa BLANCAh, novo talento export de Floripa

Jade Gola
Por Jade Gola

De frente para o mar no sossego do bairro Bom Abrigo, em Florianópolis, para as grandes capitais da música eletrônica, BLANCAh é um nome a se atentar no cast de talentos brasileiros. Antes Paty Laus, DJ de roteiros mais manjados, agora ela está à frente de um nome que preza por um bonito techno melódico, cantarolado. BLANCAh lança por selos internacionais, emplaca no Beatport, é agenciada pelo D-Edge e faz bonito nas abastadas cenas do Sul e também na europa. Ela é puro talento, mais um case de sucesso das gurias de nossa cena, que sempre estamos buscando mapear e destacar.

Inspirada pelos voos altos e bonitos dos pássaros, e também pelo “lirismo” e a mão certa no mix de nomes como Mano Le Tough e James Blake, BLANCAh vem construindo uma rebuscada identidade autoral, que chama a atenção e vem se destacando na cena 4×4, muitas vezes resumidas a rapazes brancos tocando o mesmo som mundo afora. E ela também é ótima entrevistada, que não se prende à sisudez da busca por autenticidades além-gênero e não vê problema em descrever que tipo de som toca. Ou seja, entrevistar BLANCAh rendeu a ótima conversa abaixo, que acontece na expectativa do lançamento de Nest nos próximos meses, seu primeiro álbum.

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Music Non Stop – Em que momento percebeu que sua carreira iria deslanchar? Quando sentiu-se segura trabalhando com música?

BLANCAh – Viver de arte é como um salto no escuro. Ou você tem muita fé de que vai aprender a voar sem se esborrachar, ou você é muito louco a ponto de não se importar com as consequências desta salto, apenas se lança e vai. Posso dizer que durante toda minha carreira intercalei estes dois sentimentos. Hora super confiante, hora kamikaze.

Quando tive a oportunidade de lançar meu primeiro EP na Steyoyoke Recordings vi um caminho se abrindo na minha carreira. Coincidentemente foi neste mesmo momento que dei vida à BLANCAh e comecei a me dedicar exclusivamente à musica. De 2013 para cá meu trabalho vem se consolidando e amadurecendo. O “deslanchar” creio que é uma consequência. Também sinto que a minha entrada na D-Agency colocou meu bonde nos trilhos. Eu nunca havia trabalhado com uma agência antes, sempre fiz tudo por minha conta e isso me tornava bastante limitada porque minha especialidade não é me vender ou negociar. Trabalhando com eles tenho a oportunidade de viajar o Brasil todo levando minha música cada vez mais longe.

Empunhando o microfone no clube Beehive (Foto: Juliano Conci)

Empunhando o microfone no clube Beehive (Foto: Juliano Conci)

Music Non Stop – Definir música eletrônica é sempre complexo. Mas como você apresentaria ou descreveria seu som, sua música, para alguém que ainda não te conhece ou está curioso em conhecê-la.

BLANCAh – Também acho uma tarefa complexa esta de definir arte com palavras. Ainda mais neste momento em que as fronteiras estilísticas estão cada vez mais diluídas, muita coisa se mistura e a gente às vezes se perde. Outro dia um amigo meu me disse rindo: eu não sei definir o teu estilo, então quando alguém me pergunta eu digo apenas que é house, porque no final das contas tudo veio dali. Rimos juntos, mas faz sentido.

Bom, vou tentar responder sobre as minhas produções dizendo primeiro o que minha musica não é. Minha musica não é reta, não é dura, não é industrial, não é do tipo clássica, não é hard, não é pop, não é trance, não tem buzina, não tem sirene e não é bomba. Acho que fica ali entre um Techno melódico e a electronica ambiente. Sinto que ela pende mais pra contemplação do que para o agito. Já meus sets são mais fortes, definitivamente o que eu toco é Techno com uma pitada de progressivo e quando posso coloco algumas experimentações no meio. No fim acho que falei e não consegui responder a esta pergunta. Viu como é difícil ?!

 

Music Non Stop – Produzir foi algo que você sempre sonhou, ou veio das exigências do mercado?

BLANCAh – Foi algo que sempre tive vontade: compor e me expressar. Eu tinha banda na adolescência, compunha letras e tocava guitarra. Só cresci e transpus isto para a música eletrônica. O mercado não me influencia neste sentido. Eu não me forçaria a produzir ou contrataria fake producers apenas para me adequar a uma demanda, coisa que muitos fazem por aí.

Music Non Stop – Como que o EP Soturno exibe bem sua personalidade e suas ambições artísticas?

BLANCAh – Eu tenho um jeito particular de classificar as músicas que eu faço e toco. Divido elas entre “músicas fáceis” e “músicas difíceis”. Músicas fáceis para mim são aquelas que literalmente entram fácil dentro de um set, seja pela composição, arranjo, ou seja pela padronização que algumas seguem. As músicas difíceis exigem um pouco mais quando você pensa em adicionar elas em um set. Elas têm arranjos mais diferentes ou complexos ou saem do padrão. Quando eu compus este EP Soturno eu sabia que queria fazer músicas difíceis. Também sabia que correria o risco de deixá-las não-vendáveis ou executáveis para a maioria das pessoas.

A música Soturno tem um break de 2 minutos, ele entra como se fosse uma música dentro da música… É um momento meio suspenso onde as pessoas se olham como quem dizem: que porra é essa? Haha. Eu tenho essa sensação quando toco ela.  A Musica Ode a Um Corpo Imperfeito também tem características particulares… Uma introdução longa composta por um solo bem triste… E essa melodia se repete mais duas vezes onde vou acrescentando elementos percussivos.  Minha personalidade me pede para tentar sempre buscar algo que saia um pouco do lugar comum e este EP, no meu ponto de vista, é o que melhor ilustra isso.

Pássaros são adorno e inspiração temática para a música de BLANCAh

Pássaros são adorno e inspiração temática para a música de BLANCAh

Music Non Stop – Qual o seu set-up de produção? E como é seu acervo de músicas para DJing ?

BLANCAh – Tenho um Mini Mac dedicado exclusivamente à produção. Minha placa de áudio é uma duet2 . Tenho uma controladora da Korg, quatro synths analógicos, um teclado velho, um par de monitores da Yamaha e um microfone para captar uns barulhinhos. Meu acervo é relativamente pequeno… Tento manter comigo apenas o que eu gosto e o que eu realmente toco. Antes eu era do tipo acumulativa, comprava e baixava muita coisa com a ideia de “quem sabe um dia eu toco”. Hoje sou bem mais seletiva e só invisto meu dinheiro comprando o que realmente me interessa.

Music Non Stop – Como que Florianópolis, a cidade e sua cena, te definem artisticamente? E como é viabilizar uma agenda agitada pelo Brasil e o mundo morando em SC?

BLANCAh – Sim, minha base e meu estúdio ficam em Florianópolis. Não me sinto definida pela cidade e hoje frequento pouco a cena da capital, em geral saio de casa apenas para trabalhar e tenho tocado pouco por aqui. Claro que morar de frente para o mar é algo inspirador, principalmente pelo sossego e paz para criar. Mas não saberia te dizer se minha produção seria diferente se eu morasse em outro canto do mundo.  Acho que não viu.

Hoje não há tanto problema em viabilizar essa agenda. Há uns anos atrás quando comecei a discotecar era quase um senso comum entre os djs a ideia “preciso me mudar pra São Paulo” .  Hoje o cenário é bem outro. São Paulo já não é uma exigência. O Sul do país vem apresentando uma demanda enorme de clubes, festas e meus eixo gira muito em torno destes quatro estados: SP, SC, PR e RS.

@ Superafter D-Edge

@ Superafter D-Edge

Music Non Stop – Quem são seus grandes ídolos das picapes aqui no BR e no exterior?

BLANCAh – Admiro Maceo Plex pelo conjunto da obra. Acho ele um artista consistente e versátil e praticamente tudo o que eu já ouvi dele é bom. Admiro Richie Hawtin pela visão empresarial e pelos experimentos com tecnologia. Admiro Mathew Jonson, Petar Dundov, Nicolas Jarr, James Blake, Prins Thomas e David August pelo lirismo.

No Brasil os dois produtores que me agradam são L_cio e Zopelar. Mas há uma geração toda nova que vem surpreendendo bastante como o jovem Tiago de Renor, Moov e Binaryh.

 

Music Non Stop – Nas bios e entrevistas você sempre destaca a performance de suas tracks no Beatport. Dá para ter um bom retorno financeiro, ou a plataforma de vendas deles é mais uma exposição de marketing?

BLANCAh – Com certeza alguns artistas e labels são big sellers nesta plataforma e faturam uma grana considerável. Este não é exatamente o meu caso ainda. Meu EP de maior sucesso em termos de vendas foi o BIRDS e com o dinheiro provindo do Beatport eu pude viajar para Berlim. Mas com certeza ainda encaro o Beatport como uma plataforma de exposição muito mais do que como uma fonte de renda.

Com dinheiro de vendas no Beatport, BLANCAh custeou rolê berlinense

Com dinheiro de vendas no Beatport, BLANCAh custeou rolê berlinense

Music Non Stop – Como está sua agenda de gigs para este segundo semestre e que sonhos artísticos pretende realizar?

BLANCAh – Meu segundo semestre está lindo.  Na segunda metade de julho viajo novamente para os EUA, me apresento em L.A e San Diego, e faço minha estréia no Canadá. Na volta já chego tocando em gigs super bacanas em Londrina, em Lages na festa do núcleo Sonnora, na sequência engato D-Edge, Nuhd, e uma festa em SP em um lugar incrível chamado Fabriketa.

Mas o que faz deste semestre algo realmente especial pra mim é o lançamento do meu primeiro álbum. Este é um sonho antigo que vou realizar e estou muito feliz por isto. O resultado está lindo e não vejo a hora de poder compartilhar com todos.

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