Depois de mentir pra você, Karina Buhr vira monstro no Sesc Pinheiros

Claudia Assef
Por Claudia Assef

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“Hoje não quero falar de beleza/Ouvir você me chamar de princesa/Eu sou um monstro!”

Só pra dar uma explicada no título do post, a baiana/pernambucana/paulistana Karina Buhr lançou neste sábado (16)  seu disco Selvática com um show bomba – e lotado – em São Paulo, no Sesc Pinheiros. Tocou o novo hit Eu Sou Um Monstro, com todo mundo cantando junto (teatro lotado a ponto de ter gente em pé nas duas laterais), mas deixou de fora do setlist a música que fez a gente ficar de orelha em pé pro seu trabalho, Eu Menti pra Você. Atitude.

Com a casa cheia de fãs e com ídolos do rock indie no palco na forma de banda de apoio (Edgard Scandurra e Fernando Catatau, só pra citar os dois megamaster comandantes das guitarras), Karina subiu ao palco com figurino lacrativo: seios à mostra acomodados numa meia arrastão, maquiagem preta nos olhos, cabelo laranja, salto alto.

Ela abriu os trabalho com músicas do novo disco e uma performance que foi crescendo, de sua entrada mais low profile gótica para uma explosão que culminou com ela rolando no chão e cantando “Não acabou/tem que acabar/eu quero o fim da polícia militar” em coro com a plateia.

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Com uma banda fodástica, restava a ela performar. E isso ela fez. Karina mostrou uma habilidade incrível como dançarina punk rocker, usando como par romântico o próprio fio do microfone. Bateu cabelo, rolou no chão, reverenciou cada um de seus músicos. Foi só depois de uns 30 minutos de show que Karina pegou o mic para falar com o público: “Eu não sou muito de falar, porque eu já falo pra caralho nas músicas. Mas, bom, boa noite, São Paulo, bem-vindos. Pronto, fiz o dever de casa”.

Karina foi se animando junto com o público, que aos poucos foi se levantando das cadeiras do teatro Paulo Autran e migrando para as laterais do palco para dançar (ainda custo a entender shows como o dela em teatros com cadeiras marcadas). Vieram performances bem punks da cantora, que fizeram pensar em Nina Hagen, Debbie Harry, Baby Consuelo, Rita Lee, Mercenárias, Siouxie, Madonna, todas juntas num caldeirão maravilhosamente temperado no molho pernambucano – que é a maior referência de sotaque da Karina.

Sexo frágil, como dizia Rita Lee na clássica Cor de Rosa Choque, não é o que vem à cabeça quando você vê Karina Buhr em ação. Ela representa demais a mulherada e quem mais quiser se sentir livre pra fazer o que bem entender, sem julgamento de ninguém. Sua letras deixam claro que Karina tem um espaço diferente no “setor” de mulheres da música. Não é qualquer uma que canta com um sorriso coisas como “dorme logo antes que você morra” ou “eu sou uma pessoa má, eu menti pra você” ou ainda “seu filho ri, enquanto o meu chora, você chama o psicólogo, eu jogo você fora”. Mais do que Selvática, o nome do disco que a fez ser banida do Facebook por aparecer na capa sem blusa, Karina Bhur surge fodástica neste novo show.

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Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.