O Music Non Stop esteve no festival Gop Tun, evento com 4 palcos e 43 artistas para celebrar os 10 anos da Label.
Bruna Guedes conta como tudo aconteceu na estreia de sua nova coluna, o Diário de Cena. Confira!
No sábado do dia 02 de abril, uma nação clubber se deslocou para São Paulo no antigo estádio do Canindé para se jogar no festival da Gop Tun. Desde que a divulgação do evento foi lançada, a pergunta frequente que eu ouvia pelas cidades que passei era: “Você vai no Festival da Gop?”.
Obviamente que sim. Afinal, são 10 anos de celebração e eu estava ali desde o começo, quando Gui Scott, Nascii, Caio Taborda e Bruno Protti começaram a fazer as ‘Gopinhas’ no apartamento, ocupando os mais diversos espaços e trazendo DJs que eu admirava em uma relação muito próxima artista X pista. Desde então, eles se ampliaram, firmaram a Gop Tun como um selo e produziram diferentes eventos nos mais variados formatos. Sob o cunho da Gop Tun, a Xama e a Na Manteiga Rádio nasceram, a Coral Agency criou vida naturalmente e o Dekmantel veio ao Brasil em duas edições icônicas. Tudo isso com um alto padrão na produção que foi zerado por completo com o festival.
Com quatro palcos distribuídos em uma imensa área no antigo Estádio do Canindé, eles levantaram os palcos Main Stage, o Supernova, o palco Não Existe e a Danceteria — a pistinha menor e muito charmosinha que por diversos momentos parecia uma festa a parte com DJs em b2bs empolgantes. Inclusive, foi nela que alguns ‘dancers’ perderam momentos gloriosos por esquecerem de usar o mapa do festival que estava no Instagram.
As caixas foram ligadas às 13h com live do duo Fronte Violeta e B2B da Lys Ventura e Mari Boaventura. E como bem disse Boaventura: “quem começa dá o tom”. E que tom! Pois com poucos estranhamentos, como o do set do Sany Pitbull que não identificamos se foi uma grande gozação, ou se foi sério (O que foi aquela sequência com Legião Urbana no meio?), os sets, lives e back to backs agradaram muito o público que rodou de uma pista para a outra com verdadeiro entusiasmo com a qualidade sonora elevada que circulava por ali. Ao ponto de você realmente querer pegar uma parte de cada momento.
Estrutura confortável para receber o público
Mas antes das sonoridades, destaque para a formatação dos palcos e estrutura. Palcos montados de um modo que o som de um não interferia no outro. Falha chatíssima que vi acontecer algumas vezes desde que retornamos com os eventos. Talvez tenha sido por isso que sentimos o palco Supernova com um som mais baixo. Mas nada que tenha atrapalhado um dos meus palcos preferidos. Na estrutura, ponto certeiro para as mini arquibancadas espalhadas em lugares estratégicos que permitiam a gastação sem se sentir fora da programação. Havia também lounges afastados com poltronas confortáveis, para não dizer de luxo, com bares próximos, uma área com alimentação com food trucks e mesas que não sei se foram bem usadas pelas clubbers com uma quantidade rara de saliva. Havia também uma área de armários/lockers que me fez sentir muito confortável com uma chave no pescoço que me permitia ir e vir com as minhas coisas na hora que eu bem entendia — perfeito também para os que vieram de outras cidades ou que se programaram para pegar o festival inteiro.
Festival é bom demais
Entrei às 19h. A ideia era pegar o pôr do sol, mas entre atrasos, o medo do cansaço matinal e a espera de uma hora na fila para o credenciamento junto com quem estava comprando ingresso na hora, entrei pronta para circular um pouco antes de me firmar na dança.
Que sentimento bom entrar em um festival após dois anos. Aquela imensidão em um formato que é o nosso tipo de parque de diversões, o parque de diversões dos que amam música eletrônica.
Música, pessoas, pessoas, pessoas, luzes, caixas, tudo ali no mesmo espaço para te fazer feliz. Por mais amor que eu tenha à cultura de club, um festival é aquele entusiasmo de estar com diversos amigos de tantas cidades diferentes e em contato com tantos profissionais da música que você só tem acesso no online, como o Caio D’Andréa, criador da Pornograffiti, que geral conhece mas que muitos nunca tinham visto pessoalmente.
O clima de celebração e afeto entre os corredores e stages se manteve do começo ao fim. Por onde olhava era gente se encontrando, msg chegando no whatsapp, abraços entre os caminhos, ‘ois’, grupos se formando e se desmanchando em um piscar de olhos. A magnitude de um festival tem dessas também: em um momento você está com uma galera, depois com a galera dessa galera e em outros você se perdeu de geral e está ali andando sozinha e está tudo bem. Ter a desenvoltura para curtir um evento grande de música acho que é a sacada para no final você sair satisfeito. Você pode programar as atrações que quer ver, organizar a sua timeline, as pessoas que quer encontrar, mas dificilmente vai acontecer como você programou e você nem sempre verá tudo o que queria. Mas, com certeza, se surpreenderá por diversos momentos com o inesperado.
Line Up para mais de metro
Comecei a focar nos palcos a partir das apresentações do Paramida, Jamie Tiller, Lone (live), Craig Ouar B2b DJ Chance da Silva, mas o rolê começou mesmo para mim com o set animadíssimo do DJ Nigga Fox quando me vi dançando em meio a nação BH que veio em peso. Chave que vira e você está no clima.
Na sequência, só a queda d’água nas emoções. Cashu & Kenya20HZ pesadonas em um B2B implacável na pista Supernova, que era a pista mais ‘basicona’ de todas, mas com a atmosfera ideal para quem queria encontrar os amigos e dançar enquanto trocava curtas palavras. Ampla, palcão acessível, ali estava fácil se achar. Atrás dela e nas laterais havia uma área de banheiros fixos e limpos (ponto que foi criticado pelos que usaram apenas os banheiros químicos no centro do festival), bar grande e as bases de algumas árvores que se transformaram em pontos de organização de bolsos, pochetes e bolsas.
Após Cashu e Kenya, a chilena Valesuchi manteve a energia intensa com um set elegantíssimo, cheio de groove, acid, com o humor alto e ocupou o seu lugar com classe como a artista convidada para substituir a Dr. Rubinstein que contraiu Covid antes de chegar no Brasil. Enquanto isso, no Mainstage, Danilo Plessow entregando tudo no seu retorno após 11 anos longe do Brasil. House bonito de se ver e de ouvir. Essa hora o palco principal estava naquele formato que você se descamba a emocionar no auge da sua potência com cores, luzes, público focado e todas as áreas ocupadas por inteiro com pista, laterais e a tradicional turma do fundão que hoje em dia não se taca mais no ‘front’ mas acompanha cada detalhe enquanto faz um bom tricô a base de lisérgicos.
FBC & VHOOR causaram com o maior movimento em massa do público
Pausa no Daniel, na Valesuchi e no Eternal Love para a ação migratória em massa que o FBC & VHOOR causaram no palco Não Existe. A tendinha de configuração e iluminação primorosa ficou pequena para a dupla de BH que lançou o disco tocado por 7 a cada 10 DJs brasileiros nos últimos meses. Tumulto, atraso, muita gente tentando achar seu lugar mas aconteceu, ‘O Miami venceu.’ como bem disse Fabrício, o FBC, meu amigo Fabrinho. Emocionante, representativo e com o único momento de protesto político que eu tenha visto: com FBC pulando o discurso e indo direto ao ponto: “Vocês sabem o que tem que fazer. Então, faz o L aí.” e um coro naturalmente se formou pró ao candidato Lula da Silva com os braços levantados fazendo um L com os dedos. É o Cabana do Pai Tomás, é o Baile do Vilarinho, a Zona Norte de BH e a música eletrônica periférica ocupando os espaços com o status de headliner!
De lá, migrei para a Danceteria com o público que se dividiu entre ver o B2B da Cauana e Omoloko. Quem foi também para conferir este momento foi a Pabllo Vittar. Sim, ela foi, ela estava, ela é clubber também. O B2B entre os dois foi responsável por verdadeira transe para os que ocuparam os espaços entre árvores, globos e uma iluminação cuidadosa da 28room.
28room e a iluminação de ‘milhões’ que saltou aos olhos
Respiro para ressaltar essa parceria. A 28room, ou Sala28, está com a Gop desde as primeiras festas, instalando seus leds, construindo a iluminação com ambientes primorosos e atingindo uma excelência com uma dedicação profissional invejável. Além de ser um time incrível, eles são os festeiros que ainda se jogam, curtem cada momento e mantêm o ritmo.
Reta final com a dor de chegar ao fim
De volta a programação, migrei com a minha cia ilustre, Eli Iwasa, que se jogou nas pistas da hora que chegou a hora que foi embora, para ver Avalon Emerson. Mixagem e curadoria impressionante. Ela tem ritmo intenso, entrega, levanta a pista naquele momento que a energia começa a cambalear. Grandiosa, assim eu definiria a norte-americana que eu adoraria ver em algum clubão. Dela para a produtora BR que vem dando motivos infindáveis de orgulho, a Badsista. A Rafaela Andrade recentementee lançou o aclamado ‘Gueto elegance’ e fez um set que entraria no topo da minha lista do que rever no festival se fosse possível.
No Main Stage, Skateboard, que não posso falar nada, pois perdi, mas ouvi altos elogios. E na Danceteria a Marta Supernova e Flo Masse em um clima dos melhores com o dia amanhecendo.
Reta final, vi a entrada emocionante da tão aguardada do casalzão Octa Octa e Eris Drew e fui circular, aproveitar por outras bandas já que elas tocariam por três horas. Passei pela Valentina Luz e Gigios, uma das duplas mais animadas e divertidas da Danceteria e tratei de ir para o RHR que está em uma fase emocionante da sua carreira: entregando tudo nas produções, errando nunca e se divertindo muito. “Roni é Brasil” era a frase que a galera gritava da pista.
Entre as 5h e as 8h, me revezei entre o Main Stage e a Supernova. Entre o house da Eris e da Octa e a viagem do Roni que percorreu por Electro, Breaks e Drum Bass. Mas preciso confessar, RHR roubou a minha atenção, me emocionou, me fez sentir orgulho de ver nosso país tão bem representado. Roni tem classe, tem dinamismo, tem uma força sonora que me faz ficar com sorriso de orelha a orelha.
Obviamente que não sou só a única a sentir isso. Neste momento era possível olhar para o lado e ver uma nação de DJs e produtores: Eli Iwasa, Kenya, Omoloko, Mari Boaventura, Young Clubber, DJ Bartigga, NORA, Crazed (BR), Kakubo, Badsista, Femmenino, Jovem Negro, Izabela Egídio, Vinicius Porto, Mr. Maguila, Suelen Mesmo, CESRV, NAICHE, Martinelli, Matuca, Peroni e mais um bando de profissionais ali, dançando, gritando, o exaltando até descer do palco com gritos no pique torcida organizada da e-music.
Supernova encerrada. De volta para o Main Stage para finalizar com as duas festeiras e tão amáveis, apaixonadas, sincronizadas em um B2B só no vinil bonito de se ver da pista e do palco.
Dores no coração, crianças chorando, clubbers desesperadas por um óculos escuro, pernas destroçadas, mas todas querendo mais algumas horas com elas.
É, Gop Tun, foi lindo. Foi de dar orgulho, foi emocionante. Foi muito além do esperado. Foi um ‘comeback’ para nos lembrar que festival é bom demais, mas que festival com alma brasileira é ainda mais entusiasmante. A gente sabe se divertir, sabe produzir bem e entrega demais quando colocamos nossos artistas para jogo em pé de igualdade com os gringos. É Brasil, caraia!