LP de Donald Byrd foi gravado em 1974 e lançado em 1975, pela Blue Note Records
Este ano, faço 50. Nasci em 1974, o mesmo período em que grandes álbuns foram lançados, como Thrust, de Herbie Hancock, Get Up With It, de Miles Davis, Expansions, de Lonnie Liston Smith, e I Am Not Afraid, de Hugh Masekela. 1974 também foi quando um dos meus artistas favoritos, Donald Byrd, começou a gravar um álbum marcante no meu estilo predileto de jazz (jazz-funk/jazz-soul): Stepping Into Tomorrow, lançado no ano seguinte. E é sobre ele que escrevo esta coluna comemorativa.
Donaldson Toussaint L’Ouverture Byrd II nasceu em 9 de dezembro de 1932, em Detroit, Michigan, Estados Unidos. Filho de um ministro metodista e músico amador, cresceu em um ambiente musical. Após se formar na renomada Cass Technical High School e passar um período na Força Aérea dos Estados Unidos, ele graduou-se na Wayne State University e concluiu um mestrado em educação musical na Manhattan School of Music. Mais tarde, obteve um doutorado em educação pela Teachers College da Universidade de Columbia, em 1982.
Com um estilo lírico e marcante no trompete, Byrd chegou a Nova Iorque no auge da era do bebop, aos 23 anos. Em 1955, já integrava os Jazz Messengers de Art Blakey, substituindo o lendário Clifford Brown. Sua carreira, marcada pela busca constante por inovação e valorização das raízes afro-americanas, logo se destacou. Uma de suas grandes contribuições foi seu papel como mentor, ajudando a orientar jovens músicos como Herbie Hancock em seus primeiros passos.
Na década de 1960, firmou-se como um dos grandes nomes do jazz assinando com a Blue Note Records, onde permaneceu por 19 anos. Durante esse período, gravou com praticamente todos os grandes nomes do estilo, e lançou mais de 50 álbuns, além de colaborar em 97 outros. Também estudou com a renomada teórica Nadia Boulanger em Paris, expandindo seu conhecimento musical. Preocupado com a falta de reconhecimento da música afro-americana nas academias, foi pioneiro na criação de cursos de jazz em universidades dos EUA.
Em 1973, Donald percebeu as mudanças no cenário musical e lançou os álbuns Black Byrd e Street Lady, que incorporavam elementos de jazz, funk e soul. Black Byrd, gravado com seus alunos da Universidade Howard, foi um enorme sucesso, vendendo mais de um milhão de cópias, um feito inédito para a Blue Note. No entanto, essa nova direção causou estranheza em críticos conservadores, que viam seu movimento como um afastamento do jazz tradicional. Ainda assim, Byrd seguiu firme, ajudando a moldar o som que influenciaria o pop e o hip-hop nas décadas seguintes.
Em 1974, Donald Byrd deu continuidade à fusão do jazz com outros gêneros, entrando em estúdio em outubro, mês do meu aniversário, para gravar Stepping Into Tomorrow, que seria lançado em 1975. Este álbum, com uma forte pegada de R&B e funk, é uma verdadeira joia do jazz-funk, fruto de sua colaboração com os irmãos Mizell. Enquanto alguns críticos da época desdenhavam dessa nova direção, o músico seguiu seu caminho, sem se importar com os puristas que ansiavam pela era de ouro do jazz.
O disco traz solos vibrantes de Donald e Gary Bartz, vocais em coro que funcionam como um instrumento adicional, e camadas de sintetizadores que enriquecem os arranjos. Com melodias suaves e um groove profundo, Stepping Into Tomorrow consolidou-se como um dos maiores exemplos de criatividade e ousadia da década de 70, influenciando gerações futuras e permanecendo relevante até hoje.
Suas músicas foram amplamente sampleadas por artistas de hip-hop, como em Footprints (A Tribe Called Quest), Definition of a Thug Nigga (Tupac Shakur) e Fear of a Black Planet (Public Enemy), além de faixas de Wiz Khalifa, De La Soul, Eminem e Massive Attack, só pra citar alguns, garantindo ao artista um lugar eterno nas pistas de dança e nas batidas urbanas que surgiam.
Donald Byrd faleceu em 04 de fevereiro de 2013, aos 80 anos, deixando um legado impressionante como trompetista, educador e inovador musical. Até o fim de sua vida, ele continuou a ensinar, inspirar e criar música. Viva, Donald Byrd! A música vive!