DJ grandmaster flash foto: divulgação

Dia do DJ! Conheça 10 fatos inacreditáveis sobre a a história da discotecagem no mundo e no Brasil

Jota Wagner
Por Jota Wagner

O DJ está presente nas melhores lembranças da vida de cada ser humano deste planeta. Da festa underground no porão inacessível ao babado da festa da firma ou o bafo no casamento da prima, a onipresente figura do discotecário animando a pista começou a ganhar o mundo na década de 40

Desde então a importância do DJ no mundo do entretenimento veio aumentando sem parar, chegando ao ápice da era dos “Superstar DJs’ na década de 90, com nomes como Fatboy Slim, Sasha e Carl Cox viajando o mundo em turnês gigantescas ou, no caso de Carl, tocando em 3 festas de réveillon em 3 países diferentes viajando de uma para outra em um jato particular.

A história do DJing é repleta de fatos inacreditáveis. Invenções por acidentes ou por necessidades financeiras, gênios inquietos e uma inquietação por não aceitar a música como ela simplesmente foi gravada foram ingredientes para os 10 episódios sobre a história do DJ que você precisa conhecer.

1.O termo Disk Jockey foi criado em 1935

O termo Disc Jockey, uma junção de Disc (o vinil, claro) com Jockey (operador de uma máquina ou equipamento) foi criado pelo apresentador de rádio Walter Winchell para anunciar a entrada de Martin Block, o primeiro DJ a transmitir música popular tocando discos para os ouvintes.

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Martin Block: – foto: reprodução Youtube

2. A primeira festinha e o pai do “two turntables and a microphone”

O radialista Jimmy Savile foi o primeiro DJ de festa da história, ao tocar discos de jazz num evento no Loyal Order of Ancient Shepperd (uma espécie de Clube dos Veteranos inglês) em 1943. Jimmy também alega em sua autobiografia ter sido o primeiro DJ a utilizar dois toca-discos iguais e um microfone para discotecar sem interrupções no Hotel Guardbridge em 1947.

A partir de 1950, DJs de rádio americanos começaram a organizar o que chamara de “platter parties“, festas em lanchonetes onde eles assumiam o posto de “juckebox humanas” tocando discos para a rapaziada. Os artistas foram batizados de “Sock Hop DJs”. Nas primeiras festas, um baterista era contratado para mandar umas batidas enquanto o DJ trocava o disco, até que a ideia dos dois toca-discos foi trazida à América, por Bob Casey em 1955.

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Jimmy Savile – foto: reprodução Youtube

3. A primeira discoteca é criada em Paris, com uma DJ Mulher

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Sophia Loren e Regine Zylbenberg (de vestido) em 1962 – foto: reprodução Youtube

A Whisky A Go Go foi criada em 1947  por Paul Pacini.  Em 1953, a gerente do clube Régine Zylbenberg, que mais tarde se tornaria uma grande empresária do ramo de nightclubs, formatou a primeira “disco” do mundo, assim chamado por ter um DJ (a própria Régine) no lugar de uma banda tocando ao vivo, com cabine para, dois toca-discos, gaiolas com dançarinos e ambientação feita para o povo dançar. A visionária Régine pintou as lâmpadas com diversas cores e era fã de chá chá chá, ritmo dançante que discotecava noite adentro.  Durante seu tempo de vida, o Whisky A Go Go reuniu a descolândia parisiense, criando assim o conceito de um bom fervo. Com o sucesso da invenção, O Whisky abriu filiais em Mônaco e nos Estados Unidos.  Régine abriu seu próprio clubinho, o Chéz Régine, dedicado aos príncipes e bem nascidos da cidade.

*no vídeo, uma rara filmagem da filial americana do Whisky a Go Go.

4. O primeiro DJ do Brasil já rolava suas bolachas em 1958

Em uma época em que não havia internet e a circulação de informação era inimaginavelmente lenta em comparação aos dias de hoje, a primeira festa com DJ no Brasil com um atraso de apenas 10 anos e graças a um visionário chamado Osvaldo Pereira. Sem ter a menor ideia de que isso já havia sido feito em outros países, teve a ideia de fazer um baile sem as orquestras tradicionais, pois isso tornava o preço dos ingressos inacessíveis a uma classe mais popular dos paulistanos. Se escondeu atrás das cortinas fechadas do palco, montou seu toca-discos e mandava um som no baile, chamado de Orquestra Invisível Let´s Dance. A novidade foi apresentada no Clube 220, na av. Rio Branco, e depois saiu em “turnê” por outros clubes da cidade. Ainda usando somente um toca-disco, a música era trocada rapidinho enquanto o público aplaudia.

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Se Osvaldo Pereira – foto: acervo pessoal

5. O surgimento dos Soundsystems

No final dos anos 50, DJs jamaicanos começaram a montar PAs de som no meio da rua e tocar discos para a galera. Surgiam os soundsystems. A nova opção de entretenimento fez o maior sucesso e começou a se transformar num baita negócio (a ponto de gerar uma guerra pela concorrência) quando os organizadores começaram a cobrar entradas e a vender comidas e bebidas aos frequentadores.

A criação dos soundsystens teve importância enorme na formatação da cultura do DJ, além do movimento das discotecas.  Foram imigrantes jamaicanos no inicio dos anos 70 que começaram a fazer festas de rua tocando discos para a galera no bairro do Bronx, em Nova Iorque. Kool Herc, o mais proeminente desta geração, é considerado o pai do hip-hop ao usar discos iguais para repetir as partes sem vocal dos discos de hard funk, criando assim os breaks e abrindo espaço para as rimas improvisadas.

No Brasil, os soundsystem chegaram pelas mãos de uma mulher, a primeira DJ do Brasil e responsável por diversas iniciativas pioneiras no mundo da discotecagem. O Ondas Tropicais viajou o estado levando música para as ruas e festivais, sob a batuta de Sônia Abreu.

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Sonia Abreu e o Ondas Tropicais – foto: acervo pessoal

6. Francis Grasso, o inventor do beatmaching

No final dos anos 60 a cultura do DJ já estava se popularizando, a ponto de empresas começaram a investir na invenção de q equipamentos para a cabine das casas noturnas. A empresa Bozak lançou no final dos anos 60 o primeiro mixer desenvolvido especificamente para a arte da discotecagem, o CMA-10-2DL.

Em 1969, Francis Grasso apresentou pela primeira vez a técnica de beatmatching, que consiste em sincronizar as batidas de duas músicas para que a transição entre ambas se torne mais suave.  Francis também coloca em sua conta a técnica do slip cueing, que é basicamente segurar o disco no ponto de entrada da música com o toca-discos ligado e rodando, permitindo a sim uma entrada mais rápida e dinâmica.

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Francis Grasso – foto: reprodução Youtube

7. O primeiro superstar DJ brasileiro

Na década de 70, o Brasil conheceu seu primeiro DJ superstar. Um artista que ajudou a rever a posição do DJ dentro de uma casa noturna. Até então, as cabines do DJ eram afastadas da pista de dança, geralmente junto ao bar, a cozinha, ou em uma sala fechada empilhada de discos. Foi com o reconhecimento de djs como Robertinho que a posição da cabine do DJ mudou para o espaço mais nobre da casa noturna permitindo o contato direto entre DJ e público.

DJ Robertinho despontou em 1971 na boate New Tonton. Como uma porção de colegas seus, começou na carreira meio por acidente, cobrindo a falta do residente da casa. Sua sensibilidade na seleção das músicas e o cuidado com a técnica fez com que o DJ fosse subindo, boates mais famosas até que comandou as cabines das discotecas Papagaio Disco Club e Gallery, grandes empreendimentos da noite paulistana e totalmente voltadas à cultura das discotecas.  Robertinho ganhou fama e muito dinheiro, até que uma deslizada o mandou para a cadeia em Londres por dois anos e meio e interrompeu sua carreira . “Fui ingênuo em relação à droga. Fui bobo de colocar (cocaína) na minha mala em um voo internacional. Mas nos 70 e 80 eu botava os clubes abaixo, ninguém ficava parado na minha pista”, contou a lenda em entrevista para o livro Todo DJ Já Sambou, de Claudia Assef.

Os DJs Robertinho e Sonia Abreu (de costas) na Papagaio’s

8. A máquina perfeita

Em 1974, a empresa Technics lançou o lendário toca-disco SL-1200, aperfeiçoado em 1979 como SL-1200-Mk2. Conhecido no mundo dos DJs como “a máquina perfeita”, o equipamento pesa absurdos 11 quilos, responsáveis pela estabilidade de trabalho da agulha dentro de uma casa noturna e ao lado de muitos decibéis de som vibrando. O toca-discos se tornou o padrão de mercado e pode ser revendida diversas vezes mantendo seu padrão de funcionamento. Sua produção foi descontinuada em 2010, mas o barulho foi tão grande que a empresa japonesa Panasonic comprou os direitos da marca e retomou a fabricação em 2016.  O prestigio do produto é tão grande que está exposta no Museu de Ciência de Londres, na área dedicada aos “produtos que moldaram o mundo que vivemos hoje”.

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Grandmaster Flash trabalhando numa Technics Mk2

9. O Scratch só existe graças à bronca de uma mãe

A técnica de scratching, os ruídos que os DJs fazem voltando o disco com a mão e que revolucionaram o hip-hop e gerando as performances de “turntablism” foram inventadas por acidente e só existem graças a uma mãe bem brava.

O DJ Grand Wizzard Theodore, nascido e criado no Bronx, estava ouvindo discos no seu quarto no último volume. Na época com apenas 13 anos de idade, colocou a mão parando o disco quando sua mãe entrou possessa da vida e mandou aquela bronca.  Quando a mãe de Theodore saiu, ele acidentalmente voltou a rotação do disco e gostou do som que o contato com a agulha produziu.  Dali em diante tratou de aperfeiçoar a técnica de criar barulhos, ritmos e interações na música usando o stratching.

 

10. Disco Music americana + Synthpop europeu = o mundo como o conhecemos

Clubes, DJs, turnês internacionais, festivais, afters, clubinhos, porões, raves….  como seria nosso mundo sem isso? Se algum conservador radical arauto da moral e dos bons costumes tivesse inteligência suficiente para inventar a viagem no tempo, bastaria voltar no começo da década de 80 e convencer Larry Levan a escolher outra carreira que não a de DJ.

O residente da casa Paradise Garage, em Nova Iorque, teve a ideia de misturar disco music (já mostrando sinais de cansaço graças às repetições da fórmula) com o synthpop europeu que estava chegando aos Estados Unidos.  Criou assim uma textura sonora nova energética que embalava as noites da comunidade gay negra que frequentava o clube. O sucesso da mistura, que influenciou produtores a compor músicas com esta cara, fez com que o Paradise chamasse a atenção de todos e levou o novo som, a house music para Nova Iorque e para Londres e o então paraíso hippie Ibiza. O novo som aliado a um público festeiro e sedento por novidades gerou o big bang que chamamos de Verão do Amor.  Depois disso, nada mais aconteceu do mesmo jeito.

 

 

 

 

 

 

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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