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DJs de carteira assinada: conheça a rotina de disc-jóqueis profissionais que tocam muito além das boates

Hoje, 09 de março, é o DIA MUNDIAL DO DJ. A data foi criada em 2002 pelas instituições inglesas World DJ Fund e Nordoff Robbins Music Therapy para celebrar esses famosos profissionais que tocam música para os outros. Nesta data, DJs, rádios, clubes e outras organizações mundiais doam parte de seus rendimentos para entidades que cuidam de crianças carentes, humanizando a categoria.

Aqui no Music Non Stop todo dia é dia do DJ. E se a criadora do nosso site, Claudia Assef, prega por aí também que “todo mundo é DJ”, achamos justo comemorar a data este ano contando a história de cinco disc-jóqueis que trabalham e vivem muito além das boates ou de cenas da dance music: são DJs corporativos, de eventos especiais como casamentos, profissionais que botam som tanto para crianças animadas quanto para políticos em conchavos, ou para aquele momento em que você vai puxar ferro!

Leia as histórias e entenda a grande dimensão do que é ser DJ, essa profissão, técnica cultural e ofício que é um emblema da disseminação e importância da música em nossas vidas.

* A foto acima que ilustra esse artigo traz Mr. Christopher Stone, apresentador dos primórdios da BBC inglesa nos anos 1920. Stone é um dos pioneiros em tocar músicas para o público a partir de discos, numa época em que as rádios ainda prezavam por bandas e orquestras completas em estúdio. Ele é tido como um dos primeiros DJs.

DJ DE CASAMENTO
DJ, empresário, produtor de eventos e responsável pela iluminação de festas do under paulistano como ODD e CARLOS CAPSLOCK, o DJ Myrrha é um rapaz de família. E esse prazer de estar com os parentes reunidos é um dos motivos que o fizeram se especializar num filão tradicional e rentável: o do DJ de casamento.

DJ Myrrha, sempre tocando uma benção extra pros pombinhos!

“Ser um cara muito família me ajuda a atender melhor os clientes”, atesta Myrrha, que nos deu um panorama desse mercado de festas matrimoniais. “É muito sazonal, geralmente casamentos acontecem a partir de março/abril/maio. E é um mercado milionário, de muito valor agregado. Toco há 21 anos, meus amigos sempre sonharam em tocar na noite, em clubes, e eu não – sempre quis fazer eventos”.

Na “baixa temporada” dos casamentos, Myrrha trabalha com estruturas de festas pra quem precisar e põe música em locais mais caretas, como festas de marcas, onde muitas vezes o briefing é rígido, sem pouca variação. “Faço um briefing musical com os noivos sobre o repertório, ouço os pedidos e sugiro os três formatos que já tenho: cerimônia, lounge e pista”, conta o DJ, que se diz o maior especialista na atual onda de “miniweddings”, casamentos pequenos, para até 100 convidados, onde não há miséria nos gastos com a festa. Myrrha conta que sua experiência no ramo faz a diferença, e seu cachê parte de R$ 1.500.

Myrrha celebra como os noivos dessa onda do miniwedding são mais contemporâneos em seus gostos musicais. “Trago sempre muitas sugestões, Guns’n’Roses ou U2 no violino, o pessoal adora essas coisas. Ainda há os casais tradicionais, a marcha nupcial ainda é muito comum, mas tenho noivas que já pediram até para entrar ao som de David Guetta!”. A bala na agulha de seu repertório, entrega Myrrha, são justamente essas “versões”, hits traduzidos na delicadeza que um casamento demanda. “Sou um DJ ‘open format’, ou seja, tenho que estar preparado para tocar tudo. Mas meu HD de 1 tera aqui é poderoso, tem de tudo! E muitos flashbacks e lados B, que é para agradar um tipo de música que os clientes e convidados gostam, só que não com uma música manjada.”

O DJ opina que, emotivamente, tocar em casamentos é um momento para inspirar o amor. “Quando eu aperto o play invariavelmente vai um pouco do que eu estou sentindo naquele momento”. E para não estragar o enlace alheio, ele reforça a responsabilidade de tocar música na hora do “sim”. “Quando você está responsável pelo cerimonial, não se pode errar a entrada da noiva. Tipo, soltar Linkin Park na hora que ela entra! A responsabilidade é imensa, as câmeras estão gravando…”, diz.

Outras situações delicadas da música no casório são as interações com convidados, como aquele cunhado bêbado que não para de pedir música! Você tem que ter muita paciência pra atender os pedidos. Faço sinal com a mão de ‘daqui a pouco’, acho que com jogo de cintura dá pra atender o pedido e ficar tocando. Se não for pertinente não toco, enrolo a pessoa, é psicologia pura. O cara que faz casamento tem que ter esse jogo de cintura”.

DJ DE RÁDIO
Desde jovem, Rosangela Nunes sempre foi uma inquieta amante da música. Aos seus 17 anos inauguraram uma FM em Itariri, cidade do interior de SP onde vivia, e ela foi correndo pedir para tocar seus discos e fitas na nova programação. “Foi assim que tudo começou de verdade”, relembra Rosangela, que hoje aos 36 anos é uma animada DJ de house/pop e radialista da Mix FM no Rio de Janeiro.

Rosangela é voz, mixagem, sonoplastia e apresentadora na Mix FM

Em nossa conversa com Rosangela, tentamos entender um pouco a diferença entre o DJing de pista e o trabalho de um DJ de rádio, que traz muito mais detalhes de sonoplastia (o uso de diversos recursos e artifícios sonoros) do que a mera mixagem e encadeamento de músicas e faixas. “Tive que aprender tecnicamente de tudo um pouco que envolve transmissão, equalização, mixagem, equipamentos, tecnologia e linguagem”.

Ela destaca como nas rádios FM jovais, todo locutor acaba atuando como DJ: “eles executam a programação tocando as músicas, intercalando com vinhetas, apresentando tudo o que envolve o funcionamento de uma rádio. Muita gente que conheço começou na rádio e depois ‘viraram’ deejays. Outros começaram como djs nas pistas e depois migraram para o rádio. É uma fusão natural. Eu acho isso ótimo”.

É preciso dedicação, reforça a simpática radialista-DJ, que sugere aos interessados no ambiente radiofônico a “estar sempre por dentro de tudo o que está rolando no mercado, treinar, se esforçar para executar da melhor maneira possível o que te foi designado”.

Rosangela não vive só trancada em estúdio, ela também vai às ruas com a equipe da Mix FM carioca e toca o programa frente ao público, alternando músicas, vinhetas, locuções a interação com a galera. “Fora do ambiente do estúdio tudo pode acontecer. É exatamente a mesma sensação de quando me apresento como DJ. Você vê a reação das pessoas que te ouvem e ouvem a música que você está tocando”.

Ela também é DJ eventual tocando vertentes da house music e também do pop, sendo bookada para boates, pool parties e festas corporativas. “Em 2012 fiz um curso na escola Level Seven e meu professor, Junior Peron, me ensinou tudo o que eu já achava que sabia se falando em mixagens”, conta a DJ-locutora, entre risos. No metiê mais específico da dance music, ela trabalhou ainda uma temporada na Transamérica FM, de 2008 a 2013 no tradicional programa Adrenalina, onde teve a chance de entrevistar grandes nomes como Pete Tong, David Guetta e Bob Sinclair, afinal, o DJ radiofônico também é um agente midiático. “Era uma tarefa divertida, e foi muito importante pro meu aprendizado ter tido contato com essa galera”.

DJ DE FESTA INFANTIL
Robson Tavares
é DJ e empreendedor de uma empresa que leva as pick-ups e a figura do DJ para animar as já agitadas festas de crianças. Há 3 anos atuando em São Paulo, ele diz animar cerca de 200 eventos por anos nesse nicho infantil.

Hoje rei das pistas da garotada, Robson tem um histórico antigo no DJing. Trabalhou na manutenção de cabos numa casa noturna nos anos 90 e, fascinado com o trabalho do DJ, comprou dois tocas-discos e um mixer Berzek, que ele guarda até hoje. “Comecei fazendo bailinhos em casa na garagem, e os amigos curtiram demais, disseram que eu levava jeito pela coisa. Foi então que comecei a adquirir equipamentos”, diz. Robson é categórico: nunca quis ser DJ de balada, pois gostava de todos os estilos e viu uma oportunidade de trabalhar em eventos sociais e corporativos, onde fez carreira em diversas companhias até ter a sua.

Robson, o DJ da criançada

“Um dia uma cliente perguntou se eu realizava eventos infantis, e disse que não era nosso foco. Daí veio a ideia de levar a estrutura e equipamentos de eventos de grande porte para realizar baladinhas infantis”, conta o DJ-empreendedor, entregando qual o espírito de se tocar para a criançada: “nosso objetivo é fazer as crianças sentirem como é estar em uma balada, como a dos pais”. Perguntamos a Robson qual é o diferencial em se ter um DJ contratado para a criançada, frente a tantas possibilidades de playlists que os pais mesmos podem usar para animar aniversários e afins. “A presença de um DJ em uma festa cria uma expectativa. E animação da festa quem faz?”, respondeu Robson, retórico.

Para animar a garotada, é necessário ter jogo de cintura, diz Robson. “Jogo de cintura”, aliás, parece ser uma característica comum a vários desses DJs de eventos off-pista. “Tem que gostar da criança, isso é essencial. E ter jogo de cintura, porque as crianças querem a toda hora que se toque o que elas pedem”. Para enfrentar a demanda desse público espontâneo e fervoroso como são as crianças, Robson e sua equipe contam com um acervo de mais de 800 mil músicas e 4.000 clipes, conta ele. “Solicitamos uma pequena lista para o aniversariante, e seguimos o mesmo estilo. Os adultos também costumam pedir alguma coisa para eles ouvirem”, conta.

“Cada DJ tem seu estilo, já vi DJ que quer aparecer mais do que a própria pessoa que está sendo o tema da festa. Sou de uma linha que garanto animação sem exageros”, explica Robson, que geralmente trabalha junto com os monitores e aplica brincadeiras para as crianças com as músicas. “Quando os pais estão na pista com as crianças, alteramos o repertório para que todos, crianças e adultos, possam curtir a festa”, garante.

DJ DO CONGRESSO
José Hernani aprendeu as manhas da discotecagem (e do suingue) em bailes de black music da zona sul paulistana e nas equipes de som do Distrito Federal, onde fez carreira como DJ de congressos, campanhas e eventos políticos. Como DJ Hernani, é funcionário público e um dos DJs mais atuantes e conhecidos do Congresso Nacional.

DJ Hernani tietando Francisco Everardo, o Tiririca, o deputado federal mais votado do Brasil

“Comecei na política em campanhas e showmícios lá nos anos 80, elas chegavam a durar até quatro meses”, relembra o DJ, que já botou pra dançar a comitiva e seguidores de políticos brasilienses como Wigberto Tartuce, Cristovam Buarque, Carlos Issa, Joaquim Roriz e Geraldo Magela, entre outros. “Depois passei em um concurso público para operador de áudio em 1992 no poder legislativo federal, e vieram os contatos com deputados, senadores e etc”, relembra.

Firmado no funcionalismo público da capital federal, o DJ Hernani abriu uma empresa de locação de equipamentos e atuou também nos inúmeros congressos, bailes e confraternizações de setores empresariais e associações da capital. Dos eventos e festas com políticos federais, Hernani destaca alguns pontos. “Geralmente são em locais de acesso restrito, são encontros e reuniões de conchavos e acordos políticos. Eles estão lá para fazer acordos e você toca o que foi contratado, pois a animação fica por conta do DJ. O repertório é escolhido a dedo e não pode ter falhas, senão é o primeiro e último serviço”, alerta. “Político geralmente fica na mesa observando o movimento e conversando com os correligionários”, descreve.

Nessas pistas de dança dos conchavos políticos federais, Hernani conta que geralmente o que pedem para tocar é “música clássica, MPB, jazz contemporâneo e anos 70”, em eventos que geralmente são happy hours que duram apenas cinco horas, pois “tempo é dinheiro”. E do seu menu de mais de 600.000 músicas, Hernani é especialista em black old school, charme, R&B, anos 90, electro, house e anos 70. “O repertório o povo já sabe, sou DJ das antigas. O cliente pode pedir tudo, menos pagode, baianas ou tamborzão, não condizem com o meu estilo e nem o tipo de festa mais elitizada que faço”, descreve.

Assim como tem fluência em vários estilos, Hernani também preza pelo trânsito nos mais diversos partidos e setores do Congresso Nacional – “sempre serei apartidário, sem preferência política”, diz o DJ, que ano passado trabalhou por dois meses com a liderança do PT na casa. Apesar de apartidário, Hernani não é apolítico, e ele esteve na movimentação do projeto de lei que buscava regulamentar a profissão de DJ, vetado por Dilma ano passado. “Enquanto usarem a expressão ‘profissional de cabine de som’, vai chocar com a profissão de operador de áudio”, diz Hernani, opinando sobre os motivos do veto presidencial.

Assim como muitos DJs que agitam boates semanalmente, Hernani teve uma perda auditiva no ouvido esquerdo e hoje atua num ritmo mais light. Ele reclama que o mercado deu uma caída após 2012, e manda o papo reto sobre qual o tipo de festa ou evento ideal para tocar: “o lugar dos sonhos é aquele em que você se sente bem é é tratado com respeito, pois é o grande profissional da festa”.

DJ DE ACADEMIA
Marcelo Mattos
é DJ e empresário que sintetiza a febre de DJs ao vivo em academias de musculação. Ele tocou e coordenou uma equipe de 10 DJs na rede BioRitmo ao longo de dez anos, e conta que o maior legado desse nicho foram os bons contatos (e clientes) que fez no ambiente da malhação.

Marcelo Mattos, entre beats, supinos e marombeiros que se tornaram clientes

De 2002 a 2012, Marcelo adquiriu um bom know-how sobre como agitar as academias. “O mais comum era ter uma cabinezinha de DJ na musculação, tocava no período de pico, das 17h -21h, enquanto a galera fazia esteira, puxava ferro etc”, explica. “Havia também algumas aulas especiais: jumping, Carnaval, festa junina, coisas temáticas nesse meio aí. Outro lance bem legal que fizemos foi aula no heliponto do topo do prédio. A gente subia com o som e os equipamentos lá, e rolava o spinning”, conta.

O repertório em academias, ele conta, preza pelo eclético, com destaque para os beats pulsantes e animados da dance music. “Como o público de academia é variado, desde adolescentes até mais velhos, a música precisa de energia, precisa motivar pra treinar. Nosso repertório era bem alto astral mesmo, pra entrar no clima, batidinhas legais, era bem voltado pra atividade física, pra ter uma energia”, descreve.

Além dos beats, pop rock, rock internacional e sucessos atuais da rádio estavam sempre no gatilho, ele conta. “Em quatro horas de set, fazíamos 90 minutos de dance music, mas tinha umas misturas, como pegar hits da atualidade com músicas antigas, Rolling Stones, por exemplo. Como a gente ia conhecendo o público aos poucos, acabávamos sacando o gosto da galera”. Ecléticos também eram os frequentadores da academia. Marcelo relembra do seu jogo de cintura como DJ. “Tinha de tudo. Senhores de mais idade que não queriam música, gente que amava e que trazia CD pra tocar, que dançava. A gente tinha que ter a cabeça aberta e ser psicólogo quando fosse preciso”, conta.

Dessas aulas quinzenais na Bioritmo, Marcelo fez amigos e novos clientes para sua empresa de DJs e festas corporativas. “Fiz muitos clientes e amizades com tipos variados de gente e de profissionais. A academia, então, funcionava como uma bela vitrine, o relacionamento com os frequentadores trouxe coisas novas, como gente que ia casar e me chamava pra tocar”. Hoje Marcelo planeja retomar seus projetos com academias, e conta que o grande foco de sua atuação corporativa na região de Alphaville e São Paulo tem sido eventos de concessionárias de carros, reveillons em pousadas e lançamentos e celebrações imobiliárias.

Como muitos dos DJs corporativos, Marcelo começou como DJ em festinhas para amigos do bairro e da escola. A coisa começou a ficar séria e ele atuou em algumas danceterias do interior paulista, até que, por seu repertório eclético, acabou indo atuar em casamentos, debutantes e eventos corporativos gerais. “Peguei todas as fases recentes de DJ: vinil, fita cassete gravada que a gente torcia para não aparecer a voz do locutor, CD-J, pen drive… Hoje eu copio todo meu repertório de quatro festas no laptop em 20 minutos”, resume.

E vocês, conhecem mais profissionais das cabines que arrasam longe das boates?

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