Conversamos com Lucas Boombeat sobre seu novo EP- “não é pra mim, mas sim pros que aqui estão e que virão”
O artista, acompanhado por um time de produtores de peso, cruza diferentes estilos representando seus ouvintes de todo o Brasil, com direito a um clipão que resgata a magia e o brilho das décadas de 70 e 80!
Rapper, cantor e compositor, Lucas Boombeat traz rimas ácidas, melodias marcantes e um estilo único, que fazem com que ele venha se destacando cada vez mais na cena do RAP e na cena LGBTQIA+ da música brasileira.
Apontado como uma das grandes apostas do ano, em Março de 2020 lançou seu álbum de estreia “Nem Tudo é Close”, onde demonstra versatilidade ao abordar uma diversidade de temas explorando diferentes formas de criar na música.
Agora o artista lança o EP Nem Tudo é Close Remixes, que conta com 6 faixas extraídas do seu álbum debut “Nem Tudo é Close”, agora com uma nova experiência sonora com influências do pop contemporâneo e percorrendo variantes dos anos 80, 90 e 2000. Tudo isso com um time de grandes produtores como Zebu, BADSISTA, Noize Men, CyberKills, e novos nomes como veronicat e Sanvtto, que fizeram com que as faixas trouxessem a sensação de que nasceram como foram entregues no EP.
“O resultado vem da sinceridade com meu trabalho. Todos os estilos presentes fizeram parte de momentos marcantes na minha história, desde minha infância até os dias de hoje.” – Lucas Boombeat
Além do time de produtores o “NTC Remixes” também conta com participações de Gloria Groove, Bivolt e Harlley que também estavam presentes no seu álbum de estreia.
A faixa remixada por Zebu, “Melhor Assim” com participação de Harlley, ganhou versão audiovisual dirigida por Indigno Kid, produtor multimídia que também dirigiu trabalhos de outros artistas importantes como Linn da Quebrada, Davi Sabbag, Potyguara Bardo, Kaya Conky, Mia Badgyal.
O clipe para o Remix de Melhor Assim de Lucas Boombeat com participação de Harlley é inspirado na virada dos anos 70 para os 80. O artista conta que “resgatamos elementos estéticos do imaginário da era disco e de performances televisivas de programas como o alemão Musikladen, onde a técnica de chroma key era utilizada, criando visuais únicos para cada artista. Além disso trouxemos também alguns elementos do vaporwave oitentista em um universo cósmico e sideral.”
Para entender mais sobre a experiência de criar e ouvir o NTC Remixes batemos um papo com o Lucas:
MNS Como você se sentiu com a experiência de repaginar as músicas do seu álbum de estréia?
Foi uma sensação nova no qual nunca tinha feito antes apesar de ter muita vontade.
Mas lembro que o mais marcante depois de ouvir cada faixa, foi a sensação de que posso colocar minhas rimas e melodias em novos horizontes, onde consigo sem perder minha identidade explorar outras possibilidades através da minha essência musical.
MNS É evidente que o Rap e o Hip Hop marcam sua trajetória e obra. Como esse vínculo ecoa, para você, nesse trabalho e no seu momento atual?
Sinto que a presença do rap na minha vida ecoa de forma muito positiva a todo momento. Através das rimas consigo percorrer por outros gêneros musicais em parcerias e também até mesmo pro meu próprio trabalho. Cada vez mais descubro que posso colocar minha rima caber em qualquer gênero musical. E pra mim nada mais combina com o Brasil do que a mistura não é mesmo?! rs
MNS Como percebe a cultura do remix, sua influência na música pop e na sua trajetória?
Eu percebo de forma muito intuitiva o quanto o remix nos traz chances de ampliar as possibilidades até mesmo de sentir a letra de uma música. A intenção, o sentimento e o sentido de cada letra muda de acordo com o instrumental. E o mais bacana disso tudo é a junção com outros produtores que através da sua percepção, passam o que sentem sobre aquela música trazendo a sua verdade. Sendo assim uma janela mais ampla de artistas pra conhecermos.
MNS O que você pode dizer que vai carregar com você depois da experiência de trabalhar com Zebu, BADSISTA, Noize Men, CyberKills, veronicat, Sanvtto, Gloria Groove, Bivolt e Harlley?
Sem duvidas tudo mudou a partir desses encontros. Assim como no dia a dia da vida pessoal, todo mundo que chega deixa uma marca na gente, deixando um pouco de si no outro. E a partir dos encontros que esse projeto me proporcionou consigo me ver mais confiante pra seguir novos caminhos dentro da música. Então posso dizer que o que carrego de mais especial além da gratidão é a segurança de que posso ir além.
MNS Você conta que os diferentes estilos presentes no EP marcaram sua vida, cada um a sua maneira. Poderia contar um pouco mais sobre as sonoridades que influenciaram o EP?
O pagodão original da Bahia, fez parte da minha infância quando eu dançava todo final de semana na escola. Então quando o Noize Men, produtor de Salvador propôs a ideia de misturar o pagodão com trap em “Prettygosa” eu não pensei duas vezes e amei o resultado. No começo da minha fase de baladas LGBTQIA+ , era muito presente a música eletrônica e principalmente o gênero house no qual eu me acabava na pista e saia toda saidinha diga-se de passagem, então foi outro proposta que o CyberKills e a BadSista trouxeram que não teve como se apaixonar.
O Zebu foi quem trouxe a proposta do synthwave pra “Melhor Assim” pois disse na época que estava ouvindo bastante “Chromatica” último algum da Lady Gaga, assim como eu também estava. E lembro de quando ter escutado essa faixa eu chorei de emoção.
O reggae em “Não é Love Song” foi uma escolha minha por já amar desde sempre o estilo, que mesmo não sendo a área do SanvTTo ele não deixou a desejar e deu o nome e sobrenome trazendo uma pegada mais raiz e dançante ao mesmo tempo.
E na faixa “Nem Tudo é Close” lembro de ter pedido pra “veronicat” algo que me remetesse aos anos 80, pois além de eu escutar muito músicas da época, lembro de ir dormir a noite com meu pai dormindo e o rádio ligado tocando músicas da época. E ela fez numa pegada rock 80’s que não teve como não amar.
MNS Nos últimos anos o Brasil tem revelado uma diversidade de novos artistas e produtores que vem experimentando, cada um a sua maneira, o cruzamento de diferentes universos sonoros na música eletrônica. Como você percebe o impacto desse crescente movimento de experimentos na música pop brasileira?
MNS Como isso impacta seu trabalho/pesquisa?
Impactante de forma bastante positiva e desafiadora pra mim que faço rap.
Porque além de consumir músicas eletrônicas e ter vivenciado uma boa parte da minha vida em baladas, consigo resgatar e trazer de forma natural todo o feeling, tendo assim um ouvido que funciona bem quando o assunto é eletrônico e pop. E desafiador por não ser o mais comum pra mim que vim do Boombap e trap, gêneros mais comuns no rap.
Mas tenho grandes exemplos que fizeram super bem essa mistura como Black Eyed Peas e Azealia Banks.
MNS O que imagina despertar nas pessoas que ouvirem o NTC Remixes?
Separei letras que trazem um teor a mais de amor próprio pra esse EP, mas de uma forma onde você pode dançar dizendo dizendo isso de diversas formas.
E acredito despertar a sensação de que a músicas não pareçam ter sido remixadas e sim serem suas versões originais.
MNS Como você percebe as contribuições da população LGBTQIA+ na a música brasileira e pop em geral? Qual o reflexo disso na sua trajetória?
Eu percebo a contribuição da população LGBTQIA+ em todos os espaços da música no geral. Em alguns estilos menos outros mais, porém estamos em todos os lugares que percorrem esse meio. Seja consumindo, produzindo ou até mesmo no backstage pra que tudo isso aconteça. Com muito ainda a conquistar, eu sinto que num geral ainda nos falta mais visibilidade e oportunidade nesses espaços. Mesmo tendo que provar o tempo todo que somos capazes, muitas vezes fazendo o dobro do que pessoas que não são, mas mesmo assim não sendo o suficiente.
Por mais que se reflita no meu trabalho o esforço dos que também estão seguindo seus sonhos na música, sinto total importância pro movimento num todo. Pois como a própria palavra diz, temos que estar em movimento, fazendo e dando continuidade a quem lutou lá atrás mas não teve a oportunidades que hoje temos, aproveitando cada oportunidade dando seguimento por algo que não é só sobre mim e sobre nós, que não é pra mim mas sim pros que aqui estão e que virão.
MNS Em meio a pandemia, crise econômica, social e política global, o que te movimenta a criar e qual conselho ofereceria aos artistas em geral nesse momento?
Eu uso minha arte como ferramenta de mudança pra aquilo que acredito que deve ser mudado, muitas das vezes pra mim mesma. Então momentos de crise independente de qual seja, faço desses momentos motivação pra criar soluções através da minha música, fazendo dela meu remédio de cura no qual esse medicamento acaba servindo pra outras pessoas. Acho que não tem momento melhor pra nós conhecermos do que na dificuldade.
Não tem como dar um conselho de como reagir a tudo isso pois cada corpo sente de uma forma e chega a ser quase impossível não se abalar. Mas acredito que independente do momento que vivemos, estudar sobre a nossa volta, sobre nós mesmos, se conectando e constando-se com o mundo, nunca é demais e nos ajuda a ampliar as soluções cada qual da sua maneira.