Conversamos com Roberto Barreto, do Baiana System, sobre a retomada aos shows e o reencontro com São Paulo
Idealizador e guitarrista do Baiana System, Roberto Barreto comenta retomada da agenda de shows da banda e cenário pós-pandemia e reencontro com São Paulo em julho
Em 2022 os setores da cultura e do entretenimento começaram a experimentar algum respiro em relação ao isolamento e distanciamento social impostos pela pandemia e com isso diversos eventos, encontros e festivais anunciaram edições presenciais. Artistas voltam aos palcos e as ruas enquanto, aos poucos, a vida vai se redesenhando e nos permitindo lembrar do movimento e energia que um dia alimentou as cidades. O Baiana System é um desses fenômenos que para acontecer integralmente depende do encontro, da interação humana, seja com o público, seja entre músicos e criadores de toda a sorte. Hoje conversamos com Roberto Barreto, guitarrista e idealizador do grupo, sobre esse cenário de retomada, o momento atual do grupo, da música brasileira, alguns sonhos e sobre um reencontro próximo com São Paulo, cidade onde aconteceu o último espetáculo do Navio Pirata antes da terra parar.
2022 começou com tudo, quais planos você poderia compartilhar com a gente para esse ano?
Na verdade 2022 começou ainda adiando um pouco as coisas, a gente achou que as movimentações iam voltar em janeiro, tínhamos perspectivas de alguns shows e também sobre o carnaval, enfim, algumas coisas ali para janeiro… Mas isso foi caindo e, na verdade, a gente só esta voltando agora efetivamente a rotina de shows. Fizemos no Rio e em Salvador recentemente, bastante coisa rolando em abril e maio… E acho que esse ano pra todos nós, de alguma maneira, é um ano basicamente de retorno, de recomeço. Pra todos os artistas que gravaram e lançaram coisas durante a pandemia né.
A gente fez algumas coisas nesse período, lançamos um álbum, o Oxe Axé Exú (ouça aqui), um documentário – o “Manifestação: Carnaval do Invisível”, o disco “Futuro DUB” com Buguinha Dub, e um disco ao vivo também, o “Gil Baiana”. Os shows mesmo ficaram parados, o Sulamericano Show, e agora a gente começa a retornar. Acho que o grande plano e expectativa de todos nós é essa retomada do presencial, o contato com o público, tocar coisas novas no show, reaprender a estar no palco com as trocas e as coisas todas que acontecem… E se tudo der certo vamos seguir com os compromissos, os novos e os que estavam pendentes por conta da pandemia.
Confira o documentário Manifestação carnaval do invisível”:
Como é a relação com as transformações e consequências da pandemia e o atual cenário de reestruturação do setor da cultura e entretenimento?
As principais mudanças aconteceram principalmente por conta da situação imposta pela pandemia, essa coisa da não presença influenciou todo o nosso processo de produção. E agora que a gente está entendendo como é voltar a tocar, os novos códigos, como vão acontecendo, junto com o público, como são os comportamentos no show. É um momento de entendermos juntos isso.
E Salvador, como está musicalmente após esses 2 anos?
Não estamos conseguindo perceber muito porque os shows e a cenas estão se redesenhando agora, de 1 mês pra cá… Não teve carnaval, a retomada mesmo tá acontecendo em abril. Acho que está todo mundo nessa expectativa, de entender como vai ser, vai ter bastante coisa até o final do ano, mas por enquanto tá tudo muito incerto.
Como você percebe essa ideia de remarcação do carnaval para abril? Como está isso por aí?
Acho que fica estranho né, o carnaval aqui, pelo menos pra gente, não é assim só uma festa que é possível remarcar a data/adiar e pronto, tem um sentido muito mais amplo, tem a quarta-feira de cinzas, a relação com a semana santa, os espaços da cidade, onde acontece, como no centro antigo… Então isso é que é o carnaval, mas fora isso pode ser uma festa que as pessoas querem chamar de carnaval por que não teve o carnaval, mas não entendo isso com carnaval.
Esse cenário impacta o processo criativo da banda de que forma?
O que acho que impacta mais é justamente os contatos, o presencial, que acontecia, em todos os sentidos, de uma maneira mais efetiva né… Desde o momento do show, o contato com os músicos, com o público, o contato em estúdio, na maneira de produzir, essa coisa da presença física, da troca real, de você estar realmente tocando um instrumento junto com outra pessoa e poder perceber como aquilo impacta em você diretamente, em tempo real, sabe? E o show, a mesma coisa, você toca aquela música que você ensaia de um jeito, imagina que é de um jeito, mas quando toca ela acontece a partir da interação com o público, então o impacto maior foi nisso, e agora que a gente começa a ter a volta dessa quentura, da troca real, e eu acho que isso vai aparecendo voltando a estar mais presente na arte de uma maneira mais direta.
Uma das características marcantes do trabalho do grupo é a forma como combinam elementos de diversos universos musicais. Quais artistas/projetos que tem sido inspiração no momento?
A gente já tinha feito isso no Oxe, Axé, Exú, mas voltamos a ouvir bastante coisa da América Latina, produções mais recentes e mais antigas também. Eu não tenho escutado tanta coisa nesse período por que justamente a gente voltou a ensaiar, se encontrar, viajar e tudo, e com isso se perde um pouco disso né, esse tempo de estar ouvindo outras coisas… Mas deixa eu pensar… Tem uma artista que me chamou atenção recentemente, porque eu separo umas coisas que fico ouvindo pelo programa de música africana que produzo, e andei ouvindo muita coisa de Asa, uma cantora francesa da Nigéria.
Aproveitando que estamos falando de música, como você percebe o cenário da música no Brasil atualmente?
Uma coisa que acho que os artistas estão aprendendo a lidar é com a questão dos números nesse mercado novo que tem se configurado com a internet, compreender o que são efetivamente esses números, o que são esses ouvintes… A maneira de lançar, de se publicar… E com essa historia de deixar de ter show, tivemos que lidar muito com outras maneiras do público interagir com a gente né. Tenho observado muito esse movimento, uma compreensão maior sobre esse processo, de entendimento sobre com quem a gente está falando, como o trabalho da gente é distribuído, ao mesmo tempo percebo a importância de não ficarmos presos nisso, simplesmente em números e análises de mercado, num movimento friamente burocrático. É importante entender as outras extensões desse trabalho, o processo de produção, as trocas com as pessoas com quem a gente faz a música…
Em julho a banda estará em São Paulo para uma apresentação na primeira edição do Festival Turá, no Ibirapuera. O que podemos esperar desse reencontro com a capital paulistana?
É a nossa volta para São Paulo né. A nossa ultima apresentação em São Paulo foi no carnaval de 2020 e é a lembrança que temos, ultima memória antes da pandemia, aquelas pessoas todas, o navio pirata… E logo depois tudo mudou. Então agora poder voltar a São Paulo, num festival grande como esse, no parque do Ibirapuera, pra gente gera uma expectativa muito grande. A gente está com o Sul-americano show versão “Brasiliana” que é como a gente está chamando e é justamente o Show Sul-americano já com alguns elementos do disco novo, então é isso, a expectativa é de mostrar o que a gente tem de melhor nesse momento. Ansiedade para esse reencontro!
Compartilha um sonho com a gente?
Nesse momento? Mudar a situação atual que a gente vive, a política desse país. Se a gente conseguir fazer isso esse ano, a gente vai ficar bem melhor do que esta agora.
Sobre o Festival Turá, que acontecerá pela primeira vez em São Paulo, no mês de julho:
Com o nome que faz uma brincadeira com o final das palavras abertura, cultura, mistura e releitura, o festival terá uma programação 100% nacional, com shows de artistas e DJs de diferentes regiões do Brasil, além de um cardápio que levará o público a uma viagem pelo país.
O projeto anunciou 14 artistas que se apresentarão durante a primeira edição do evento, que acontecerá nos dias 02 e 03 de julho. Alceu Valença, Baco Exu do Blues, Baiana System, Banda Baby, Duda Beat, Emicida, Illy, Lagum, Luísa e os Alquimistas, Marina Sena, Mart’nália, Roberta Sá, Xamã e Zeca Pagodinho já estão confirmados no festival, criado com o intuito de fomentar, exaltar e divulgar a pluralidade da cultura do nosso país. Ao todo, serão mais de 20 atrações, oferecendo mais de 24 horas de músicas brasileiras para o público.
A venda dos ingressos para o Festival Turá se inicia oficialmente no dia 16 de março, pelo site da Tickets For Fun, por a partir de R$120 – sujeito à término de lote.
Serviço – TURÁ:
Endereço: Auditório do Ibirapuera – Av. Pedro Álvares Cabral, S/N – Parque do Ibirapuera, São Paulo – SP
Data: 02 e 03 de julho
Horários: das 11h às 22h
Valor: a partir de R$120 – sujeito à término de lote
Venda de ingressos: ticketsforfun
Classificação indicativa:
Abaixo de 05 anos – não será permitida a entrada
De 05 a 15 anos – Permitida a entrada acompanhada pelos responsáveis
A partir de 16 anos – Permitida a entrada
Capacidade: 15 mil pessoas por dia
Mais Informações: https://www.festivaltura.com.br/