Depeche Mode: por que vale a pena juntar suas moedas pra estar no show de SP em março de 2018

Luis Depeche
Por Luis Depeche

Com um álbum novo álbum causando bafafá na internet e uma turnê com passagem confirmada pelo Brasil, em 2018, o Depeche Mode voltou a ser assunto quente nas rodinhas da internet. Batizada de Global Spirit Tour, a parte da turnê que cabe a nós brasucas desembarca em São Paulo, no Allianz Park, no dia 27 de março. Portanto, até lá ainda tem chão, singles e com certeza uma avalanche de remixes para diferentes tipos de pistas.

Em sua primeira visita ao Brasil , em abril de 1994, a banda estava no auge de sua fase mais complicada. O vício do vocalista, Dave Gahan, em heroína culminou na sua “morte por dois minutos” e desestabilizou a banda.

Depeche Mode no Brasil em 1994

Na época, os integrantes mal se falavam durante a turnê. Martin Gore foi acometido por convulsões e viajava acompanhado de seu psicólogo. Alan Wilder assumiu as baquetas e logo em seguida puxaria seu carro e o estacionaria exclusivamente na garagem do Recoil, seu projeto eletrônico desde meados dos oitenta. Andrew Fletcher, considerado pela geral como o membro de escanteio da banda, nem deu o ar da graça por aqui. Na época, ele alegou que sua presença era mais importante na ala comercial e burocrática do que no palco, e foi substituído por Daryl Bamonte, ex- roadie do DM, alçado à categoria de quinto membro.

De lá pra cá, muita água rolou. Martin Gore deu um senhor tapa em sua arcada dentária e ficou com um sorriso pra lá de comercial de dentifrícios. Houve a reunião da velha-guarda entre Vince Clarke e Martin, que rendeu o projeto de techno VCMG. Dave largou o vício, superou um tumor cancerígeno maligno e iniciou a carreira solo e a colaboração com o The Soulsavers. Fletcher ganhou uns bons quilos, atacou de DJ (com direito a um set animado e revivalista na extinta Pacha, na Zona Oeste de SP) e, recentemente, livrou-se do estigma visual que acometeu grande parte de seus contemporâneos do show bizz musical, aquele indefectível “efeito baiacu”.

O Depeche repaginado de 2017

Sobre o possível resgate da sonoridade eletrônica dos tempos em que eles realmente faziam uma grande diferença no cenário musical (eletrônico, pop, alternativo e até mesmo no rock)… não foi desta vez. Pois parece haver um consenso de que, a partir do álbum Playing the Angel, a banda foi perdendo seu “mojo” e suas recentes investidas no electro-blues tornaram-se repetitivas.

O 14o álbum do DM, Spirit, vazou pouco antes do seu lançamento: bafafá instaurado na internet

Spirit, o 14° álbum de estúdio, que acabou “vazando” poucas semanas antes de seu lançamento oficial, mostra um Depeche Mode mais intransigente e politicamente engajado. Se, por um bom tempo, Martin Gore assumiu como pedras fundamentais temas como relacionamento, dominação, luxúria, amor, bem, mal, incesto, pecado, religião e imoralidade, com este novo disco já se faz possível incluir a política como seu mais recente campo de batalha.

Where’s the Revolution, o primeiro single do álbum, parece convocar a humanidade a uma chacoalhada geral na consciência e, dependendo do ponto de vista, permite ao ouvinte conectar pontos bastante urgentes entre os infelizes e recentes acontecimentos políticos ao redor do planeta: Brexit, Trump, Síria, Golpe, e por aí vai. Quem assina a direção do videoclipe é o parceiro de longa data, Anton Corbjin, essencial nos registros em preto e branco de outras influentes bandas como Joy Division, U2, Echo and the Bunnymen e, recentemente, Arcade Fire.

Where’s The Revolution – Depeche Mode

A produção de Spirit ficou nas mãos de John Ford, metade do Simian Mobile Disco. Isso faz sentido, considerando o apreço do SMD por síntese sonora e synths analógicos tanto em estúdio quanto ao vivo. O som do produtor dá as caras na metade de Cover Me, quando engata um mantra ácido em 4×4 que poderia se estender tranquilamente por uns dez minutos.

Martin Gore e Dave Gahan: 35 de uma parceria artística recheada de emoções fortes

Comparado ao trabalho anterior, Spirit apresenta uma sonoridade menos polida. Se a idéia de Delta Machine era oferecer certo conforto à alma, Spirit em momento algum demonstra vulnerabilidade e vem mais rígido, sem se importar muito com refrões agradáveis e de fácil digestão. Com a voz mais grave, Dave Gahan agora responde pela autoria (e co-autoria) de praticamente metade do álbum.

Gahan agora assina boa parte das produções do DM

O tom messiânico assumido desde SOFAD também está presente e, agora, mais pé-no-chão, como indica Going Backwards. Em recente entrevista, Dave explica que a idéia do álbum é a busca pela união. Nessa faixa, ele mostra o quanto a humanidade regrediu, a ponto de “não sentir nada por dentro”. Como um alerta, soa mais pesado que as sirenes eletronicamente emuladas no decorrer da música. É o Depeche Mode descendo das montanhas e indo direto para o palanque em praça pública.

Além dos temas prediletos de Martin Gore, Spirit trouxe um forte tom de crítica social e política

Poison Heart é David Gahan pigarreado e escarrado. Todo o lado bluesy, soul e gospel, modernamente moldado em Delta Machine, está representado nestes emotivos quatro minutos. Outra boa paragem sonora é Poorman. Em termos líricos, é a evolução e amadurecimento de Everything Counts, um dos primeiros manifestos anti-corporativismo do synthpop.

Fail é o apelo final para colocarmos as mãos em nossas consciências e se encerra de forma enternecedora, parecendo ter saído de algum inspirado momento de A Broken Frame, de 1982. A partir daí, se pensarmos nos 35 anos da banda, veremos que a versão madura do DM se manteve digna e ainda esbanja uma invejável atitude.

As vendas para o show de São Paulo abrem na segunda (17) para clientes Ourocard e na quarta (19), às 23h para o público em geral. Clique aqui para ver os preços e condições de pagamento.

Saudade dessa banda? Andrew Fletcher, Dave Gahan e Martin Gore estarão em SP em 2018. Só vai faltar Vince Clarke

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