Liverpool é a cidade das bandas. E Dead or Alive também nasceu na terra dos Beatles, em 1980, como parte integrante da onda new wave que assolou o planeta. A banda virou ícone da androgenia e de tudo o que havia de mais moderno na música graças, principalmente, a seu frontman, Pete Burns, que morreu na última segunda (23) em decorrência de um infarte aos 57 anos.
Antes do Dead or Alive, Burns já havia participado da banda Mistery Girls, nome sugestivo para uma banda com levada punk e que durou apenas um show. Depois veio Nightmares, banda pós-punk, gótica que lançou um EP que incluía uma insólita regravação de That’s The Way do KC and Sunshine Band. Ainda em 80, durante a gravação de novas faixas, a banda ganhou o novo nome de Dead or Alive, com Wayne Hussey recém-saído do Sisters of Mercy e antes de montar The Mission. Depois de três anos na estrada, a banda assinou com a gravadora Epic e lançou Misty Circle, que chegou a entrar no Top 100 das mais tocadas da Inglaterra.
Dead Or Alive – Misty Circles (Razzmatazz)
Mas o visual andrógino de Pete Burns chamava muito mais atenção do que sua música. Aliás, conta a lenda que ele odiava Boy George, pois dizia que ele havia se apoderado de seu look. Em 1984, saía pela gravadora Epic o primeiro álbum, Sophisticated Boom Boom, de onde saiu o primeiro hit da banda no Top 40 inglês, com mais uma regravação de That’s The Way.
O álbum atingiu a posição número 29 na parada inglesa. Após a saída de Hussey, a banda se torna um quarteto e em maio de 1985 lança seu segundo álbum, Youthquake. Produzido pelo incrível trio Stock, Aitkene e Waterman, maior celeiro de hits da Inglaterra (autores de hits de Rick Astley, Mel and Kim, Bananarama, Kylie Minogue, Donna Summer, entre outros), na segunda metade dos anos 80, foi desse disco que saiu o maior hit da banda, You Spin Me Round (Like A Record), que atingiu o primeiro lugar na parada inglesa e se tornou um hit mundial, elevando a banda a um novo patamar.
You Spin Me Round (Like A Record)
Com um som que misturava high-energy (a disco music hipergay do início dos anos 80) e new wave, o Dead or Alive se firmava como uma banda dançante. Do segundo álbum ainda sairiam mais quatro hits: Lover Come Back (To Me), Into Deep, I Wanna Be A Toy e My Heart Goes Bang, todos com belas posições nos charts (especialmente na Inglaterra), consagrando de vez o DOA como a banda do momento.
Com o sucesso do álbum e da turnê, outro disco veio na sequência. Com o nome curioso de Mad, Bad and Dangerous to Know o novo álbum também teve produção de Stock, Aitkene e Waterman, e o primeiro single, Brand New Lover, foi direto pro número 13 da parada pop da Billboard e número 1 da parada de dance music. Na Inglaterra, o single de maior sucesso foi Something in My House, que mesmo mantendo a pegada dance, trazia elementos góticos e causou polêmica por conter simbologias associadas ao satanismo, como cruzes invertidas.
Dead Or Alive – Something in My House
Com um segundo álbum que não chegou a explodir, dois integrantes abandonaram o barco, que ficou então reduzido a um duo. E foi assim que o DOA chegou, em 1989, ao terceiro álbum, Nude. Com uma levada próxima do freestyle e da dance music americana, o disco teve apenas um hit, Come Home With me Baby, que é uma das mais populares músicas da banda no Brasil.
Dead Or Alive – Come Home With Me Baby
Esse álbum encerra o ciclo de sucesso popular do Dead Or Alive. Nos anos 90, o grupo assumiu ares de projeto, sem o pop como foco. Nessa fase também as performances ao vivo do grupo ganharam inéditos contornos homoeróticos, idéia mantida também nos clipes e na atitude de Pete Burns, que cada vez mais assumia sua homossexualidade. Detalhe, Pete, que era casado com a cabeleireira Lyne Corlett, definia-se como bissexual e se divorciou dela apenas em 2006. Ainda nos anos 90, com o nome Dead or Alive, lançou um álbum apenas no Japão chamado Fan The Flame part 1. Depois disso vieram alguns singles, como a regravação de Rebel Rebel de David Bowie, sob o nome International Crysis; o som lembrava as produções de ítalo-house dos anos 90.
International Chrysis – Rebel Rebel
Ainda em 1995, de novo como Dead Or Alive, Burns lançou mais um álbum, Nukleopatra, reunindo vários singles que haviam sido lançados avulsos, como Rebel Rebel e regravações como Picture This do Blondie. O que mais chamava a atenção nesse trabalho era a transformação do vocalista, que surgiu irreconhecível, após inúmeras operações plásticas. Ele chegou a admitir ter feito mais de 300 cirurgias para ter o rosto que desejava.
Nos anos 2000, Burns se tornou um tipo de celebridade de tabloide sem relevância artística, cujo maior atrativo era a bizarrice de sua aparência. Chegou a participar em 2006 do Big Brother Celebrity, na Inglaterra, época em que You Spin Me Round foi relançado. Em 2007, ele se casou com seu namorado, Michael Simpson. Em 202313, Burns lançou com seu próprio nome seu último single, Never Marry an Icon, uma óbvia referência a ele mesmo. O clipe era uma coletânea de imagens de sua carreira.
Pete Burns – Never Marry An Icon
Com uma vida agitada e polêmica, Pete Burns se junta a uma legião de astros da música que partiram deste plano em 2016 – e olha que não foram poucos, Bowie, Prince, Maurice White (Earth, Wind & Fire), Billy Paul… Mas seu legado bafônico, gótico, dançante e subversivo irá ficar pra sempre.