Em 16 de abril deste ano, a região costeira de Esmeraldas, no Equador, foi epicentro de um terremoto de 7.6 de magnitude, causando um gigantesco estrago material e matando quase 700 pessoas. Cheguei no aeroporto de Quito exatamente um mês depois, segunda (16), e minha pergunta ao motorista Romero, que foi me buscar no aeroporto, foi: “como vocês lidam com a expectativa de sofrer outro terremoto”. A resposta dele me deixou, digamos, preocupada.
“A gente sabe que vive num terreno que está em movimento, estamos sobre placas que há muitos anos estão se ajustando. Aqui todo mundo entende que outro terremoto pode acontecer a qualquer momento”, disse o simpático motorista, do alto de seus 64 anos.
Dois dias depois da nossa chegada, na madrugada de quarta, estava dormindo quando o quarto todo começou a balançar. Sem entender direito o que estava acontecendo, já que a cama chacoalhava como se estivesse num navio, pulei da cama e fui pra fora do quarto. Na hora, lembrei do Romero. E pensei nas minhas filhas.
Ouvi o tilintar dos lustres chiques do hotel. Pensei: “ferrou, terremoto”. Voltei pro quarto pra pegar o celular e buscar alguma informação. Ainda nada. Achei um twitter, o Earthquakes Alerts, mas ainda nada ali. Voltei pro quarto e o telefone tocou. Era a Ellen Allien, com quem estou viajando: “desce, traz suas coisas. Teve terremoto”.
Joguei tudo dentro da mala, botei uma roupa correndo e desci. No lobby do hotel poucas pessoas. Encontro a Ellen, e a gente dá uma risada nervosa. “Adorei sua calça”, ela diz, olhando pra minha terrível combinação de cores do meu look sísmico. A gente senta, e começo a buscar informações. A essa altura já sabemos o que nos tirou da cama, um abalo de 6.8 na mesma região de Esmeraldas, a 165 quilômetros de Quito, onde estamos. “Eles queriam que eu fosse tocar lá. Imagina a gente lá a essa hora”, ela diz. Rimos nervosamente um pouco mais.
Comecei a pesquisar a quantidade e recorrência dos tremores no Equador. Lembro novamente do Romero. Os terremotos de magnitude média são tantos que nem viram muito assunto. Conto pra Ellen sobre minha pesquisa no Google. Resumo tudo o que li em espanhol pra ela: “Seems this is a very shaky shaky region of the Earth”. Temos um acesso de riso, porque a essa altura do campeonato existem duas saídas apenas: pânico ou humor. Escolhemos a segunda.
Chegam mais informações, agora muita gente do país todo e até da vinha Colômbia, nossa próxima parada, começa a postar como sentiram o tremor. “Muy fuerte” é o que diz a maioria dos que vivem perto da costa equatoriana. Em Quito, o que sentimos foi um chacoalho firme e duradouro, como aquele que você aplica num carrinho de bebê quando já está esgotando as possibilidades de fazê-lo dormir. A duração? O noticiário fala em 40 segundos. Mas pra gente pareceu uns três longos minutos.
Aos poucos mais gente desce para o lobby. Os funcionários colocaram sucos e cafés na recepção. As pessoas conversam sobre suas experiências com terremotos. Enquanto isso, eu leio relatórios sobre recorrências de tremores num mesmo dia, naquela região. Algumas vezes, a terra treme várias vezes no mesmo dia por ali. Mas o que vi é que começam mais fortes e vão ficando mais fracos. De repente me vejo lendo tabelas sísmicas e tentando ver alguma respostas num assunto que, a gente sabe, se trata dos mais imprevisíveis.
O jeito é voltar pro quarto e ficar alerta. Família, amigos, estamos bem.