Conheça a Technopol, a associação que defende a música eletrônica na França e faz tout le monde danser!

Claudia Assef
Por Claudia Assef

TEXTO POR LIGIANA COSTA E EDSON SECCO (NU)

O NU chegou a Paris depois de uma série de shows na Espanha, Itália e sul da França e, logo no primeiro dia, caminhando pela cidade, deu de cara com um cartaz anunciando a PEW (Paris Electronic Week). O evento, que aconteceu entre 21 e 24 de setembro, parecia feito pra gente! Nos inscrevemos e participamos dos quatro dias de conferências, mesas de debates, festas, shows e conversas sobre a cena da música eletrônica mundial e ainda tivemos a felicidade de conhecer Tommy Vaudecrane, o cara que criou e está por trás da estrutura disso tudo.

A PEW é o filhote mais novo da Technopol, associação francesa dedicada à cultura da música eletrônica e responsável pela gigantesca Techno Parade parisiense, que acontece no último dia da PEW. Depois da turnê terminada marcamos um encontro com Tommy na sede da Technopol para um papo sobre a cena da música eletrônica e sobre as ações dessa associação especialmente para o Music Non Stop. Quem sabe sua próxima parada seja curtir techno nas ruas de Paris?

TECHNOPOL

A história da Technopol se confunde com a história da música eletrônica francesa e especialmente com a luta para que ela fosse aceita pelas autoridades. A associação nasceu em 1996, época do boom da música eletrônica francesa, mas ao mesmo tempo um período de muita rejeição dessa cultura. O ministro do interior da França na época havia decidido proibir todo tipo de evento de música eletrônica, autorizando o uso de violência física e gás lacrimogêneo contra o público! Como se dançar ou tocar fosse crime! A gota d’água foi o cancelamento de um grande evento, Polaris, que deveria acontecer em Lyon. Naquele momento vários organizadores de eventos, selos e pessoas ligadas à música eletrônica se uniram para dar um basta à situação, era necessário que a cultura da música eletrônica fosse reconhecida, que as pessoas pudessem trabalhar e se organizar. Assim nasceu a Technopol.

A Techno Parade de Paris nasceu como um ato política para fazer as autoridades entenderem a importância da música eletrônica na sociedade

Durante dois anos a associação se reuniu com figuras do governo e, em 1998, foi feita uma circular que reconhecia a música eletrônica e sua cultura. Na época, a associação ganhou o apoio de Jack Lang (que foi diversas vezes ministro da Cultura e da Educação), que queria fazer algo próximo à Love Parade de Berlim em Paris. Assim, em 98 foi criada a Techno Parade, mostrando ao público o que afinal era essa tal música eletrônica que era capaz de fazer as pessoas dançarem ao ponto de incomodar as autoridades. A primeira parada contou com 20 trios e terminou na Place de la Nation com 500 mil pessoas dançando ao som dos DJs mais conhecidos da época.

Desde então, a associação defende a cultura eletrônica em toda a França, oferece vários cursos de formação profissional (tanto para DJs e compositores quanto para quem quer trabalhar na produção de festas, festivais etc) e promove uma série de eventos. Uma das causas que seguem de perto e com especial empenho é a da regulamentação do status dos DJs (que atualmente não recebem do governo francês os mesmos benefícios que recebem os músicos).

A jornalista Clau Assef e os DJs Fernando Moreno, Mau Mau, Anderson Noise e Renato Lopes na Techno Parade de 2012

DEMOCRACIA E DANÇA 

Technopol tem 200 membros (entre artistas, selos, produtores, donos de festivais, clubes e etc) que elegem todos os anos um conselho de administração de 12 a 15 pessoas que define os objetivos a serem perseguidos. Este conselho elege o presidente e sua equipe. Tommy Vaudecrane, além de DJ consagrado da cena francesa, é o atual presidente da associação. Ele nos explica que a Technopol abraça toda diversidade de música eletrônica, do experimental ao dubstep, do GRM ao IDM e todas as vertentes da música criada com meios eletrônicos.

Ano passado, a Techno Parade, que já acolheu grandes nomes da música eletrônica e já ajudou a lançar outros tantos, teve 12 trios e cerca de 300 mil pessoas. Qualquer clube ou festival que queira (e possa) levar um trio até lá pode participar (se inscrevendo antes, claro). Ano passado, por exemplo, um DJ decidiu alugar sozinho um trio e se exibir na parada, tocou durante 6 horas para um público gigantesco, o que lhe serviu como uma bela plataforma de lançamento.

O DJ Tommy Vaudecrane é atualmente o presidente da associação Technopol

A PEW (Paris Electronic Week) é o mais novo filhote da Technopol. Em 2016 o evento comemorou quatro anos e aconteceu na prestigiosa Gaité Lyrique (espaço dedicado às artes digitais em Paris). No início, a PEW era um momento de encontro entre organizadores, associações e representantes do governo francês na intenção de mostrar as necessidades da cena e discuti-las em conjunto, alguns dias antes da grande Techno Parade. Depois, o evento se abriu aos estrangeiros e ao público em geral, começou a reunir figuras importantes da crítica musical mundial, distribuidores, músicos, selos, donos de espaços etc. Em 2016, o evento reuniu cerca de 1.000 pessoas assistindo aos 70 palestrantes, dos quais Tommy se orgulha em ressaltar: 30% são mulheres, esperando que esse número aumente em 2017. É de fato um evento interessantíssimo e, pelo fato de ser dedicado especificamente à música eletrônica e não ter o tamanho mega de uma Womex, dá a oportunidade de belos encontros e contatos. O NU recomenda!

Em 2017 a França celebra a Colômbia (dentro da série de anos culturais que acontecem já há algum tempo), que será o país convidado de honra da Techno Parade – o Brasil já foi homenageado em 2012 – mas o desejo de Tommy é que toda a América do Sul possa estar presente neste evento, quem sabe um trio com DJs brasileiros?

HOLANDA, UM EXEMPLO

Quando pergunto a Tommy sobre suas impressões sobre a atual cena da música eletrônica francesa, os descendentes de Daft Punk, Guetta, Air, ele me diz que acha que o melhor da nova geração está por vir: é uma cena que está em constante crescimento. Atualmente na França, 34% dos jovens entre 18 e 24 anos escuta música eletrônica, ele comenta, esse número faz parte de um estudo do Ministério da Cultura francês realizado em 2016.

Amsterdam tem ótimas oportunidades para DJs de todos os estilos

Muitos jovens DJs, novas casas e festas ousadíssimas tem surgido e, de certa forma, tem aí o dedo da Technopol, que tenta fazer com que a cena esteja viva, que os DJs se formem e tenham onde tocar e com dignidade. Ele sonha numa realidade onde o DJ possa tocar e ser bem remunerado. Ele cita o exemplo da Holanda: “é por isso que lá a música eletrônica funciona tão bem, além de levarem essa música a sério, o país é pequeno, em um dia é possível tocar em três cidades! Essa é uma realidade ideal, poder trabalhar perto de casa para poder também ter o tempo da criação musical durante a semana”, diz.

Tommy dá uma dica para quem quer se lançar como DJ na Europa: “Passar um período na Holanda. Ali as coisas acontecem de forma mais rápida e profissional do que em Berlim (sonho de muitos DJs). Para quem faz techno e minimal, Berlim ainda é o lugar, mas Amsterdam é o point para toda diversidade de música eletrônica. Eles têm muitos festivais, muitas agências boas e selos bons”, ensina. E deixa o convite para que fiquem todos atentos ao site e página da Technopol porque belas oportunidades de cursos e encontros rolam por ali!

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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