Dupla Air borrifa perfume francês sonoro no show em comemoração de 10 anos do site Popload

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Jovem, se você está na casa dos 30 e tantos (ou um pouco mais que isso), já deve ter desfilado, orgulhosamente, com um CD ou LP da dupla Air debaixo do braço. Se não teve o disco físico, certamente já tomou um vinho ouvindo em MP3 o som sexy, sofisticado, eletrônico-sem-ser-vulgar da dupla formada por Jean-Benoît Dunckel e Nicolas Godin, que em 1998 deu a luz ao Moon Safari, até hoje um dos discos mais importantes do pop.

Na noite desta terça (15), pleno final de feriadão, Dunckel e Godin trouxeram sua elegância francesa, vestindo roupas brancas justinhas e o clássico cabelo ensebado, ao palco do Audio Club para festejar os 10 anos do site Popload, do jornalista (e parça desta escriba) Lúcio Ribeiro.

Assim que foi anunciado, em março deste ano, o show entrou pro rol dos eventos tem-que-ir, já que se tratava não apenas de um show do Air, mas de um show tipo best of de celebração de 20 anos da dupla, parte da turnê de divulgação da coletânea Twentyears, lançada em junho deste ano com o filé da produção deles, além de remixes.

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O sonho de poder ouvir Sexy Boy e outros hinos criados pelos franceses que reinventaram o coolness musical da pátria de Serge Gainsbourg estava prestes a ser concretizado quando Dunckel e Godin deram início aos trabalhos com pouco mais de meia hora de atraso. Subiram ao palco com banda e rodeados por seus sintetizadores, vocoder, violão e a certeza de que tinham vindo pra arrebatar corações paulistanos mais uma vez.

Pra quem já os tinha visto em São Paulo, em 2010, debaixo de um toró no festival Natura Nós, ver a dupla numa casa de shows de porte médio foi um conforto extra. O único senão foi o som, que passou boa parte do show num volume baixo.

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Mas quem se importava? O show abriu com a linda Venus, do terceiro disco, Walkie Talkie, de 2004. A música não era o hit do álbum que todo mundo queria ouvir, mas foi perfeita pra começar a borrifar o perfume francês sonoro no ambiente. A terceira música, Cherry Blossom Girl, com seu violão dedilhado e vocal à la Bee Gees, foi o que bastou pra dupla colocar o público no bolso e daí em diante passear pelos hits colecionados ao longo de 20 anos de carreira.

Ao todo, a dupla lançou oito discos criando todo um universo em torno de si: um mix de chanson française com notas de Gainsbourg e Françoise Hardy, sintetizadores (muito Moog) amaciados e redondos como um bom pinot noir, vocais sussurrados em inglês, letras sensuais e outras apenas viajantes. Ambiance perfeita para romance ou simplesmente para pensar na vida e se perder em digressões solitárias. Ou, deixando a elegância de lado, a música de motel dos sonhos.

Lá pela metade do show eles atacam de Playground Love, música mais conhecida da trilha composta para o belíssimo filme The Virgin Suicides, de Sofia Coppola. Nunca uma história sobre suicídio foi contada de forma tão bela e certamente a trilha construída pelo Air ajudou a arquitetar essa façanha.

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Em pouco mais de uma hora, estávamos ali estatelados assistindo a um show impecável, de artistas com longa estrada, mas que aproveitam cada minuto no palco. Dividindo-se entre os vocais e mostrando como se usa sintetizadores pra fazer música pop, mas com extremo requinte, o Air deu a São Paulo o show que prometeu, uma coleção best of de arrepiar os cabelinhos da nuca.

Antes de sair pro bis, eles mandaram Kelly Watch The Stars, um dos vários hits de Moon Safari, com Nicolas Godin no vocoder.

Fim da primeira parte do show, só faltava a pá de cal para soterrar o Audio lotado com sua avalanche de finesse. Eis que eles voltam pro bis armados até os dentes com a munição mais infalível da carreira, músicas tiradas de Moon Safari: a tão aguardada Sexy Boy e a lisérgica La Femme D’Argent.

Air canta Sexy Boy em São Paulo 

Où sont tes héros aux corps d’athlètes (onde estão seus ídolos de corpo de atleta)
Où sont tes idoles mal rasées, bien habillées (onde estão seus ídolos de barba mal-feita e bem vestidos)

A letra que fez tanta gente aprender um pouquinho de francês nunca soou tão atual com Dunckel e Godin com a mesma postura e garbo (pra usar uma palavra fina) de 20 anos atrás.

Missão cumprida. Certamente saímos mais chiques do entramos nesse show. Que o mundo aprenda mais com a elegância do Air. Nesta quarta (16) tem mais Popload Gig, com a banda americana Edward Sharpe and the Magnetic Zeros e com a cantora australiana courtney barnett! Mais infos aqui no evento.

Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.