Da Lady Gaga a Marylin Manson. A influência de Depeche Mode na música pop e o legado do genial Andrew Fletcher

Claudio Dirani
Por Claudio Dirani

Como o Depeche Mode influenciou  – e continua a influenciar – alguns dos maiores artistas da música pop internacional

 Andrew Fletcher agora é imortal. Em um dia em que os fãs atravessam o auge do luto pelo seu precoce falecimento – melancolicamente, a menos de dois meses de completar 61 anos – um dos poucos consolos que restam para quem ama o Depeche Mode é relembrar uma série dos melhores momentos do tecladista – e reivindicar o legado do grupo britânico fundado em 1980 na cidade de Basildon, ao lado dos parceiros Dave Gahan (vocal), Martin Gore (guitarra, vocal) e Vince Clarke (guitarra, teclados, vocal).

“Sou o oposto de Dave (Gahan). Sou músico, mas nas ruas ninguém me reconhece. Dentro da banda, minha contribuição é ser um elemento do pop”, declarou Fletch em 2009.

O depoimento na defensiva de um dos responsáveis pelo sucesso do Depeche Mode é justificável. Não foram poucas as vezes que o nativo da cidade de Nottingham foi questionado pela crítica quanto ao seu efetivo papel nas performances do grupo.

Considerado um dos responsáveis pela boa administração dos negócios do Depeche Mode, atuando como uma espécie de porta-voz e empresário, Fletcher era um mago dos efeitos, dominando uma coleção de teclados, sintetizadores e gadgets. Destaque para os clássicos Oberheim OB-8, Moog e Korg RS-20.

Ao serem informados da morte de Andrew Fletcher na última quinta-feira, 26 de maio, os membros do Depeche Mode resumiram a essência humana de seu companheiro, da mesma forma que ele apreciava fazer música. Nas palavras do próprio Fletcher, “Com a simplicidade das melodias pop e toda a leveza que elas representam”.

Pelo Twitter oficial do grupo, a declaração da banda sobre o falecimento do tecladista destacou que “Andrew Fletcher tinha um coração de ouro e sempre estava presente quando precisávamos de seu apoio, de uma boa conversa ou simplesmente, dividir uma cerveja.

A seguir, o music non stop apresenta uma coleção especial de conquistas do Depeche Mode que influenciaram o universo da cultura pop mundial.

 

(God Bless you, Andrew Fletcher. R.I.P)

Nine Inch Nails e o encanto por “Black Celebration”

O synth/goth-pop do Depeche Mode de Andrew Fletcher gerou – e ainda gera – uma linha diversa de grupos inspirados por sua influencial arte.

Um dos mais importantes nomes do rock industrial/techno a admitir o poder do Depeche Mode foi Trent Reznor, do Nine Inch Nails. O multifacetado artista declarou que a banda inglesa o inspirou a seguir a carreira musical.

“Era verão de 86. Eu larguei a faculdade e morava ainda em Cleveland, tentando encontrar meu caminho na cena musical local. Eu e uns amigos fomos ao anfiteatro Blossom Music Center para ver a turnê do Black Celebration. Depeche Mode era uma das nossas bandas favoritas e o álbum Black Celebration (o 5º do grupo) levou meu amor por eles a um novo nível. A música, a energia, o público, a conexão. Foi espiritual e realmente mágico”, confessou Reznor em 2017.

“Songs of Faith and Devotion” e a origem do The Killers

Em 1993, quase uma década antes de criar o The Killers em Las Vegas, o jovem Brandon Flowers entrou em sua loja favorita com apenas uma missão: levar para casa Songs Of Faith and Devotion – o primeiro disco comprado pelo futuro vocalista com suas suadas verdinhas. O resto é história, contada por ele mesmo.

“Quando tinha 15 anos, arrumei um trabalho em um restaurante em Utah chamado Taco Time. Eu sempre fui fã do Depeche Mode e corri para a loja Flying J para comprar Songs Of Faith and Devotion. Anos mais tarde (quem diria!) viríamos a trabalhar com Flood, o produtor do álbum, em nosso segundo trabalho, Sam’s Town. Foi uma grande influência”, garante Flowers.

 

Coldplay e “Enjoy The Silence”: tributo audio-visual

O Depeche Mode não é apenas uma das inúmeras e poderosas influências musicais do Coldplay. O grupo de Andrew Fletcher também impactou sua imagem pop.

A prova está no vídeo alternativo do single de 2008, “Viva La Vida”. A criação de Anton Corbijn, rodada na Holanda – terra natal do cineasta e fotógrafo – é uma homenagem à “Enjoy The Silence”, do Depeche Mode. Não por coincidência, o clipe do segundo single do álbum Violator, em 1990, foi dirigido pelo próprio Corbijn.

Mesmo com todo o sucesso, o vocalista Dave Gahan odiou ter de se vestir como um rei e gravar no topo de uma montanha, acima dos 3 mil metros, nos Alpes Suíços. “Me senti um perfeito idiota fazendo aquilo”, declarou Gahan anos depois da filmagem.

“101” e a conquista da América

Tomar de assalto o mercado norte-americano nunca foi tarefa fácil para grupos pop, além de se transformar em obsessão para os artistas ingleses.

Em 1989, o pacote multimídia 101 trouxe à tona o impacto causado pelo Depeche Mode nos Estados Unidos. Lançado como documentário e álbum ao vivo, 101 é um retrato fiel da devoção conquistada pelos britânicos na sua antiga colônia.

Com direção do lendário D. A Pennebaker (o mesmo de “Don’t Look Back”, de Bob Dylan), o filme mostra com detalhes vívidos a performance perfeita no último show da turnê Music For the Masses, em 18 de junho de 1988, no estádio Rose Bowl, em Pasadena, Califórnia.

 

Lady Gaga: o amor pelos mash-ups do Depeche Mode e o som de Andrew Fletcher

São raras as estrelas da música que podem ser categorizadas como rainhas do pop. Lady Gaga, inegavelmente uma das herdeiras diretas do legado de Madonna, é digna de dividir esse trono.

Apesar de confessar não ter conhecimento profundo do Depeche Mode, a descoberta da banda a transformou em uma fã de respeito.

Tudo aconteceu após escavar o YouTube e encontrar um mash-up de “Paparazzi” e “Just Can’t Enough”. Esta última, música lançada em Speak & Spell, disco de estreia dos ingleses.

“Quando descobri esse mash-up com a minha música, falei: uau! É uma banda que merecia muito mais reconhecimento do que já tem. Sugeri a todos que ouvissem mais Depeche Mode”, confessou Gaga.

Certamente, a indicação de Lady Gaga funcionou como gatilho para fomentar ainda mais o legado do Depeche Mode.

A piada sobre “Violator” e o impacto no rock pesado

Era para ser uma piada. No fim, a piada virou coisa séria. Em 1990, o Depeche Mode decidiu batizar de forma irônica o seu sétimo álbum de estúdio como Violator. A intenção era satirizar a horda de perseguidores valentões, que tripudiavam do som light feito pelo quarteto inglês.

“Nossa ideia era bolar um título que incorporasse da forma mais extrema e ridícula o nome de um suposto disco de Heavy Metal. Porém, na verdade ficarei surpreso se as pessoas entenderem a piada”, comentou Martin Gore ao jornal NME, à época do lançamento de Violator.

Ironicamente, o que era para ser piada se transformou em realidade. Apesar do passado de bullying sofrido por roqueiros, músicas do Depeche Mode começaram a ser reinterpretadas por alguns dos mais pesados artistas do gênero. Entre eles, Rammstein e Marilyn Manson.

 

 

 

 

 

Claudio Dirani

Claudio D.Dirani é jornalista com mais de 25 anos de palcos e autor de MASTERS: Paul McCartney em discos e canções e Na Rota da BR-U2.

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