Disclosure transforma Citibank Hall em boate e bota todo mundo pra dançar com show audiovisual impecável

Felicio Marmo
Por Felicio Marmo

De volta ao Brasil depois de uma experiência em que foi coadjuvante no Lollapalooza, em 2014, o Disclosure promoveu sua festa particular neste domingo (2) em um Citbank Hall bombado, que acabou virando uma boate. O show de São Paulo marcou o encerramento da turnê do segundo álbum, Caracal, que passou pela América Latina na última semana – agora eles entram de férias por um período indeterminado.

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O duo inglês de química orgânico-sintética mostrou a que veio logo de cara, com toda a técnica que impressiona pela idade dos, literalmente, meninos. O show começou às 21h44, com sequência de duas grandes faixas que derrubaram o teto da casa: a emblemática White Noise, que tem Aluna George nos vocais, e F For You, em que eles mesmos cantam para corações apaixonados. Quem não foi ao Autódromo de Interlagos em 2014, teve a chance de ouvir ao vivo o arsenal dessas e muitas outras jóias raras do garage pop do seu primeiro e premiado disco, Settle.

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Os irmãos Guy (25 anos) e Howard (22 anos) Lawrence conseguiram empolgar quem estava no clima cantando de olhos fechados e não esperava outra coisa além de dançar a noite toda. Hit atrás de hit retirados dos dois álbuns, com senso de improviso e algumas firulas do bem. Lá pro meio, fritação acid provida por Guy, o irmão mais velho e mais empolgado, que fez um solo de oito minutos, saiu da caixinha. Foi a transição para o lado mais pesadinho até então.

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Bem interessante ver seu virtuosismo e um flerte com o techno oldschool, que combinaria mais com um porão escuro e luz strobo. Mas Disclosure é show com feeling de pista e timing redondo, além de apuro audiovisual, que inclui telões de LED de última geração combinados com toneladas de equipamento de iluminação, sincronizados lindamente com máquinas de fumaça.

Se em alguns momentos chegou a pesar ou descontruir à la Chemical Brothers, logo vinha um vocal ou uma batida quebradiça de UK Garage pra fazer todo mundo se abraçar e dançar pequenininho. Nocturnal, que tem uma aura Chicago house (homenagem a Frankie Knuckles) puxou uma sequência UK garage good vibes que veio com You & Me, hit romântico de base two-step, e Echoes, fazendo uma viagem ao subsolo londrino de um tempo em que eles certamente gostariam de ter vivido.

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Subiu, desceu e eis que se ouviam os primeiros vocais picotados de When A Fire Start To Burn, megahit do primeiro disco, colocando a Marginal Pinheiros no bolso. O couro comeu e nessa linha tivemos na sequência mais duas faixas de guetto house pra bater cabelo, Bang That e Boss. O público, que ía de hipster na faixa dos 20 anos à galera “topzera” dançou, curtiu, cantou junto todas as músicas e teve um encerramento à altura do esperado. Guy e Howard deram uma leve extrapolada em seu estilo discreto e britânico de ser. Por mais concentrados e low profile que sejam, provocaram a galera a cada intervalo de três músicas. “Essa é uma despedida Disclosure para o mundo, mas nós voltaremos”. E Guy colocava mais fogo: “se vocês se comportarem direitinho, no final a gente solta uns clássicos do primeiro disco pra vocês”.

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E não deu outra. Depois de uma hora e meia de boa música dançante, fomos presenteados ainda com a linda faixa gravada com London Gramar, Help Me Lose My Mind. E pra dançar com os braços pro alto, Latch, primeiro encontro do Disclosure com o cantor e amigo Sam Smith. Assim, mesmo sem saber o que se passava lá fora, o Disclosure deixou uma dose de esperança pro começo de semana do paulistano.
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Horas antes do show, a gente bateu um papo rápido com os meninos. Veja só como foi.

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Music Non Stop – E aí, como é o clima de encerrar a turnê em uma cidade como São Paulo em dia de eleições? Vocês conhecem algum dos candidatos?

Guy – Estamos empolgadíssimos com o encerramento da turnê, você não faz ideia. Mas estou com vergonha em não saber disso. Infelizmente, não conhecemos nenhum dos candidatos. Mas da outra vez que viemos a São Paulo, no entanto, aconteceu algo muito interessante. Sou fã de Fórmula 1 e admiro muito o piloto brasileiro Ayrton Senna. Ele é aqui de São Paulo, né? Então, como tocamos no Lollapalooza, o palco ficava de frente pro S do Senna no Autódromo de Interlagos. Aquilo foi marcante, porque ele é um exemplo para mim, foi um ótimo piloto e ser humano.

Music Non Stop – Qual foi a experiência mais inusitada na turnê de Caracal até agora?

Guy – Cada show é uma experiência única, é difícil dizer. A gente pira em tocar pra multidões ou em clubinhos, se for o caso. O lance é a vibe. Porque se você for pensar, pode ter um estádio lotado e a coisa estar morna, ou um clube de teto baixinho que pode estar pegando fogo, né? Mas para nossa sorte todos os shows de Caracal foram impressionantes.

Music Non Stop – Vocês tiveram a oportunidade de conhecer as cenas locais por onde passaram na América do Sul?

Disclosure em Buenos Aires

Em Buenos Aires

Howard – Pra ser sincero, acabamos não visitando muito, indo em lojas de discos ou coisas do tipo, mas fizemos passeios turísticos bem divertidos. Fomos a Foz do Iguaçu antes de vir pra São Paulo e foi maravilhoso. Na Colômbia ficamos encantados por Medellín.

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Os irmãos adoraram conhecer Medellín, na Colômbia

Music Non Stop – O que pretendem fazer saindo de São Paulo?

Guy – Vamos relaxar e aproveitar pra tirar férias agora, pra rever amigos e a família que não temos visto direito nos últimos cinco anos.

Howard – Precisamos descansar e deixar as coisas rolarem um pouco pra começar a pensar no terceiro disco. Desta vez, não temos um deadline como foi na produção dos dois anteriores.

Music Non Stop – Vocês já têm um estilo definido. Quando a gente ouve uma música do Disclosure, sabe que são vocês de olhos fechados. Como é manter uma unidade, ainda que com 9 artistas convidados num mesmo trabalho?

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Guy – Acho que a principal coisa que dá unidade na nossa música em geral é o fato de que usamos timbres bastante parecidos em várias faixas, mas com sacadas diferentes. Não falo das linhas de baterias, mas dos pads, dos sintetizadores e das harmonas de jazz que estão em quase tudo que tocamos. Conseguimos dar essa cara em toda a composição e produção, pois deixamos pra brincar justamente com a variação na parte dos vocais.

Howard – Outra coisa que nos favorece na ideia de identidade do som é o fato de que somos somente nós dois cuidando o tempo todo dessa direção. Temos total controle sobre a composição e a produção em estúdio.

Music Non StopEchoes soa bem próxima do UK Garage dos anos 90. Como vocês foram influenciados por esse legado?

Guy – A gente era muito novo quando o UKG foi de fato popular em Londres. Essa é uma descoberta recente pra gente, pela nossa idade, quase tudo aquilo soa como novo. Pesquisamos muita coisa antes de começar a bolar o Settle, estudamos a história da música eletrônica e o garage foi que mais tinha a ver com todas as nossas ideias.

Music Non Stop – Como é o processo na hora de criar faixas lentas como Masterpiece e Super Ego?

Howard – Nessa hora nos deixamos levar pelas influências que trazemos de casa e que não são poucas. Crescemos ouvindo discos de soul music e Michael Jackson. Nossos pais são músicos e mostraram bastante referência pra gente.

Os irmãos Guy e Howard em 2011 mal tinham pêlos

Os irmãos Guy e Howard em 2011 mal tinham pelos

Music Non Stop – Mas, além da bagagem que tiveram em casa, quem os levou para o clube?

Guy – Eu comecei a tocar como DJ aos 15, meu irmão era novo demais para me seguir, então fui eu que introduzi a família ao universo dos nightclubs. Aos 17 eu já estava saindo no rolê de dubstep quando a coisa estava grande na Inglaterra. Eu falo do começo do dubstep de verdade. Tipo Skream, Benga, Mala, Coki, todos os caras, saca? Foi um tempo efervescente para a música, muita coisa mudou significativamente de lá pra cá. Naquele tempo, por volta de 2008, eu tocava bateria numa pequena banda com amigos e depois disso então resolvi mudar radicalmente para experimentar nos drums eletrônicos tudo o que estava absorvendo.

Anticipate – Skream

Music Non Stop – Nosso tempo acabou, mas te agradeço pela atenção. Aqui está um disco de presente, Johnny Fiasco, de 1997, da Cajual Records.

Guy – Demais, tenho quase tudo desse selo. Talvez esse seja inédito na minha coleção. Valeu você!

Music Non Stop – Por fim, então, uma brincadeirinha rápida. Sem pensar muito, o que que tem no iPod de vocês que ninguém imagina? Christina Aguilera?

Howard – Ela é divertida, por que não? A gente escuta de tudo…

Guy – Vamos lá. Essa aqui é bem cheesy e a gente gosta bastante: Phats & Small, Turn Around.

 

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