DJ Serralheiro, um dos nomes mais importantes do reggae no Brasil, morreu aos 70 anos fazendo o que mais amava
Não pergunte a um fã de reggae de São Luís do Maranhão se está tudo bem. A cidade, que ficou conhecida como a Jamaica Brasileira, perdeu na quarta passada (29) um de seus embaixadores mais eloquentes, Edmilson Tomé da Costa, nome de registro do “magnata” mais antigo e em atividade no mundo do reggae maranhense.
Conhecido popularmente como DJ Serralheiro, o “Carrasco do Reggae” tocou e embalou as noites de muitos com as “pedras” mais preciosas do seu vasto repertório. Serralheiro faleceu aos 70 anos, vítima de um AVC. Nos últimos meses, porém, ele mantinha normalmente suas atividades como DJ e dizia a quem perguntasse: “quero morrer tocando”.
Ele começou na década de 70 fazendo participações como DJ em festas e encontros em São Luis (MA), onde tocava de tudo. Logo que teve contato com o reggae, apaixonou-se e não teve mais volta. Uniu-se a outros poucos DJs e instauraram a partir de então o processo de formação do que conhecemos hoje, um cenário que justifica e muito a cidade ter ganho o apelido de Jamaica Brasileira.
Pesquisador destemido, Serralheiro viajou pelo mundo colecionando também passaportes, pois só para a Kington na Jamaica foi 17 vezes. Para Londres, mais de 26, sempre em busca de raridades em vinil, que compunham o seu acervo que um dia passou dos 5.000 discos. Nos últimos tempos, com apenas 500 exemplares, com os quais planejava sua sequência (set), gostava de tocar as clássicas do roots, incluindo Bob Marley, Jimmy Cliff, Gregory Isaacs entre outros.
Profissional dedicado e altamente comprometido, Serralheiro primava por exclusividade, acumulando assim muitas histórias de domínio público, que demonstravam como era sua relação de amor com o reggae e com a profissão. A criação de vinhetas e locuções simultâneas às canções foram artifícios usados por ele para evitar a gravação das faixas – e posterior utilização por “oportunistas”.
O avanço tecnológico e mudanças do mercado fonográfico transformaram o cenário mundial, refletindo inevitavelmente na cena local. A facilidade de acesso à informação, o transporte de arquivos digitais, e o armazenamento em dispositivos cada vez mais práticos, desconstruíram muito da cena de reggae local. Mesmo assim, o seu trabalho continuou sendo respeitado, levando-o a participar de grandes eventos no Brasil e no mundo, como a Virada Cultural em São Paulo, em 2011, quando tocou para mais de 20 mil pessoas (veja o vídeo abaixo).
Conhecido por muitos e admirado pela galera do reggae na ilha, Serralheiro recebeu uma série de homenagens no rádio e na TV, bem como nos clubes de reggae, e até em festas exclusivas de algumas radiolas concorrentes, para demonstrar o quanto seu trabalho era respeitado.
DJ, empresário, colecionador e dono da radiola Voz de Ouro Canarinho, esse grande pioneiro deve ser lembrado sempre que se pesquise a história do reggae no Maranhão. Seu legado ficará marcado, e a sua partida, tida como uma das maiores perdas dos últimos tempos.
Assista ao documentário Jamaica Brasileira, de Gleyzer Azevedo