Acontece nesta quinta (5) em São Paulo um baita evento para quem se liga em VJing, cinema, multimídias, música movida a synths e eletroacústica. É a projeção do filme Campo de Jogo, de Eryk Rocha, seguido da performance do coletivo a.cinema.
- O evento é gratuito e acontece a partir das 20h na Red Bull Station, só sendo necessário o RSVP no site.
“Campo de Jogo” é obra de Eryk, filho de Glauber Rocha, e traz um retrato sobre o espaço e a importância do futebol no cotidiano de jovens da perifa do Rio, sendo o campo de jogo espaço para os dramas da moçada que joga bola. Já a performance intitulada [:visualflux:] será comandada por Dino Vicente, um nome brasileiro cultuado no vasto mundo dos sintetizadores e que está às voltas com a cena de música eletrônica também.
Falamos com Dino, que explicou melhor a performance, suas influências e um pouco mais sobre o mundo dos synths, live PAs, modulares e afins.
Music Non Stop – Conte como será essa noite de cinema e performances.
Dino Vicente – O programa está dividido em 2 partes. Primeiro, o filme do Eryk e depois a nossa performance [:visualflux:]
[:a.cinema:], que quer proporcionar um mergulho em desenhos sonoros de alta voltagem sensorial, onde a música transborda para o cinema, e este transborda em som.
Temos como referência o “flickering cinema” de Peter Kubelka, as cores orgânicas e psicodélicas do Joshua Light Show, as mandalas hipnóticas dos irmãos James e John Whitney, e a materialidade objetiva dos filmes do grupo Fluxus — todos eles referências fundamentais para as práticas contemporâneas de Live-Cinema.
Nos anos 60/70 o Joshua Light Show arrebentava nas suas performances faturando tanto quanto o The Who, The Doors e Jimi Hendrix Experience, juntando.10 000 pessoas por apresentação.
Music Non Stop – Como nasceu o projeto a.cinema?
Dino Vicente – Veio do nosso interesse em práticas improvisativas envolvendo performance de som & imagem, também nomeadas hoje Live Cinema. É um projeto que pode ser apresentado em galerias de arte, encontro científicos, (nos apresentamos no V Congresso Internacional de Sinestesia, Ciencia y Arte 2015/ Espanha), eventos acadêmicos ( Besides the Screem Brasil 2015 e também em festivais com o perfil mais pop.
Music Non Stop – Talvez as pessoas não saibam de seu envolvimento com a música, fale de sua relação com os synths.
Dino Vicente – Bom eu venho trabalhando com música e sintetizadores a um bom tempo. A primeira vez que me apresentei usando um synth foi na peça Rocky Horror Show, eu fui o pianista na montagem paulista. No meio da temporada o produtor trouxe um ARP Odissey novinho, eu o tirei da caixa, coloquei em cima do piano e usei nessa mesma noite! De lá prá cá não parei mais.
Com o a.cinema eu montei um setup viável e que pudesse criar todas as texturas necessárias para as performances. É uma maneira totalmente diferente dos meus Lives PA anteriores. Continuo trabalhando sem laptop/pad/celular no palco. Não por preconceito. Eu adoro as novas ferramentas digitais e fazem parte do meu dia a dia. Mas na hora de tocar eu ainda prefiro estar distante de um mouse. Na medida que fomos ensaiando (um por semana!) as imagens do Rodrigo Gontijo e as sonoridades da guitarra fretless/midi do Sérgio Basbaum foram moldando a nossa visual-music.
“É incrível como que a intuição vem na frente do conceito”.
Recentemente relendo “Limiares das Redes”, do Marcus Bastos, encontrei uma citação do Michel Serres que explica bem o que eu estava tentando fazer ao incorporar o “erro” na nossa prática. Serres questiona “o mito das da comunicação transparente”, sustentando que o ruído não é somente incidental, mas essencial para a comunicação – seja no nível da escrita (por exemplo, “manchas nas formas gráficas, falhas no desenho, erros de digitação e assim por diante”), da fala (“gagueira, pronúncias incorretas, sotaques, disfonias e cacofonia”), ou dos meios técnicos de comunicação (ruído de fundo, congestionamento, cortes, varias interrupções”).
Music Non Stop – Como você vê hoje o aumento dos live PAs na cena eletrônica nacional?
Dino Vicente – Acho interessante que mais artistas venham trabalhar dessa forma. Isso só fortalece a cena. Sei que para a maioria do público pouco importa como que a música esta sendo produzida. Se está saindo com toneladas de sintetizadores analógicos, sequenciadores, samplers+aparatos digitais… Tudo “sincado” e tocando em tempo real, ou se você espetou um pendrive no laptop e deu um play. Além do que, é caro e trabalhoso trabalhar dessa forma, mas acredito que um festival nesse formato Live seria um sucesso! Que tal uma mostra de Live PAs ?
Music Non Stop – Você tem projetos com alguns DJs, como Renato Cohen? Em que pé anda?
Dino Vicente – Xiii vazou! Mas também não é segredo, estamos cozinhando em fogo baixo algumas ideias… Novidades a caminho.
Music Non Stop – O que você acha da valorização e do resgate dos synths que têm rolado na cena eletrônica?
Dino Vicente – Hoje temos varias recriações dos sintetizadores clássicos disponíveis no mercado e inúmeros fabricantes de sistemas modulares pelo mundo afora. Isso torna possível bem mais pessoas terem acesso a essa tecnologia. Claro existe também o feitiche…
O que mais me interessa são os novos desenhos de sintetizadores, novas possibilidades de geração de sons e controle. Um bom exemplo é o que o Vinicius Brazil vem desenvolvendo aqui no Brasil.