Além de residências, centro de cultura e pista de skate, antigas ruínas da cidade berço do techno darão origem ao MODEM (Museum of Detroit Electronic Music)
“Por mais de 60 anos, este local permaneceu ocioso. Hoje, declaramos que esses dias acabaram”, declarou o prefeito Mark Duggan sobre um dos maiores elefantes brancos de Detroit, a estrutura abandonada da Packard — herança da crise que levou embora boa parte da indústria automobilística da cidade, por falência ou mudança em busca de custos mais baixos. Sua prefeitura apresentou um projeto gigantesco que vai transformar as ruínas da fábrica em apartamentos residenciais, centro de cultura, a pista de skate e um museu dedicado à história da música eletrônica local, chamado MODEM (Museum of Detroit Electronic Music).
A iniciativa, ainda a ser aprovada pelos representantes locais, representa a conclusão de um ciclo histórico. Antes conhecida como Motor City, devido à grande presença de empresas automotivas, Detroit foi sendo abandonada pouco a pouco a partir da década 60, com o ápice da fuga após as crises do petróleo de 1974 e 1979. Dois fechamentos de empresas foram símbolo desse momento: o da Chrysler e o da Packard, deixando plantas em ruínas.
E o que fazem as pessoas que vivem em um cidade industrial sem empregos, sem perspectiva e com grandes galpões abandonados? No caso de Detroit, uma bela safra de produtores transformou o que era ruína em arte. Caso do chamado The Belleville Three, grupo formado pelos amigos de infância Kevin Saunderson, Juan Atkins e Derrick May, criadores de uma leitura única da cidade em que viviam, distópica e industrial.
Creditados como os invetores do techno, os três DJs e produtores foram seguidos por centenas de outros produtores, selos independentes e, claro, uma incrível cena de festas, muitas delas usando os mesmos galpões largados pelas montadoras e outras empresas que prestavam serviços no setor, o que conferiu à cidade a fama de berço do novo gênero musical.
Junte a tradição local na música negra (Detroit foi também onde nasceu a Motown, icônica gravadora do soul fundada em 1959, quando os primeiros sinais de crise econômica começaram a aparecer), além da luta pelos direitos civis e sindicais. Vários elementos que, reunidos, foram responsáveis pela criação de uma fortíssima dinamite cultural.
Por isso, a decisão da prefeitura de transformar uma fábrica de carros em ruínas em um complexo em homenagem à música eletrônica é maravilhosamente simbólica. “É assim que honramos nosso passado enquanto construímos nosso futuro. Preservando a história, criando empregos, expandindo as opções de habitação e investindo na cultura e na comunidade de uma só vez”, seguiu Duggan.
Se aprovado, o complexo terá 36 mil metros quadrados, 42 unidades habitacionais, o MODEM, uma pista de skate indoor — a primeira da cidade — e áreas comunitárias. A prefeitura espera concluir o projeto em 2029.
