The Drone Lovers junta três gigantes da cena eletrônica em álbum e clipe que você precisa conhecer
De fato, não tá fácil pra ninguém. Mas tá um pouco pior para a personagem central do videoclipe da música Chemical Reaction, do trio brasileiro The Drone Lovers, que foi lançado nesta terça (2). No clipe, a vocalista, synth diva e produtora Érica Alves, que o leitor do Music Non Stop já conhece de outros Carnavais, interpreta uma funcionária numa fábrica de manequins que acaba vivendo um pesadelo diário à la Freddy Krueguer com os bonecos que produz.
O suspense é bem costurado por cenas que terminam com uns baita sustos e a pobre da Érica, que enfaixou um dos braços especialmente pro clipe, passando por apuros. O vídeo tem direção de Rabih Aidar e Vecks, da Planalto, e foi rodado em São Paulo. Agora chega de papo, vamos ao clipe.
The Drone Lovers – Chemical Reaction
A banda está representada no clipe apenas pela Érica, que, diga-se, fez uma bela atuação. Não estão na história os DJs e produtores Davis Genuino e Pedro Zopelar. Juntos há alguns anos, os três acabam de lançar o primeiro disco como The Drone Lovers. O álbum End of Civilization, lançamento do selo Ganzá (Skol Music), é uma bela amostra da força de Davis, Zopelar e Érica, peças das mais importantes do atual cenário de música eletrônica no Brasil.
Separados, os três são fortes articuladores da cena nacional: Davis, além de DJ e produtor, é um dos cabeças por trás da recente movimentação das festas de rua em São Paulo (é dele e de Márcio Vermelho uma das mais fervidas, a ODD); Érica mantém seu trabalho solo focado em vocais e sintetizadores, instrumento, aliás, que ela usa para dar aulas empoderadoras para mulheres nos workshops Synth Gênero; e Zopelar desponta como um dos mais interessantes produtores do país, seja em sua carreira solo ou como parte de outros projetos, como o Gaturamo e o Teto Preto.
Motivos não faltam pro Music Non Stop fazer um entrevistão com os três. Então, eis a conversa aqui.
Music Non Stop – Vocês já têm algum tempo de estrada, como se conheceram e como rolou a ideia de montar uma banda?
Pedro Zopelar – Nós já fazíamos algumas colaborações à distância, mas a ideia da banda só veio a calhar depois que a Érica também se mudou pra São Paulo e pudemos colocar em prática nossas colabs para um projeto mais sólido. Digamos que surgiu naturalmente como uma necessidade que tínhamos na época em que nos conhecemos de nos unir para fazer música.
Davis – Como o Pedro bem disse, nós fazíamos colaborações à distância. Com a mudança do Pedro e da Érica para São Paulo, naturalmente nos aproximamos e nos identificamos ainda mais no processo criativo e amaduremos a vontade de termos a banda.
Érica – Conheci Zopelar no conservatório e começamos a colaborar juntos. Um dia ele mostrou nossas faixas pro Davis e a partir disso surgiu o convite para eu me juntar a eles no The Drone Lovers.
Music Non Stop – Gostaria que citassem algumas das influências mais fortes no som de vocês?
Pedro Zopelar – WhoMadeWho, Gus Gus, Little Dragon, 4AD, Innervisions. São algumas poucas influências.
Davis – LCD Soundsystem, GusGus, Connan Moccasin.
Érica – Bjork, Cibelle, Roisin Murphy, Grimes.
Music Non Stop – No álbum tem espaço para muitas facetas diferentes de vocês, tem pop, tem latinidades, tem cold wave (que sempre foi muito forte no som de vocês). É uma coletânea de vários momentos ou vocês sentaram pra compor um álbum mesmo?
Pedro Zopelar – É uma coletânea de todos os nossos momentos, rearranjamos canções que foram compostas desde o início com a pegada atual do nosso som. É legal pois cada música remete a um momento dessa união.
Davis – As músicas do álbum aconteceram de uma forma muito espontânea, sem compromisso de “temos que fazer um álbum”. Muitos experimentos, muitas tentativa de shows, diferentes set ups e algumas sessões de estúdios resultaram neste trabalho.
Érica – O álbum foi sendo composto ao longo dos seis anos em que colaboramos juntos. As diversas facetas têm a ver com nossas histórias individuais e as diversas fases pelas quais passamos durante esse tempo.
Music Non Stop – Vocês três têm histórias solo. A banda é o momento de somar tudo isso?
Pedro Zopelar – Sim, mas não só isso. A banda foi também um grande aprendizado e inspiração para todos os nossos trabalhos musicais em geral. Lançar e trabalhar com o selo Ganzá foi uma experiência bem interessante para descobrir um mundo da música que ainda era novidade pra nós. Tivemos um suporte muito maneiro de estúdio, desde gravação e finalização das faixas junto ao Dudu Marote, o que foi sem dúvida uma experiência única pra nós e uma grande soma para evolução do nosso trabalho.
Davis – Sim, é muito bom quando estamos juntos. O aprendizado, a troca de experiências nos diversos níveis. Eu admiro muito meus amigos. Eles são minha inspiração para muitas coisas fora da banda. Trilhar esse caminho ao lado deles faz as coisas serem mais alegres, mais desafiadoras, me traz maior segurança. Sou muito grato por ter esse privilégio. E, acredito, que podemos ir muito mais longe juntos.
Érica – Sim, além de que é um projeto que nos fortaleceu muito como produtorxs e músicxs, nos permitindo vivenciar grandes momentos de amizade e nos lançarmos juntos na indústria musical brasileira. Eu aprendi muitíssimo e continuo aprendendo como artista e produtora com minha vinda do Rio a São Paulo a convite desses dois grandes parceiros.
Music Non Stop – Como é o processo de compor as músicas, já que os três são produtores, como fica essa divisão?
Pedro Zopelar – Não temos uma fórmula. Cada música surge de uma forma, mas geralmente a parte de canção é sempre idéia da Érica, enquanto eu e o Davis sempre cuidamos mais da produção em geral, desde arranjo até a finalização das faixas. Porém essa ordem não é uma regra pra nós, nós três fazemos um pouco de cada coisa também.
Music Non Stop – E as letras, temas, como surgem?
Pedro Zopelar – Inspirações da nossa exímia songwriter Érica Alves.
Davis – Érica, ela é foda. Tudo que ela compõe queremos transformar em música imediatamente.
Érica – Geralmente sou eu que faço a parte da canção. Surgem das minhas pesquisas de criação. Às vezes componho especialmente pensando em TDL, às vezes eu levo canções minhas que creio encaixar na proposta.
Music Non Stop – Como vocês estão percebendo o amadurecimento da cena eletrônica nacional, hoje faz mais sentido pra vocês existirem como banda?
Pedro Zopelar – Mais sentido talvez, sim. No início era super estranho ter lives nos clubs ainda. Hoje já virou praticamente um pedido do público para as festas terem mais lives no lineup. Isso sem dúvida é fruto do avanço e disseminação dessa vertente de performance aqui no Brasil. De cinco anos pra cá muitos produtores apareceram já com essa necessidade de apresentar um trabalho autoral ao vivo e hoje podemos ver diversos nomes de muita qualidade da cena nacional fazendo isso.
Davis – Faz muito sentido, pois como falei, juntos podemos fazer muito mais do que individualmente. Este amadurecimento vem da união de ações de diversos atores desta cena. Hoje colhemos do trabalho de outros, portanto, é nosso compromisso nos dedicar à manutenção e ampliação das oportunidades para aqueles que estão buscando oportunidades de mostrar seu trabalho, sua arte. Queremos que as oportunidades sejam cada vez mais ampliadas, que elas sejam mais acessíveis, mais presentes.
Érica – Creio que a configuração banda é universal a ponto de transcender momentos históricos. Vai sempre fazer sentido pra mim.
Music Non Stop – O que vocês gostariam de ver acontecendo na cena musical brasileira no curto prazo que ainda nao aconteceu?
Pedro Zopelar – Espaços de co-working de estúdios para alugar, várias salas juntas em um prédio, com equipamentos de qualidade e suporte seria bem legal… como uma galeria de estúdios.
Davis – Um organismo mais bem organizado. Um maior incentivo ao mercado independente, uma maior difusão de oportunidades, mais palcos para os artistas poderem se apresentar. Mais espaços como estúdios, laboratórios de criatividade, maior acesso à tecnologia, conhecimento e equipamentos em geral.
Érica – Uma espécie de organização livre, independente e democrática que lutasse por direitos de trabalhadores da cultura e entretenimento. É inacreditável uma indústria cultural que traz eventos de tão grande porte como grandes festivais de música eletrônica e megaeventos esportivos não oferece estabilidade para artistas, produtores, jornalistas e outros que incessantemente fomentam a cena, abrem espaço, divulgam ideias e formam público.