Galeria do DJ Sonia Abreu funciona dentro do Centro Cultural Olido e terá exposições com temáticas semestrais
Certamente o DJ Oswaldo Pereira, o “Seu Osvaldo“, quando começou a tocar discos com sua Orquestra Invisível no final da década de 50 para dançarinos que não conseguiam pagar os caros ingressos dos bailes de gala paulistanos, não imaginou que iria virar peça de museu. Ou, pelo menos, de exposição. Afinal, o primeiro DJ da cidade e do país ainda roda seus discos por aí. Sua última apresentação foi justamente uma emocionante live transmitida pelos canais da Olido durante as comemorações do “Dia do DJ” (09 de março).
Tampouco Sonia Abreu, incansável DJ, radialista e sound sister (bingo!) imaginaria que veria lá das nuvens (já que mudou de plano em 2019), uma galeria dedicada à profissão pela qual tanto militou sendo batizada com seu nome. Sônia rodou o estado com seu Sound System chamado Ondas Tropicais, o primeiro do país (assim como tantas outras ações pioneiras da “mãe da p*%#a toda”) e presente em praças, praias e festivais como o seminal Festival de Águas Claras, marco da cultura alternativa brasileira.
São Paulo ganha nesta quarta-feira (28.04) sua maior exposição dedicada a contar a história da discotecagem por seus salões, inferninhos, ruas e praças nos últimos 60 anos. A cidade que produziu os primeiros grandes astros da discotecagem durante a era da disco music (cuja nomenclatura vem justamente de “música de discoteca”) como Robertinho e Gregão (in memoriam) mais do que merecia um espaço totalmente dedicado à arte de girar discos. A mostra 60 Anos de Discotecagem em SP é a primeira da Galeria do DJ Sonia Abreu, que se propõe a trazer exposições temáticas que contam a história do DJ em diversos tempos e cenários musicais.
“A ideia é que as exposições sejam semestrais”, conta Claudia Assef , também coordenadora do Centro Cultural Olido e idealizadora do projeto junto a Alexandre Youssef, Secretário de Cultura, que a convidou em 2019 com objetivo de recuperar a verve de reverberador da cultura urbana que a Olido tem desde o começo deste século. “A próximas serão dedicadas ao Reggae ou ao Hip-Hop, ainda estamos definindo”. A duração da primeira mostra ainda pode flutuar dependendo do tempo que a visitação ao espaço esteja restrita devido aos cuidados com a pandemia.
O rolê que inaugura o espaço, “60 Anos de Discotecagem em São Paulo” reúne uma memorabilia de mais de “100 DJS de várias épocas e estilos musicais, como a própria Sonia Abreu, KL Jay, DJ Marky, DJ Nuts, Vintage Culture, VJ Spetto, Erika Palomino (atual diretora do Centro Cultural São Paulo), L_cio, Tessuto, Gop Tun, Mamba Negra, Tony Hits, Gui Boratto, Davis, Dmitri, Iraí Campos, Julião, Fabio Mergulhão, Claudia Guimarães, e muitos outros”.
Pois é, Sonia entregou a Claudia Assef, sua amiga e biógrafa, peças de seu acervo antes de sua morte, pois acreditava que “um dia ela usaria”, desmentindo meu parágrafo introdutório sobre a DJ não imaginar o tamanho de seu legado. Inocência minha.
A inauguração terá ainda uma live com set especial do DJ Marky e tour virtual pelos canais da Olido. A partir de 18 de maio, o espaço abre para o público em geral com visitas agendadas pelo site Sympla, com capacidade de até 10 pessoas por hora, observando todos os protocolos de segurança e distanciamento social. As inscrições são gratuitas e o link será divulgado em breve nas redes sociais.
A Olido (antes de virar centro cultural era “Galeria Olido”) foi inicialmente adotado pela galera do Hip-Hop, cuja figura do DJ é dos pilares de sua cultura, que ocupou seus corredores e espaços para batalhas de rimas e dança graças à proximidade às chamadas grandes galerias em frente ao largo Paissandu repletos de lojas de roupas, discos e equipamentos para a galera desta cena. Após uns anos flutuando meio à deriva no oceano de informação musical chamado São Paulo, o projeto de resgatar sua vocação a abraçar a chamada “arte urbana” deu ao importante e bem localizado espaço sua bússola.
Desde então, DJs e coletivos de diversos gêneros musicais vêm se apresentando. Antes da pandemia era comum passar caminhando pela esquina da av. São João com a rua 7 de Abril e topar com uma turma animada dançando ao som de algum DJ no salão chamado de “Vitrine da Dança”. Após a proibição da aglomerações devido à crise sanitária atual, o centro funcionou como um importante respiro contratando esta turma para lives transmitidas através do canal da Olido no Twitch.
A Galeria Sonia Abreu se firma como um vortex, portanto, do passado e do futuro da discotecagem paulistana. O centro cultural tem espaços que podem abrigar projetos autorais trazidos por núcleos, coletivos e produtores culturais. Os frequentadores terão então acesso à tudo o que já foi construído pelos desbravadores desta cultura na cidade enquanto ouvem o som de quem está justamente escrevendo mais capítulos desta história.
“Dois tocadiscos e um microfone!”, diz o lema Hip-Hop.
Dois tocadiscos, um microfone, um chão liso, um monte de gente corajosa com vontade de tocar música, loucos pelo dançar… e uma galeria para todos estas pessoas, diria Sonia Abreu.
ServiçoGaleria do DJ – Centro Cultural OlidoAv. São João, 473 – Centro Histórico de São Paulo. (11) 2899-7370Tour virtual a partir das 19h desta quarta-feira, 28 de abril de 2021