Documentário Tribes: Discwoman mostra o incrível trabalho de inclusão e empoderamento feminino realizado pelo coletivo de DJs de NY

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Na próxima vez que sair pra uma festa de música eletrônica, faça este teste rápido: olhe pra pista de dança. Você consegue enxergar uma diferença gritante entre o número de homens e mulheres presentes? A resposta muito provavelmente será: não.

Mas e na cabine de som? Se tem tanta menina na pista, por que ainda existe um abismo gigante entre o número de homens e mulheres nos line-ups de festas, clubes e festivais de música eletrônica?

Foi pensando em diminuir essa disparidade e também no empoderamento das artistas do universo da música eletrônica que o coletivo americano Discwoman nasceu.

Criado em setembro de 2014 pelas DJs e produtoras Frankie Hutchinson, Emma Burgess-Olson e Christine Tran em Nova York, Discwoman é um coletivo de DJs que soma agência de bookings e uma série de eventos pensados para fomentar e inserir talentos femininos da música eletrônica no mercado.

O primeiro evento Discwoman começou como um festival de dois dias no Bossa Nova Civic Club, em Nova York, e desde então se espalhou por 10 cidades, envolvendo mais de 150 DJs e produtoras.

Neste Dia Internacional da Mulher, você vai assistir em primeira mão aqui no Music Non Stop o documentário Tribes: Discwoman Documentary, um filme de 12 minutos sobre o coletivo Discwoman e seus desdobramentos pelo mundo, produzido pela Smirnoff Sound Collective, plataforma da marca de bebidas dedicada ao fomento da cultura da música eletrônica.

Segundo o gerente global da marca, Justin Medcraft, o Smirnoff Sound Collective tem como objetivo tornar-se o maior incentivador da natureza inclusiva propagada pela cultura da música eletrônica. “No Dia Internacional da Mulher, estamos celebrando a diversidade de maneira a inspirar positivamente o universo da música eletrônica. Essa cultura se torna mais verdadeira ainda quando todo mundo pode se considerar incluído”, argumenta Medcraft.

Logo no início do filme, um levantamento realizado pela equipe do documentário dá o primeiro choque de realidade. Em 2015, apenas 10,8% dos grandes festivais de música espalhados pelo mundo tinham mulheres em seus line-ups. E somente 18% dos selos de música eletrônica tinham mulheres em seus castings.

Deu pra notar que tem algo de muito errado nessa cena?

“Será que ela é de verdade? Será que foi o namorado que ajudou a fazer a música? Como se os homens não se ajudassem quando estão fazendo música, né? Claro que eles fazem isso!”, questiona Black Madonna, uma das entrevistadas do documentário e, atualmente, uma das mulheres com maior proeminência no universo ainda estereotipadamente masculino dos DJs.

Mas muito além das questões práticas que o Discwoman propõe, como paridade de cachês e maior presença em festivais e clubes ao redor do mundo, a questão mais forte no documentário é mesmo a do empoderamento. Não no discurso, mas nas atitudes, o Discwoman vem fortalecendo e unindo mulheres da cena de música eletrônica ao redor do planeta.

Para mostrar isso em vídeo, a equipe do Smirnoff Sound Collective colou nas meninas do Discwoman durante alguns meses entre o final de 2015 e início de 2016 e capturou a energia ressonada pelo coletivo criado pelas amigas Frankie, Emma e Christine.

“Conseguimos muita mídia com o Discwoman, então começamos a receber e-mails de todas as partes do mundo. Dessa forma abrimos um diálogo e inspiramos pessoas a fazerem algo parecido em outros lugares. [O Discwoman] Acabou se tornando uma comunidade global. E esse sentimento é simplesmente incrível”, diz Emma.

Com imagens que misturam cenas atuais com inserts da pioneira britânica Daphne Oram, que nos anos 50 tornou-se uma das figuras mais importantes da música concreta na Inglaterra, ao usar fitas como uma ferramenta para criar música – e não apenas registrá-la -, o documentário foi atrás de mulheres em diversas partes do mundo para ouvir suas experiências com o Discwoman. A indiana Sanaya Ardeshir foi uma delas.

“Entrei em contato com o Discwoman porque me senti muito inspirada pelo que elas estão fazendo em Nova York. Senti a necessidade de fazer algo parecido na Índia”, disse Sanaya.

Corta para imagens de mulheres que estão entre as mais bem-sucedidas na música eletrônica atualmente, como a já citada Black Madonna e a libanesa/nigeriana Nicole Moudaber. “Estou na música eletrônica há 20 anos. Se eu tivesse tido a informação de que nós mulheres sempre estivemos presentes nesse meio, a ideia de entrar nesse ramo não teria sido tão estranha, quando eu tinha 18 anos”, reclama Madonna.

A libanesa/nigeriana Nicole Moudaber

É de Nicole uma frase com a qual muita mulher já deve ter se deparado no início da carreira, não necessariamente apenas no universo da música eletrônica. “Quando você se torna bem-sucedida, as pessoas te perguntam como você conseguiu chegar lá. Mas, quando você está começando, as pessoas te dizem pra não entrar nessa, pra desistir. A vantagem é que eu não sou uma pessoa que se possa parar. Eu preciso realizar tudo o que vem na minha mente”, diz Nicole.

Da Índia, o documentário faz uma parada no México, onde as três fundadoras do Discwoman vão investigar a cena local de DJs mulheres enquanto se preparam para fazer um showcase do coletivo por lá. E encontram a produtora de techno mexicana Demian Licht.

 

“Na Europa, as meninas leem sobre feminismo. Na América Latina, as meninas vivem o feminismo. Porque aqui você precisa ser uma guerreira”, descreve Demian, um das artistas do line-up do Discwoman na Cidade de México, que aconteceu em janeiro deste ano.

Ao longo de seus 12 minutos, o documentário mostra como uma proposta relativamente simples (empoderar atráves de ações efetivas de inclusão e da união de ideias) de três meninas americanas estão colaborando para quebrar um velho paradigma da música eletrônica – o de que ela deve ser feita por homens e suas máquinas.

O próximo evento Discwoman será em 19 de março, em Miami, durante a Miami Music Week. As meninas tomarão conta de um dos palcos do Smirnoff Sound Collective Miami, um megaevento gratuito que vai rolar na cidade entre os dias 16 e 19 de março. Mais uma vez, o Smirnoff Sound Collective mostra seu apoio total ao projeto Discwoman, nesta ação gratuita para maiores de 21 anos.

Para assistir ao documentário, basta entrar no página do Youtube do Smirnoff Sound Collective ou dar o play aí embaixo.

O Music Non Stop deseja que a história das meninas de Nova York sirva de inspiração para muitas garotas aqui no Brasil também. Assista já ao documentário e empodere-se você também.

 

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Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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